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SOL: Encontro inusitado

Silvino Olavo
Eudes Barros (1905-1977) foi poeta, jornalista e romancista natural de Alagoa Nova, deste Estado. Com Silvino, Amarílo de Albuquerque, Américo Falcão e Peryllo D’Oliveira formavam o “Grupo dos Novos”, que faziam telúricas na capital parahybana.
Argemiro de Figueiredo, político campinense, havia lhe falado da Colônia “Juliano Moreira” que, sob a administração de Gonçalves Fernandes, fazia grandes progressos no tratamento da psiquiatria, surgindo no repórter um desejo de conhecer a tal “casa de alienados”. Em 1935 este ramo da medicina desenvolvia-se a passos de tartaruga.
Ao chegar naquele edifício, deparou-se logo com uma figura alta e esguia, ar sarcástico e de fisionomia trágica – que lembrava Mefistófeles – surgiu no liminar: Era Silvino! Ali, parado, como se o esperava.
O poeta havia sido internado, após uma série de crises nervosas, para tratamento; e há cerca de um ano fora interditado, nomeando-se a esposa Carmélia sua curadora.
O visitante – em artigo para o Diário de Pernambuco – confessa: “Senti-me profundamente constrangido, dominado por uma súbita e forte emoção”. Não era mais a figura d’outrora, festejado no cenário nacional e ovacionado pela crítica literária. Era apenas mais um interno, com uma rotina desfigurante em meio a pessoa que não entendia a sua condição.
Raul de Góis, que participara do seu convívio, e lhe considerava “mestre de uma geração”, certa feita escrevera: “Nem eu nem os demais admiradores do seu talento poderíamos imaginar naquele tempo que um destino cruel e sinistro iria marcá-lo para sempre com a mais triste das desventuras que podem atingir um ser humano”.
As práticas naquele nosocômio há pouco tinham sido humanizadas. O próprio Silvino tinha autorização para dar os seus passeios, inclusive saindo do hospital. Estava sempre bem vestido, com seus ternos de linho irlandês, costurados sob medida. Uma enfermeira estava a sua disposição. Também recebia a visita de amigos, mas com pouca frequência: Osias Gomes, diretor do Jornal “A União”, era um deles.
Nessas ocasiões, puxava sempre um pedaço de papel do bolso, era algum poema ou texto literário que, na ânsia de voltar aos velhos tempos, entregava aos companheiros. Foi assim com os versos de exaltação à Bahia, porém alguns lhe discriminavam.
Apenas o cunhado Valdemar, casado com sua irmã Alice, ousou retirar Silvino daquele lugar, mudando-lhe a sorte, trazendo-o para residir em Esperança.
Foi assim que o vate passou, o Natal de ’52, na Fazenda Bela Vista, no convívio com os pais, com quem passou a residir. Dizem que melhorou bastante, e teria ainda sido o grande prosador, se não fosse Esperança.

Rau Ferreira

Referências:
- DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Jornal. Ano 110, Nº 253. Recife/PE: 1935.
- GOES, Raul. Mestre de uma geração. Diários Associados. Paraíba: 1969.

- MAURÍCIO, João de Deus. A Vida Dramática de Silvino Olavo. Unigraf. João Pessoa/PB: 1992.

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