Pular para o conteúdo principal

Sol: O trem de ferro

Episódio interessante envolvendo o nosso poeta aconteceu por ocasião da inauguração do Estádio do América, em Esperança.
Narra Amaury Vasconcelos, prefaciador de “Badiva” (1997), que compareceu a um almoço ofertado por José Ramalho em sua residência ao Governador Pedro Gondim e sua comitiva, quando adentra ao recinto Silvino Olavo no rigor do seu trajar com gestos e palavras altas, e trazendo consigo à mão um papel semirroto e empalidecido com um de seus poemas.
“(...) se bem me lembro era um soneto, intitulado o trem. Que belo tema, da descrição onomatopaica, dos sons da máquina, dos seus silvos estridentes, rompendo nas paralelas e rodas sobre elas, o vento, no zumbido unido ao som agudo dos aços em atrito, repito rodas trilhos. E tudo mais se embelezava, quando seu estro, na velocidade dele imaginosa passageiro, tudo via no rápido da visão, que se extasiava no contemplativo da paisagem, colorida e bela, caleidoscópica, com horizontes que se barravam em montes ciclópicos, rígidos, penedos enegrecidos, por vezes esmaecidos nos verdes pálidos das heras que garimpavam a serra” (Badiva: p. 18).

Não alcançou o poeta, porém, o seu objetivo, pois fora interrompido por um conterrâneo que tomando-lhe aquela folha, deu-lhe outro destino. Era o seu Trem de Ferro, “desfraldando uma bandeira de fumaça, como um bravo guerreiro vencedor”, com que pretendia brindar os convivas do governador. E cuja beleza de versos só pudemos conhecer em 1997.

Rau Ferreira

Referência:
- FERREIRA, Rau. Silvino Olavo. Edições Banabuyé. Esperança/PB: 2010.

- ESPERANÇA, Revista da. Ano I, Nº III. Junho/Agosto. Esperança/PB: 1997.

Comentários

  1. Trem de Ferro

    Um fino apito estrídulo sibila
    Rangem as rodas num arranco perro
    E lentamente, a se arrastar desfila,
    Fumegante e luzente o Trem de Ferro.

    Soa no espaço um derradeiro berro
    E, tão rápido voa que horripila,
    Esse monstro a rolar de serra em serra
    Apavorando a solidão tranqüila.

    Rompe cabanas, matagais tristonhos,
    Despenhadeiros, barrancos medonhos…
    Nada lhe amaina seu rápido furor.

    Corre, corre veloz, nada o embaraça,
    Desfraldando uma bandeira de fumaça
    Como um bravo guerreiro vencedor.

    (Silvino Olavo, Revista da Esperança, pág. 38, 3ª Edição, Ago. 1997)

    ResponderExcluir
  2. Trem de Ferro

    Um fino apito estrídulo sibila
    Rangem as rodas num arranco perro
    E lentamente, a se arrastar desfila,
    Fumegante e luzente o Trem de Ferro.

    Soa no espaço um derradeiro berro
    E, tão rápido voa que horripila,
    Esse monstro a rolar de serra em serra
    Apavorando a solidão tranqüila.

    Rompe cabanas, matagais tristonhos,
    Despenhadeiros, barrancos medonhos…
    Nada lhe amaina seu rápido furor.

    Corre, corre veloz, nada o embaraça,
    Desfraldando uma bandeira de fumaça
    Como um bravo guerreiro vencedor.

    (Silvino Olavo, Revista da Esperança, pág. 38, 3ª Edição, Ago. 1997)

    ResponderExcluir
  3. Belo Soneto!uma inspiração a nível de Silvino:"Um poeta nato!"

