Jailson Andrade é comerciante em Esperança,
estabelecido no ramo das guloseimas. Sua loja, próximo da feira, é uma das mais
frequentadas. Mas quem o vê no seu comércio não desconfia que também é um
escritor apaixonado pela história.
Sim, em suas horas vagas Jailson escreve suas
memórias e causos – e diga-se de passagem, com muita propriedade!
Entre seus escritos está “Família Andrade:
Um século de lutas, conquistas e vitórias” (foto) e o mais recente “Prá
quem nasceu antes de 1970”, publicado no “Andrade Notícias”.
Aos poucos vão aparecendo as obras deste
autor-comerciante que tem muito para nos contar sobre os seus tempos de
mocidade, sua geração e a cidade de Esperança.
Por ora, reproduzimos aqui o belíssimo texto de
Jailson Andrade da forma que foi divulgado:
Rau Ferreira
(Leia mais!)
Toda uma geração andou descalça, bebeu água de
torneira e jogou bola na rua. Sem videogame, sem computador, sem internet...
Em contrapartida, faz muitos amigos, e cultiva
uma vida cheia de invenções, de soluções, de criatividade.
É DIFÍCIL ACREDITAR QUE ESTEJAMOS VIVOS!
Quando éramos pequenos, viajávamos de carro sem
cintos de segurança e sem ABS! Os vidros de remédios ou refrigerantes não
tinham nenhum tipo de tampinha especial, nem data de validade... A gente bebia
água da chuva, da torneira e nem conhecia água engarrafada! A gente andava de
bicicleta sem usar nenhum tipo de proteção. Passávamos nossas tardes
construindo nossas pipas ou nossos carrinhos de rolimã. A gente se jogava nas
ladeiras e esquecia que não tinha freios até darmos de cara com uma árvore.
Nas férias, saíamos de manhã e brincávamos o dia
todo; nossos pais não sabiam onde estávamos, mas sabiam que não estávamos em
perigo. Quer dizer, de vez em quando até aparecíamos com alguns machucados,
ossos quebrados e dentes moles dos tombos! Você lembra das janelas quebradas,
dos jardins destruídos, das bolas que caíam no terreno do vizinho?
Também comíamos doce e muito pão com manteiga...
Mas ninguém era obeso, no máximo, um gordinho saudável. Não tinha esse papo de
colesterol. Não existia o PLAYSTATION, nem a Nintendo, não tinha TV a cabo, nem
videocassete, DVD, nem computador, nem internet. Tínhamos simplesmente amigos!
A gente andava de bicicleta ou a pé. Íamos à casa
de amigos, tocávamos a campainha, entrávamos e conversávamos. Inventávamos
jogos com pedras, feijões ou cartas... Brincávamos com pequenos monstros:
lesmas, caramujos e outros animaizinhos. Tomávamos um xarope contra vermes e
outros monstros destruidores e prontos.
E a escola? As professoras eram tão bravas não
davam moleza! Os maiores problemas na escola eram: chegar atrasado, mastigar
chicletes na classe, mandar bilhetinhos falando mal da professora, correr
demais no recreio ou matar aula. As nossas iniciativas eram “nossas”, e as
consequências também! Ninguém se escondia atrás do outro. Os nossos pais
ficavam sempre do lado da lei quando transgredíamos as regras e ainda nos
colocavam de castigo e a gente sofria a punição quietinho.
Sabíamos que quando os pais diziam NÃO, era NÃO.
A gente ganhava brinquedos no Natal ou no aniversário, não todas as vezes que
íamos ao supermercado... Nossos pais nos davam brinquedos por amor, nunca por
culpa.
Por incrível que pareça, nossas vidas não se
arruinaram porque não ganhamos tudo que queríamos. Essa geração produziu muitos
inventores, artistas, amantes de riscos, ótimos “solucionadores” de problemas.
Nos últimos 50 anos, houve uma desmedida explosão de inovações, tendências.
Tínhamos liberdade, sucessos, algumas vezes problemas e desilusões, mas
tínhamos muita responsabilidade... E não é que aprendemos a fazer tudo?
Sozinhos... Dizem que a criança é o pai do adulto... Se você é um desses
sobreviventes... PARABÉNS!
Jailson de Andrade
Fonte:
-
andradenoticias.blogspot.com,
acesso em 24/07/2010;
-
Foto: “Família Andrade: Um século de lutas,
conquistas e vitórias”, por Jailson Andrade.
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