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De Banabuyu à Esperança.



Narra a história que Esperança foi habitada em eras primitivas pelos Índios Cariris nas proximidades do Tanque do Araçá.

Sua colonização teve início com a chegada do português Marinheiro Barbosa que se instalou em torno daquele reservatório.

Tempos depois, fixaram residência os irmãos portugueses Antônio, Laureano e Francisco Diniz, os quais construíram três casas no local onde hoje se verifica a Avenida Manoel Rodrigues de Oliveira.

Não se sabe ao certo a origem da sua denominação. Mas Esperança outrora pertenceu ao município de Alagoa Nova e fora chamada de Banabuyé, Boa Esperança (1872) e Esperança (1908).

Segundo Leon Francisco R. Clerot, citado por João de Deus Maurício, em seu livro “A Vida Dramática de Silvino Olavo”, Banabuyé é um “nome de origem indígena, PANA-BEBUI – borboletas fervilhando, dados aos lugares arenosos, e as borboletas ali acodem, para beber água”.

Narra a história que o nome Banabuyé, “pasta verde”, numa melhor tradução do tupi-guarani, teria sido mudado para o topônimo de Esperança por Frei Herculano, devido ao simbolismo que esta representa. Banabuyu na língua Tupi significa Brejo ou Pantanal das Borboletas.

Uma outra versão, porém, é atribuída ao Padre Ibiapina. Conta-se que este clérigo teria nomeado algumas cidades da região, segundo as três virtudes teologais: Fé (Santa Fé, atual município de Arara), Caridade (Soledade ou Pocinhos, não se sabe ao certo), e, para Banabuyé o de Esperança.

Esta narrativa guarda um certo sentido devido a grande influência exercida por este vigário em nossa região. Ele mesmo teria fundado o cemitério local em 1862, motivado pelo surto de Cólera Mórbidos.

O fato é que até 1860 não existiam cemitérios na região. Os ricos eram sepultados nas Igrejas, enquanto os pobres eram enterrados nos campos. Segundo documentos históricos, Pe. Ibiapina teria resolvido o problema construindo os cemitérios de Arara, Pocinhos e Alagoa Nova; e se supõe que ele teria edificado também o de Esperança.

Já o ano de 1862 marca a fundação da Capela de Nossa Senhora do Bom Conselho, onde hoje é a Igreja matriz, por orientação do Frei Venâncio, primeiro missionário a chegar nestas terras e a celebrar missa. Segundo a tradição, a devoção à Mãe do Bom Conselho no Brasil teria se iniciado em 1785, pelas mãos do padre jesuíta José de Campos Lara.

O historiador José Henriques da Rocha, ao escrever sobre o tema, fez a seguinte menção:

Para nós esperancenses foi uma dádiva de Deus termos recebido das mãos de nossos colonizadores no Século XVIII a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho para ser a nossa padroeira e protetora de nossa terra e da nossa paróquia, sendo consagrado o dia 26 de abril às suas festividades religiosas”.

Além do nosso pequeno torrão, a cidade de Princesa Izabel, no alto sertão paraibano, segue igualmente a devoção a Virgem do Bom Conselho.

Em 20 de maio de 1908, criou-se a freguesia de Esperança, no comando do Padre Francisco Gonçalves de Almeida, seu primeiro pároco, cujos sucessores foram: Pe. José Vital Ribeiro (1913-1922); Pe. José Borges de Carvalho (1922-1929); Pe. Álvaro Gabínio (1929-1932); Pe. Francisco Severiano (1932-1936) e João Honorato (1936-1951).

Fazendo parte da história da nossa paróquia temos ainda o saudoso Pe. Manuel Palmeira da Rocha, Frei Antonio, Pe. Ribamar, e os padres Francisco e Bernardo, que dirigiram conjuntamente os trabalhos paroquiais.

Mais recentemente, tomaram assento na cadeira de pastor da igreja católica de Esperança os Padres: José de Assis Pereira (1996-2000) e Damião Ferreira da Silva, este último falecido a 04 de outubro de 2004, na cidade de São Paulo (SP), em razão de complicações hepáticas, assumindo em seu lugar o Pe. José Alexandre Moreira de Macêdo.

O Frei Damião de Bozano celebrou missa campal, no pátio da Matriz, quando de sua passagem por esta cidade, nos idos de 1978.

A agência dos Correios e Telégrafos de Esperança foi instalada em 1885. O primeiro foi Antônio Albuquerque Lima.

O patrimônio histórico mais bem conservado é a “Vila Santa Maria”, que pertenceu a família Benevenuto Maceió antes de 1900. Hoje, pertencente aos familiares do historiador João de Deus Melo, que ainda guarda algumas relíquias: um relógio e um cofre antigo, um santuário de madeira com algumas imagens, uma máquina de datilografia alemã e o livro “Os Jesuítas perante a história” editado em 1860.

O levante em prol da emancipação política do município aconteceu em maio de 1925. Esse movimento ganhou força no inflamado discurso de Silvino Olavo que declamara: “Esperança – Lírio Verde da Borborema”.

A ideia foi ganhando novos adeptos, entre eles o Coronel Elísio Sobreira – Chefe de Polícia do Estado – e o Deputado Antônio Guedes, que apresentou o Projeto de Lei nº 13 que criava a cidade de Esperança.

