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Furna do Caboclo (1881)

O Bibliotecário Benjamin Franklim Ramiz Galvão (1846/1938) – Barão de Ramiz – dirigente da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro organizou no ano de 1881, um compêndio com a descrição de várias localidades brasileiras, recolhendo aspectos de sua história e topografia.
Naquele ano, a Câmara Municipal de Brejo d’Areia recebera um ofício com um questionário incluso ao qual deveria responder prestando as informações necessárias. Na época, a resposta foi fornecida pelo Sr. Francisco José d’Oliveira, através de expediente datado de 25 de abril de 1881.
Neste documento, encontramos uma importante descrição da “Furna do Caboclo Bravo”, que passamos a transcrever ipsi litteris:

Curiosidades naturaes – No lado sul da serra do Algudão há uma gruta de forma irregular com o tecto formado pela rocha, de altura variável entre 10 e 15 palmos, tendo de 16 a 20 palmos de largura, bem esclarecida pela luz que entra pela grande abertura da serra, e na qual encontra-se porção de ossada humana enterrada em areia finíssima, que parece ter sido transportada para aquelle lugar pelos indígenas. Ali não penetra a chuva porque a coberta representa na cupola de uma só pedra. Dentro da gruta há primitivas e caracteres feitos com tinta encarnada. Os primeiros visitantes, haverá 8 ou 10 annos, encontraram esteirinhas, já apodrecidas, pequenas cruzes de ossos e algumas varinhas com numerosos riscos de tinta encarnada, e outros objectos que bem revelam que aquella gruta era destinada a deposito dos cadáveres de alguma das tribus que habitaram nos campos do Curimataú, ornado de serras de interessante aspecto.
Para chegar-se a essa gruta há duas entradas de difícil acesso; uma pelo lado do norte, sendo preciso descer por uma enorme pedra inclinada tendo em baixo um grande abysmo e uma espécie de degrao, da qual dando-se um passo a esquerda, piza-se na gruta, e um passo a frente importará tombar-se no abysmo; a outra entrada pelo lado do sul exige que o visitante se ponha a cavalleiro escarrapanhado sobre um lagêdo em uma grande altura, onde é impossível soster-se em pé por causa da disposição e forma da rocha e sobre tudo pela impetuosa ventania que constantemente reina naquelle lugar.
Essa serra, bem como todas as existentes no Curimataú, encerra muitas curiosidades e é extensa; em uma das extremidades da mesma encontram-se pinturas e caracteres de tinta encarnada” (Anais BN: 1991, p. 184).

Nesse mesmo documento há uma referência à povoação de  Banabuyé, do Município de Alagoa Nova, onde nasce o Riachão que, correndo de poente a nascente, serve de limite “entre os Municípios daquella vila e da cidade, vai, transpondo a serra atirar-se no Mamanguape no Município de Alagoa Grande”.

De fato, desde os idos de 1860 formara-se aqui uma fazenda (Banabuyé Cariá), de onde provém uma feira semanal e aglomeração de pessoas, fazendo surgir a povoação que foi elevada à condição de freguesia de N. S. do Bom Conselho em 1908.

Rau Ferreira

Referência:
- BIBLIOTECA NACIONAL, Anais da. Vol. 111, Ano 1991. ISSN 0100-1922. Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro/RJ: 1993.
- BIBLIOTECA NACIONAL, Anais da. Vol. XL, Ano 1918. Officinas Graphicas da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro/RJ: 1923.
- ESPERANÇA, Livro do Município de. Ed. Unigraf. Esperança/PB: 1985.


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