Pular para o conteúdo principal

Esperança: Ciclo da batatinha

Esperança foi um dos grandes produtores de batatinha inglesa [Solanum Tuberosum] do país. Esta leguminosa enriqueceu muitos agricultores no passado e foi, por assim dizer, o carro chefe da nossa exportação agrícola.
O seu ciclo na região começou em 1906, quando Delfino Gonçalves de Almeida trouxe algumas sementes de São Paulo para o Engenho Pedra D’água em Alagoa Nova. E que depois foram semeadas em Esperança por Inácio Barbosa em 1910, nas proximidades de Areial.
Contudo, a SUDENE nos dá outra versão. Segundo o órgão: “Essa cultura foi introduzida na cidade de Esperança em 1916, por Plácido Santiago, em uma localidade chamada Sítio Pintado, onde hoje se ergue o Ginásio local, dali se irradiando para as cidades vizinhas” (Boletim de Pesquisa: 1967, p. 221).
O maior atrativo desta cultura foram os preços alcançados, que expressavam enorme lucratividade e encontraram nestas terras solo, umidade e temperatura propícias ao seu cultivo. A maioria dos agricultores passou a plantar esta espécie de tubérculo o que a tornou “nobre” no município.
No ano de 1919 produzimos 2000 quilos. E em 1935 o jornal “A União” noticiava na sua primeira página o crescente aumento do “plantio dos municípios de Esperança e Alagoa Nova, onde mais se faz sentir a ação benéfica das cooperativas”.
Em 1941 o município exportou 30 toneladas de batatinha. O maior produtor da época - Sr. José Waldez do Nascimento [Zuza Valdez] - foi considerado o homem mais rico da região.
Por essa razão o Governo Estadual criou o Campo Experimental de Cultivo da Batatinha (1931), seguida pela Cooperativa de Crédito e Beneficiamento de Batatinha dos irmãos Joaquim e Heleno Virgolino da Silva (1934), cuja sede viria a ser inaugurada na rua Campo Santo [atual rua Joaquim Virgolino] em 1934.
A esse respeito veja a publicação oficial do governo:
Como se sabe, o município de Esperança é hoje grande centro produtor de batatinha, a qual rivaliza com a melhor espécie de origem estrangeira, e, por isso, vem tendo toda a aceitação nos mercados do País” (Boletim do Ministério da Agricultura: 1943, p.92).

Durante muitos anos o problema foi a estocagem do produto, que só veio a ser resolvido em 1979 com a instalação do frigorífico da CIBRAZEM local, com capacidade para 1000 toneladas de batata-semente.
Um ano depois, em 1980, foi criada a Associação dos Produtores de Batatinha do Estado da Paraíba – APROBAPA, sediada em Esperança na saída para Areial próximo ao frigorífico da Cibrazem, que permitia apoio técnico especializado aos agricultores.
Os principais produtores de batatinha no município foram: Antonio Amâncio, Cícero Amâncio, Severino Joca, João Virgínio da Silva, Antonio Amaro da Costa Ramos, Manoel da Costa Ramos e João Clementino. Já os grandes revendedores foram os Srs. Aluísio e Goteira.
Os regimes de secas aliados aos baixos preços e a ocorrência de pragas diminuíram o seu plantio, que em 1984 ficou reduzido a 24% do solo (330 ha). E em 1996 foram plantados 500 hectares, resultando numa boa produção.
Com o seu declínio, muitos agricultores foram obrigados a investir nas roças de feijão e milho, perdendo a batata um pouco de sua importância.
A cidade também se destacou em outros tempos pelos cultivos do algodão e agave.

Rau Ferreira

Referências:
- Anuário da Paraíba, Volumes 1-3. Ed. Imp. Oficial: 1934, p. 33;
- Pesquisa de produção e comercialização agrícola, Sudene. Volume 2. Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. Divisão de Abastecimento e Financiamento da Produção. Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio. Editora Impr. Oficial: 1967, p. 221/222;
- LIMA, Areobaldo E. de Oliveira. A imigração japonesa para o estado da Paraíba do Norte. Editora Empresa Gráfica Revista dos Tribunais: 1936, p. 86;
- Associação Brasileira de Engenharia Sanitária. Anais, Volumes 2-3. Impressa Oficial: 1993, p. 247/295;
- Batatinha: resumos informativos. Volume 7. EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Unidade de Execução de Pesquisa de Âmbito Estadual. 1978, p. 129;
- Boletim Informativo do Ministério da Agricultura. Volume 32, Edições 5-8. Ministério da Agricultura. Imp. Oficial: 1943, p. 92/93;
- Livro do Município de Esperança. Ed. Unigraf: 1985, p. 77/79;
- MEDEIROS, Coriolando de. Dictionário Corográfico do Estado da Paraíba. 2ª ed. Instituto Nacional do Livro. Ministério da Educação e Saúde Pública. Departamento de Imprensa Nacional: 1950, p. 92;
- Esperança: Diagnóstico Sócio-Econômico, SEBRAE/PB: 1997, p. 18;
- Jornal “A União”, Órgão do Governo do Estado da Paraíba. Edição de 03 de abril de 1919;
- Jornal “A União”, Órgão do Governo do Estado da Paraíba. Edição de 04 de julho de 1935;
- Jornal “A União”, Órgão do Governo do Estado da Paraíba. Edição de 28 de julho de 1935;

