Pular para o conteúdo principal

Esperança em 1892: Representação

 

Com o título “Esperança em...” já publicamos alguns aspectos deste Município seguindo uma linha do tempo; em cada uma dessas postagens mostramos o desenvolvimento econômico e social da cidade.

Trazemos agora, através de uma “representação”, um vislumbre da antiga “Boa Esperança”, como era chamada em seus primórdios, dirigida ao Presidente da Província da Parahyba.

O texto em si tem grande importância para a nossa história, pois nos mostra a dependência da vila em relação à Alagoa Nova, fatos estes que, anos mais tarde, impulsionariam a nossa emancipação política.

Este documento foi extraído do livro “Riachão de Banabuié”, do poeta, escritor e crítico literário Gemy Cândido, recém lançado na Fundação Casa de José Américo de Almeida – FCJA, na capital paraibana:

A povoação da Boa Esperança criada há mais de vinte anos pela concorrência e estabelecimento de pequenos criadores, agricultores e comerciantes, tem ido sempre em aumento para pela uberdade do solo e vantagens do comércio trazido para entre os sertões e os brejos; e hoje se acha em estado de prosperidade pelo aumento crescente da povoação, melhoramento e asseio da edificação, e concorrência do comércio e consumidores para aquele ponto.

Ora esse fato, que deve ser aceito, como um melhoramento necessário; digno de apoio e proteção do governo, que necessita da posição, cultura e prosperidade de todos os pontos d’um vasto país, quase desabitado e desocupado de tais fontes d’um vasto desenvolvimento e progresso, é justamente a causa de vexame e injustiças, de que estão sendo vitimas os abaixo assinados e os moradores da dita povoação.

A Ilma. Câmara Municipal de Alagoa Nova de acordo com os comerciantes e moradores da dita vila, e levados a inconfessável e iníquo sentimento da inveja, ou ciúme; longe de os possuírem do nobre espírito de cumulação, que fazendo imitar às cousas boas as igualar, ou exceder, têm usado dos seguintes meios: A feira de Boa Esperança era no domingo e a de Alagoa Nova, no sábado; os matutos, pequenos e ambulantes comerciantes, expondo seus produtos em Alagoa Nova, no sábado vinham renovar o seu comércio em Boa Esperança no domingo; e isto bastava para aumento e vida do comércio dos moradores de Boa Esperança; com o que em nada prejudicavam o comércio e regularidade dos habitantes de Alagoa Nova.

A Ilma. Câmara porém sobre representação dos comerciantes e moradores de Alagoa Nova, mandou proibir feira de Booa Esperança concorrendo ali nos domingos com as sobras do sábado, ajudou-se da polícia, que por meio da força pública e inspetores de quarteirão, tomando as estradas com piquetes, proíbe ali absolutamente a entrada de tudo por meio da violência.

Ora deixada a parte a pressão exercida contra a liberdade do comércio e tão priorizada e garantida pelas nações e tão necessária a vida dos povos, constituindo um direito inviolável de cada cidadão; a prima facie se vê que a consequência disso será a morte e decadência da povoação de Boa Esperança, que tem tanto direito de vida como a sua vizinha, será a quebra de quinze casas comerciais ali estabelecidas, que não podendo dar saída a seus gêneros, não poderão solver seus compromissos, será a diminuição imediata das rendas do Estado, gerais e provinciais, pela falta de contribuintes.

Os abaixo assinados poderão relatar fatos que diariamente se têm dado entre os pacíficos moradores da Boa Esperança, a Ilma. Câmara Municipal de Alagoa Nova e aqueles comerciantes que levados somente pelo espírito de inveja, têm feito representações contra a feira de Boa Esperança; e do que pequeninos meios têm lançado para chegaram a seu fim.

Mas para isso seria necessário que os abaixo assinados dissessem fatos que nem são próprios para vir ao conhecimento de V. Exc. nem acrescentarão mais luz aos fatos que de relatar.

E por isso, e em respeito a pessoa e autoridade de V. Exc. aqui param os abaixo assinados.

Da ilustração e patriotismo de V. Exc. esperam justiça. [...].

Boa Esperança, 20 de maio de 1882”.

