Padre Zé Coutinho |
A Paraíba dos anos 60 vivenciou um momento político conturbado,
com a derrocada de muitos líderes. A ascensão de Jânio Quadros à presidência
motivava as massas pela busca dos direitos sociais.
Na berlinda estava o governador Pedro Moreno Gondim, fundador do
PSD que assumira a capitania do Estado após o afastamento de Flávio Ribeiro
Coutinho, por questões de saúde.
Assuntos como a liga camponesa, reforma agrária, sucessão política
e manutenção da ordem geral estavam na pauta. Se ainda não bastasse, havia
boatos acerca de uma tentativa de homicídio de que poderia ser vítima o
governante, que à época fora atribuída aos pessedistas.
Nesse contexto, escreve o Padre Zé carta ao então deputado Vital
do Rêgo:
“Prezado amigo deputado Vital do Rêgo:
Paz em Jesus!
De início, quero lhe agradecer as
múltiplas atenções, que tem tido para comigo, inclusive os constantes elogios,
à minha humilde pessoa.
Peço-lhe, agora, licença para
retificar, um trecho do discurso proferido na Assembléia, pelo prezado amigo,
quarta-feira passada.
Há poucos dias, eu vinha subindo, no
meu palanquim, quando encontrei defronte ao prédio dos Correios e Telégrafos,
nosso comum amigo, governador eleito Pedro Gondim, que vinha dirigindo,
sozinho, o seu automóvel.
Parou e conversamos um pouco.
Perguntou-me pela ‘Kombi’, tendo eu
informado que ela estava trabalhando para os pobres, em vários transportes –
voltas de senhoras da Maternidade, para suas humildes residência, mudança de
moça paralítica, transporte de um pobre acamado, com grande antrás, de Vársea
Nova, etc.
Perguntei por sua saúde, desejei
felicidades à sua pessoa e cada um de nós seguiu, logo depois o seu destino.
No dia em que os socialistas
ofereceram em Tambaú, um jantar, com a velha camaradagem que possuímos, como
primos e amigos, disse-lhe: - proíbo-lhe terminantemente, andar sozinho de
automóvel, porque é perigos querendo eu dizer, com isto, que o carro poderia
encrencar, haver qualquer acidente, encontro com outro veículo ou coisa que o
valha.
Quis dizer também: - quem é eleito,
numa áurea de extraordinária simpática como o nosso sr. Pedro, no guidão de um
automóvel, ou bem presta atenção à direção ou bem retribui os cumprimentos,
sendo perigoso fazer as duas coisas, ao mesmo tempo.
Não tive, porém idéia de previní-lo
contra qualquer atentado, pois de nada sabia nem sei neste sentido, não
valendo, ao meu ver, coisa alguma, a boataria, que surgiu, porque em tempo de
política, como de guerra, mentira que só terra.
E, com franqueza, não julgo nossa
Paraíba democrática com um ambiente propício, para absurdo desta natureza.
E, por ventura, tivesse qualquer
notícia a respeito além do sr. Pedro, para que se precavesse, falando bem
claro, citando nomes, datas e locais, a primeira pessoa que avisaria, seria o
governador José Fernandes a quem a Paraíba respeita, como um homem de bem, a
toda prova, juntamente com seus dignos irmãos, incapazes de qualquer atitude
menos correta.
Pedindo-lhe licença, para publicar
esta carta, porque o assunto nele tratado envolve altos interesses da
coletividade, subscrevo-me sinceramente,
Servo em Cristo”.
Nascido em Esperança, aos 18 de novembro de 1897, o Monsenhor José
da Silva Coutinho foi benemérito da ação social em nosso Estado. Fundador do
Instituto São José, e do hospital que leva seu nome, ambas as instituições de
ajuda aos necessitados; e ainda d’O Lábaro e Orquestra Regina Pacis. Era músico,
escritor e professor, recebendo título de cidadão em mais de 40 municípios
paraibanos.
Rau Ferreira
Referência:
-
LAUTRIV MITELOB, Boletim Virtual. Magazine cultural de Esperança dedicado à
arte, cultura e história. Edição N° 006, em 13 de agosto de 2013. Disponível
em: < http://pt.calameo.com/read/001236606f671d84d0772>, acesso em 11/09/2013.
- DIÁRIO CARIOCA, Jornal. Ano XXXIII, Nº. 9.928. Edição de 8 de
novembro. Rio de Janeiro/RJ: 1960.
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