Diogo Batista: Grande seresteiro |
- É
ele, é ele, é ele!
- Ele
quem, homem de Deus?
- É Zé
Boneco. Escutem o som do saxofone!
- Tais
delirando, Diogo. Zé Boneco escafedeu-se, tá lá no Rio...
Dia já
amanhecendo e aquele "mói" de gente aguardara transporte para o
regresso à Esperança. Dava para ver a barra da aurora brigando com a escuridão
da madrugada. Era um domingo, a noite do sábado ficará para trás com o enfado
da seresta e bebericagens. Não era fácil encontrar transpor àquele tempo, o
jeito era esperar no breu do tempo. Fazia-se um silêncio melancólico, sem
cantos nem encantos de ave alguma. Nem mesmo os galos se ouvia anunciando
aquele amanhecer que se demorara por chegar, nos conta Vicente Simão, um dos
presentes naquele episódio em terras de Campina Grande. Do nada se vê Diogo
Batista, seresteiro de ouvidos mais que apurados, pedir silêncio como se maior
silêncio fosse possível. Todos estranharam aquela atitude até que Diogo insiste
e, de pronto é atendido, mesmo a contragosto de quem nada entendera. Silêncio
pra quê?!
Zé
Boneco, exímio saxofonista, havia se ausentado de Esperança fazia quase três
décadas. Há muito não se tinha notícias suas. Sabia-se, era fato, que se fora
para o Rio de Janeiro e que lá fizera carreira de músico, tocava nos mais
requintados espaços das noites cariocas. Mas notícia mesmo de onde se instalara
e como vivera, nenhuma. Cartas, telegramas, telefonemas não havia como sinal de
vida. Até mesmo os parentes mais próximos desconheciam algo que se pudesse
indicar paradeiro. Morar no Rio de Janeiro, à época, era como se se estivesse
no Japão, outro lado do mundo. Pau-de-arara era transporte comum e levava dias
intermináveis para se chegar àquele destino, à Guanabara então capital do país.
Mas Zé Boneco morava lá, se sabia.
Então
se fez ainda mais silêncio para contemplar os ouvidos de Diogo. Aquele seu
gesto de mãos ao “pé-da-orelha” era gesto indicativo de algo estranho ocorrera
nas cercanias dali. Diogo foi-se afastando do grupo, chegou ao meio da estrada
que hoje marca o Ponto Cem Réis como limítrofe dos bairros do Alto Branco e
Conceição. Caminhou, parou, escutou! Todos o acompanhavam com olhar de
estranheza extrema até que Diogo despejou seu contentamento que soava como
loucura aos demais: "É ele". Então seguiram o som. A três quadras
dali estava o saxofone soprado com a arte de Zé Boneco.
Incrível,
mas Diogo distinguiu aquele sopro três décadas após ouvi-lo na última serenata.
Carlos
Almeida
Zé Boneco e o seu saxofone dolente! Muitas vezes o ouvimos tocando em bares diversos da cidade, em roda de amigos, os saudosos tangos e boleros! Boa recordação!
ResponderExcluirLindo ver essa homenagem ao meu avô, sou filho primogênito do filho de ze boneco (williams) seu Lula
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