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

A Exposição de Helle Bessa

  Por Ângelo Emílio da Silva Pessoa*   Nessa Quinta-feira (12/06/25), na Galeria Lavandeira (CCTA-UFPB), tive a honra e o prazer de comparecer à abertura da Exposição "Impressões Contra o Fim", da artista plástica Helle Henriques Bessa (1926-2013), natural de Esperança (PB) e que tornou-se Freira Franciscana de Dillingen, com o nome de Irmã Margarida. Durante anos foi professora de artes nos Colégios Santa Rita (Areia) e João XXIII (João Pessoa). Helle Bessa era prima da minha mãe Violeta Pessoa e por décadas convivemos com aquela prima dotada de uma simpatia contagiante. Todos sabiam de seu talento e que ela havia participado de exposições internacionais, mas sua discrição e modéstia talvez tenham feito com que sua arte não tenha ganho todo o reconhecimento que merecia em vida. Anos após seu falecimento, as Freiras Franciscanas doaram seu acervo para a UFPB e foi possível avaliar melhor a dimensão de seu talento. As falas na abertura destacaram seu talento, versatilida...

Sitio Banaboé (1764)

  Um dos manuscritos mais antigos de que disponho é um recibo que data de 1º de abril do ano de 1764. A escrita já gasta pelo tempo foi decifrada pelo historiador Ismaell Bento, que utilizando-se do seu conhecimento em paleografia, concluiu que se trata do de pagamento realizado em uma partilha de inventário. Refere-se a quantia de 92 mil réis, advinda do inventário de Pedro Inácio de Alcantara, sendo inventariante Francisca Maria de Jesus. A devedora, Sra. Rosa Maria da Cunha, quita o débito com o genro João da Rocha Pinto, tendo sido escrito por Francisco Ribeiro de Melo. As razões eram claras: “por eu não poder escrever”. O instrumento tem por testemunhas Alexo Gonçalves da Cunha, Leandro Soares da Conceição e Mathias Cardoso de Melo. Nos autos consta que “A parte de terras no sítio Banabuiê foi herdade do seu avô [...], avaliado em 37$735” é dito ainda que “João da Rocha Pinto assumiu a tutoria dos menores”. Registra-se, ainda, a presença de alguns escravizados que vi...

Renato Rocha: um grande artista

  Foto: União 05/12/2001 “A presença de autoridades, políticos e convidados marcou a abertura da exposição do artista plástico Renato Rocha, ocorrida no último final de semana, na Biblioteca Pública Dr. Silvino Olavo, na cidade de Esperança, Brejo paraibano. A primeira exposição de Renato Ribeiro marca o início da carreira do artista plástico de apenas 15 anos. Foram expostas 14 telas em óleo sobre tela, que também serão mostradas no shopping Iguatemi, CEF e Teatro Municipal de Campina Grande já agendadas para os próximos dias. A exposição individual teve o apoio da Prefeitura Municipal de Esperança através da Secretaria de Educação e Cultura, bem como da escritora Aparecida Pinto que projetou Renato Rocha no cenário artístico do Estado. Durante a abertura da Exposição em Esperança, o artista falou de sua emoção em ver os seus trabalhos sendo divulgados, já que desenha desde os nove anos de idade (...). A partir deste (...) Renato Ribeiro espera dar novos rumos aos seus projeto...

Padre Zé: cidadão pessoense

  O Monsenhor José da Silva Coutinho – Padre Zé – nasceu em Esperança, nesse Estado da Paraíba, tendo dedicado a sua vida em benefício de seus semelhantes da capital paraibana, em que pese o seu campo social não se limite aquela cidade, pois há notícias de sua atuação de Cabedelo a Cajazeiras, nos confins do sertão tabajara. Nasceu na rua do Sertão, hoje Solon de Lucena, aos 18 de março de 1897, quando o município era uma povoação. Filho do casal Júlio da Silva Coutinho e Eusébia de Carvalho Coutinho. Iniciou os estudos primários no Colégio Diocesano Pio X na capital, quando aquele educandário funcionava como anexo ao Seminário Arquidiocesano, depois matriculou-se no Colégio N. S. das Neves, naquela mesma cidade, quando ainda havia uma seção para estudantes do sexo masculino; depois retornou para o Pio X para fazer o curso secundário. Os tios Dom Santino e Monsenhor Odilon Coutinho foram muito importantes neste início de sua educação. Prosseguiu seus estudos superiores no S...