- Revista Veja, Edições 539-551. Editora Abril: 1979, p. 83.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Pedra do Caboclo Bravo

Há quatro quilômetros do município de Algodão de Jandaira, na extrema da cidade de Esperança, encontra-se uma formação rochosa conhecida como “ Pedra ou Furna do Caboclo ” que guarda resquícios de uma civilização extinta. A afloração de laminas de arenito chega a medir 80 metros. E n o seu alto encontra-se uma gruta em formato retangular que tem sido objeto de pesquisas por anos a fio. Para se chegar ao lugar é preciso escalar um espigão de serra de difícil acesso, caminhar pelas escarpas da pedra quase a prumo até o limiar da entrada. A gruta mede aproximadamente 12 metros de largura por quatro de altura e abaixo do seu nível há um segundo pavimento onde se vê um vasto salão forrado por um areal de pequenos grãos claros. A história narra que alguns índios foram acuados por capitães do mato para o local onde haveriam sucumbido de fome e sede. A s várias camadas de areia fina separada por capas mais grossas cobriam ossadas humanas, revelando que ali fora um antigo cemitério dos pr...

Ruas tradicionais de Esperança-PB

Silvino Olavo escreveu que Esperança tinha um “ beiral de casas brancas e baixinhas ” (Retorno: Cysne, 1924). Naquela época, a cidade se resumia a poucas ruas em torno do “ largo da matriz ”. Algumas delas, por tradição, ainda conservam seus nomes populares que o tempo não consegue apagar , saiba quais. A sabedoria popular batizou algumas ruas da nossa cidade e muitos dos nomes tem uma razão de ser. A título de curiosidade citemos: Rua do Sertão : rua Dr. Solon de Lucena, era o caminho para o Sertão. Rua Nova: rua Presidente João Pessoa, porque era mais nova que a Solon de Lucena. Rua do Boi: rua Senador Epitácio Pessoa, por ela passavam as boiadas para o brejo. Rua de Areia: rua Antenor Navarro, era caminho para a cidade de Areia. Rua Chã da Bala : Avenida Manuel Rodrigues de Oliveira, ali se registrou um grande tiroteio. Rua de Baixo : rua Silvino Olavo da Costa, por ter casas baixas, onde a residência de nº 60 ainda resiste ao tempo. Rua da Lagoa : rua Joaquim Santigao, devido ao...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

Genealogia da família DUARTE, por Graça Meira

  Os nomes dos meus tios avôs maternos, irmãos do meu avô, Manuel Vital Duarte, pai de minha mãe, Maria Duarte Meira. Minha irmã, Magna Celi, morava com os nossos avós maternos em Campina Grande, Manuel Vital Duarte e Porfiria Jesuíno de Lima. O nosso avô, Manuel Vital Duarte dizia pra Magna Celi que tinha 12 irmãos e que desses, apenas três foram mulheres, sendo que duas morreram ainda jovens. Eu e minha irmã, Magna discorríamos sempre sobre os nomes dos nossos tios avôs, que vou colocar aqui como sendo a expressão da verdade, alguns dos quais cheguei eu a conhecer, e outras pessoas de Esperança também. Manuel Vital e Porfiria Jesuíno de Lima moravam em Campina Grande. Eu os conheci demais. Dei muito cafuné na careca do meu avô, e choramos sua morte em 05 de novembro de 1961, aos 72 anos. Vovó Porfiria faleceu em 24 de novembro de 1979, com 93 anos. Era 3 anos mais velha que o meu avô. Nomes dos doze irmãos do meu avô materno, Manuel Vital Duarte, meus tios avôs, e algum...

Casa antiga no Sítio Lagedão

Adiilson Cordeiro em seu canal no Youtube nos apresenta uma casa antiga no Sítio Lagedão, no município de Esperança. Ela seria uma das mais antigas da zona rural. A morada teria sido usada pelo Capitão Antônio Silvino em suas andanças pela região, na época em que os cangaceiros visitavam a nossa Banabuyé. O pé direito da casa tem quase quatro metros. A madeira usada na construção foi o cedro, talvez cortada do próprio matagal que existia na propriedade. Também possui um “caritó” onde se colocavam a luz de gás. No canto superior havia uma janela no alto com uma mureta, que servia para vigília. Diz-se que os “cabras” do “Rifle de Ouro” faziam guarda da polícia naquele recanto. Eles pernoitavam na residência e saiam ao raiar do dia. Existem ainda alguns potes centenários que serviam como reservatório de água. Estes eram muito comuns no tempo em que não existia filtro de barro. A água permanecia fria e evitava o contato com a poeira e insetos. O consumo se dava por uma jarra ou que...