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Silvino Olavo |
Argemiro de Figueiredo, político
campinense, havia lhe falado da Colônia “Juliano Moreira” que, sob a
administração de Gonçalves Fernandes, fazia grandes progressos no tratamento da
psiquiatria, surgindo no repórter um desejo de conhecer a tal “casa de
alienados”. Em 1935 este ramo da medicina desenvolvia-se a passos de tartaruga.
Ao chegar naquele edifício,
deparou-se logo com uma figura alta e esguia, ar sarcástico e de fisionomia trágica
– que lembrava Mefistófeles – surgiu no liminar: Era Silvino! Ali, parado, como
se o esperava.
O poeta havia sido internado, após
uma série de crises nervosas, para tratamento; e há cerca de um ano fora
interditado, nomeando-se a esposa Carmélia sua curadora.
O visitante – em artigo para o Diário
de Pernambuco – confessa: “Senti-me profundamente constrangido, dominado por
uma súbita e forte emoção”. Não era mais a figura d’outrora, festejado no
cenário nacional e ovacionado pela crítica literária. Era apenas mais um
interno, com uma rotina desfigurante em meio a pessoa que não entendia a sua
condição.
Raul de Góis, que participara do seu
convívio, e lhe considerava “mestre de uma geração”, certa feita escrevera: “Nem
eu nem os demais admiradores do seu talento poderíamos imaginar naquele tempo
que um destino cruel e sinistro iria marcá-lo para sempre com a mais triste das
desventuras que podem atingir um ser humano”.
As práticas naquele nosocômio há
pouco tinham sido humanizadas. O próprio Silvino tinha autorização para dar os
seus passeios, inclusive saindo do hospital. Estava sempre bem vestido, com
seus ternos de linho irlandês, costurados sob medida. Uma enfermeira estava a
sua disposição. Também recebia a visita de amigos, mas com pouca frequência:
Osias Gomes, diretor do Jornal “A União”, era um deles.
Nessas ocasiões, puxava sempre um
pedaço de papel do bolso, era algum poema ou texto literário que, na ânsia de
voltar aos velhos tempos, entregava aos companheiros. Foi assim com os versos
de exaltação à Bahia, porém alguns lhe discriminavam.
Apenas o cunhado Valdemar, casado com
sua irmã Alice, ousou retirar Silvino daquele lugar, mudando-lhe a sorte,
trazendo-o para residir em Esperança.
Foi assim que o vate passou, o Natal
de ’52, na Fazenda Bela Vista, no convívio com os pais, com quem passou a
residir. Dizem que melhorou bastante, e teria ainda sido o grande prosador, se não
fosse Esperança.
Rau Ferreira
Referências:
- DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Jornal. Ano 110, Nº 253. Recife/PE: 1935.
- GOES, Raul. Mestre de uma geração. Diários Associados.
Paraíba: 1969.
- MAURÍCIO, João de Deus. A Vida Dramática de Silvino Olavo.
Unigraf. João Pessoa/PB: 1992.
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