Codebro/Anos 60 |
Por volta de 1918 o centro da cidade era iluminado à querosene. Haviam
postes de ferros envidraçados nas esquinas que eram acendidos ao entardecer por
Alfredo Leite, um funcionário da subprefeitura que retornava por volta das 22
horas apagando as chamas.
A energia sempre foi um grande atrativo comercial. A sua força
impulsionava motores e gerava luz elétrica propiciando o funcionamento
prolongado do comércio. Esperança por sua vocação primária há muito necessitava
desta inovação.
A partir daquele ano homens foram contratados para realizar o “posteamento” com madeira de baraúna. Os
postes não eram muito altos, mas o trabalho dos encarregados despertava a
curiosidade das crianças. Tranquilino foi o eletricista responsável por estender
os fios, colocar os isoladores e fazer as ligações domiciliares. Os candelabros
foram substituídos por lâmpadas de tungstênio.
O fornecimento de energia começou a operar no início em 1919. O sistema era
precário, resumindo-se apenas a algumas residências. Porém precedeu à própria
Campina Grande, considerada o empório do sertão, onde a luz elétrica só chegou
em 29 de setembro de 1920, através da firma H. Brito e Cia.
Seis anos depois (1925) José Barreto adquiriu um motor de luz mais
eficiente, capaz de iluminar toda a rua principal. A empresa era particular,
mas contava com uma subvenção da prefeitura para manter os seus gastos. Por
essa época, a luz elétrica já devia chegar a rua da Urtiga conhecida por
concentrar os prostíbulos ou manichula.
Foi na administração de Sebastião Vital Duarte (1940-1944) que veio para
Esperança a Companhia Distribuidora de Eletricidade do Brejo Paraibano/Codebro.
Esta empresa surgida nos anos 20 era turbinada com água do açude do Município de
Borborema, a primeira usina hidroelétrica da Paraíba.
A Codebro ficou responsável pela distribuição de energia na cidade (que
na época se resumia a quatro ou seis ruas). Os usuários adquiriam ações
subscritas ao portador, além de contar com a subvenção ao serviço elétrico municipal.
Na figura ao lado, observa-se a edificação que abrigava aquela concessionária.
A esse respeito, colaciono o depoimento de Joacil Braga Brandão que nos
informa:
“Era um grande prédio, com muro
circundando a frente e a lateral. O escritório de atendimento ao público era
composto de três mesas, ocupadas por minha Tia Joadiva Brandão (Chefe do
Escritório) e a Bebé de Abraão (funcionária e datilógrafa). Havia uma divisória
de madeira separando o escritório da área interna, com uma porta de acesso.
Dentro se encontrava os grupos
geradores de eletricidade. Dois em pleno funcionamento e um de reserva. Eram
imensos e barulhentos. E alguns funcionários na manutenção. Os grupos geradores
eram interligados por canos onde circulava água para a refrigeração. Mais ao
fundo uma enorme cisterna de onde partiam os canos de metal.
Na área externa, no fundo do
prédio, havia vários tanques de cimento cheios de água. Eram interligados por
canos com a cisterna no interior do prédio. No pátio ficavam armazenados
dezenas de tonéis de ferro de combustível”.
Este pequeno ciclo se encerrou com a chegada da energia elétrica
proveniente da Estação de Paulo Afonso/BA, inaugurada no dia 10 de fevereiro de
1958, da sacada da Farmácia “Santos Gondim”.
O fornecimento de energia através de geradores a combustão não mais
atendia aos reclamos municipais, a exigir uma demanda e logística na
distribuição de energia que somente a SAELPA poderia atender. O mesmo não se
pode dizer das instalações da antiga CODEBRO, que durante algum tempo serviu de
escritório de representação.
Naquele terreno existia um poço e uma cisterna que eram abertos ao
público nos períodos de estiagem. Como a cidade sempre apresentou dificuldade
no abastecimento d’água, esta foi uma das soluções adotadas, conforme declara
Joacil: “Na lateral do prédio se
destacava a caixa d'água. Que por diversos momentos de falta de água em
Esperança era utilizada para distribuição à população, que chegava com barris
de madeira em jumentos e carrinhos de mão”.
As pessoas se aglomeravam com carros de mão e carroças à espera do
líquido precioso, que era entregue pela manhã para servir às necessidades
domésticas. Era comum os serviços de carregadores de água nos domicílios, a
ganho de alguns trocados a exemplo de Adauto Pichaco.
A Codebro/Saelpa distribuía aos funcionários cartelas de ingressos tanto
para as festividades da padroeira como para os circos que eram armados nas
proximidades do Campo do América. Assim relembra Joacil: “Tive grandes momentos de brincadeira com amigos da infância no pátio interno
do prédio. Amigos como o Ronaldo Borges, Expedito de Manuel Tambor,
Francisquinho de Sr. Assis Mecânico, Daniel das Bicicletas e Mozart do
Sapateiro. (...) entre os amigos que
frequentava a CODEBRO o Raminho de Gato era o mais brincalhão”.
Anos depois o prédio da antiga Codebro que ficava entre as ruas José
Andrade e Tomaz Rodrigues veio à baixo por falta de reparos e manutenção; o
local depois serviu de depósito para os postes de alvenaria que a Saelpa
reservava para instalação. Quando criança brinquei muito naquele terreno,
tomando cuidado para não cair no velho poço que ainda existia, vizinho a casa
do amigo Janilson Andrade. Este nos conta que o buraco era muito fundo e uma
vez um garoto caiu ali, sendo resgatado por um adulto que passava naquele
momento. Anos mais tarde, a Saelpa construiu a sua sede naquele lugar.
Rau Ferreira
Fontes:
- CULTURA POPULAR, Blog. Disponível em http://culturapopular2.blogspot.com.br/2010/03/os-primeiros-do-estado.html,
acesso em 13/08/2016.
- FERREIRA, Rau. Banaboé
Cariá: Recortes da Historiografia do Município de Esperança. A União.
Esperança/PB: 2016.
- PEREIRA, João
Thomaz. Memórias de uma Infância
Nordestina. Assis/SP: 2000.
Excelente!
ResponderExcluir