Após terceira discussão em plenário, o projeto foi votado e aprovado e, no dia 5 de dezembro de 1925 era publicada no jornal “A União” a Lei nº 624, dando assim origem ao Município de Esperança, que se instalou no dia 31 daquele mês e ano.

Assumiram o governo mirim Manuel Rodrigues de Oliveira na condição de Prefeito, e Teotônio Tertuliano da Costa, na cargo de Vice-Prefeito, prestando compromisso no Paço Municipal junto ao Dr. João Marinho da Silva, Juiz do Termo.

A primeira Câmara Municipal era constituída pelos seguintes vereadores: Manoel Pessoa de Melo Leitão, José da Cunha Neto, José de Araújo Souto, Francisco Rodrigues da Silva, Anísio Evangelista dos Santos, José Carolino Delgado e Cassimiro Jesuíno de Lima. Muito embora, oficialmente, só se tenha constituído em 31 de outubro de 1947.

Após as eleições de 12 de outubro de 1947, tomaram posse: Francisco Bezerra da Silva (Presidente), Manoel Rodrigues de Oliveira (Vice-presidente), sendo Severino de Alcântara Torres e Manuel Luis Pereira 1º e 2º Secretários, respectivamente. O Legislativo-mirim daquele ano também foi composto pelos seguintes Vereadores: Eustáquio Luiz de Aquino, Severino Felix da Costa e José Ferino dos Santos.

A primeira sessão ordinária dessa gestão ocorreu em 5 de dezembro de 1947, no pavimento superior do edifício nº 02, da Rua Senador Epitácio Pessoa (Rua do Boi), porque o então Prefeito Municipal não cedeu o prédio da Biblioteca Pública para a sede da Câmara. Consta em ata que o chefe do executivo municipal escolheu os fundos da Prefeitura para o funcionamento da Câmara, o que foi considerado inconveniente pelos vereadores.

Segundo uma antiga publicação do site virgulino.com (do jornalista Jacinto Barbosa) foi na administração do prefeito Manoel Rodrigues que se instalou um motor a óleo para produzir energia elétrica durante o governo de João Suassuna.

Na gestão de Sebastião Vital Duarte (1940-1944) veio para Esperança a CODEBRO, que ficou responsável pelo fornecimento de energia local, embora ainda precário. O sistema elétrico de Paulo Afonso-BA somente foi inaugurado em 1958, cuja solenidade pode ser vista da sacada da farmácia de Santos Gondim, passando a iluminação pública a ser mais regular e a abranger outros pontos da cidade.

Em sessão extraordinária, realizada no dia 12 de junho de 1964, o vereador Dogival Costa, no comando daquela Casa Legislativa, apresentou e aprovou uma moção de aplausos ao Sr. Prefeito Luiz Martins de Oliveira, “pela benfeitoria a esta cidade e ao povo em geral, por motivo de iluminação de luz à base de mercúrio”, que constou da ata dos trabalhos daquela casa e formalizado no Ofício nº 140.

A organização judiciária acompanhou o desenvolvimento municipal. “O segundo Juizado de Paz da Povoação de Esperança foi criado em 1896, e pertencia ao Juizado de Alagoa Nova, da Comarca de Areia, tendo como primeiro Juiz Thomaz Rodrigues de Oliveira, e Escrivão, o Sr. José Pereira Brandão, conhecido por ‘Santos Cacheiro’, que exerceu o cargo até 1913” (Livro do Município de Esperança. Ed. Unigraf: 1985, pg. 41).

O Termo Judiciário de Esperança foi criado em 31 de dezembro de 1925, agregado à Comarca de Areia, sendo João Marinho da Silva o primeiro Juiz Municipal, e Teotônio Cerqueira Rocha o Adjunto de Promotor.

Na suplência do Juízo Municipal, em 20 de abril de 1926, foram empossados: Francisco Protássio de Oliveira, 2o Suplente, e Francisco Gesuíno de Lima, 3o Suplente. E aos 13 dias do mês de março, tomaram posse nos cargos de Distribuidor e Partidor, respectivamente, José Irineu Diniz, vulgo “Zezé Cambeba”, e Antônio Francisco Diniz, o “Totonho Cambeba”. No cargo de Oficial de Justiça, assumiu o Sr. João Gonçalves de Lima.

Inácio Rodrigues de Oliveira prestou compromisso na função de Delegado de Polícia, em 20 de janeiro de 1926. Nesse mesmo ano foi inaugurada a Cadeia Pública local.

Eis, em poucas linhas um pouco da nossa história. O resto fica pra depois.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- ESPERANÇA, Livro do Município de. Projeto Gincana Cultural/83 – “Descubra a Paraíba” – Coleção Livros dos Municípios 006/171. Esperança/PB Ed. Unigraf: 1985.

- ROCHA, José Henriques da. Comentários sobre Nossa Senhora do Bom Conselho. Texto copilado. Esperança/PB: 2008.

- Virgolino.com. Site. Disponível em: <http://www.virgulino.com/>;

- Wikipédia: Esperança. Disponível em: <http//pt.wikipedia.org>.


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