Os “abaixo assinados”, moradores da Boa Esperança, subscrevem como sendo os negociantes: Antônio Gabínio de Almeida Mendonça, José Diniz d’Oliveira, Mathias Francisco Fernandes, Sebastião Nicolau da Costa, Bento Gonçalves de Araújo, Firmino Porfirio Delgado, Benedito Gomes da Luz, José de Souza Maia, e os artistas, autônomos, profissionais liberais, Benício Fernandes d’Araújo e Benevenuto Maceió da Silva.

 Dos cidadãos acima citados, destaca-se Mathias Francisco Fernandes, o qual se estabeleceu na antiga Banabuyé por volta de 1870, vindo do brejo de Areia, no ramo de tecidos. Era um homem culto. Forneceu cartas de apresentação para que os comerciantes locais pudessem comprar nas praças da Parahyba e do Recife. Presidiu o Conselho Municipal de Alagoa Nova de 1894 a 1897.

Benevenuto Maceió foi um dos primeiros proprietários da “Vila Santa Maria”, hoje pertencente ao Dr. João de Deus Melo, juiz aposentado, que se supõe ter sido construída em 1900. Seu nome aparece no “Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Estado” no ano de 1899.

À época desta representação (1892), a Parahyba era governada por Álvaro Lopes Machado. Não se sabe o seu resultado, mas o certo é que Esperança progrediu, a despeito de qualquer interferência externa, e foi emancipada em 1º de dezembro de 1925.

 

Rau Ferreira

 

 

Referências:

- CÂNDIDO, Gemy. Riachão de Banabuié. Org. Mary Ellen C. da M. Cândido. Ed. Martinho Sampaio. João Pessoa/PB: 2024.

- ESPERANÇA, Livro do Município de. Ed. Unigraf. João Pessoa/PB: 1985.

- FERREIRA, Rau. Banaboé Cariá: Recortes da Historiografia do Município de Esperança. Esperança/PB: 2015.

- PARAHYBA, Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Estado da. Anno II. José Francisco Moura (Org.). Parahyba do Norte: 1899.

Comentários

  1. Minha vó me dizia que era irmã de jojoel da cruz eu escutava meu pai e meus tios contava muitas estórias deles

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

Severino Costa e sua harpa "pianeira"

Severino Cândido Costa era “carapina”, e exercia esse ofício na pequena cidade de Esperança, porém sua grande paixão era a música. Conta-se que nas horas de folga dedilhava a sua viola com o pensamento distante, pensando em inventar um instrumento que, nem ele mesmo, sabia que existia. Certo dia, deparou-se com a gravura de uma harpa e, a partir de então, tudo passou a fazer sentido, pois era este instrumento que imaginara. Porém, o moço tinha um espírito inventivo e decidiu reinventá-la. Passou a procurar no comércio local as peças para a sua construção, porém não as encontrando fez uso do que encontrava. Com os “cobrinhos do minguado salário” foi adquirindo peças velhas de carro, de bicicleta e tudo o mais que poderia ser aproveitado. Juntou tudo e criou a sua “harpa pianeira”, como fora batizada. A coisa ficou meia esquisita, mas era funcional, como registrou a Revista do Globo: “Era um instrumento híbrido, meio veículo, meio arco de índio: uma chapa de ferro em forma de arc...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

A Energia no Município de Esperança

A energia elétrica gerada pela CHESF chegou na Paraíba em 1956, sendo beneficiadas, inicialmente, João Pessoa, Campina Grande e Itabaiana. As linhas e subestações de 69 KV eram construídas e operadas pela companhia. No município de Esperança, este benefício chegou em 1959. Nessa mesma época, também foram contempladas Alagoa Nova, Alagoinha, Areia, Guarabira, Mamanguape e Remígio. Não podemos nos esquecer que, antes da chegada das linhas elétrica existia motores que produziam energia, estes porém eram de propriedade particular. Uma dessas estações funcionava em um galpão-garagem por trás do Banco do Brasil. O sistema consistia em um motor a óleo que fornecia luz para as principais ruas. As empresas de “força e luz” recebiam contrapartida do município para funcionar até às 22 horas e só veio atender o horário integral a partir de setembro de 1949. Um novo motor elétrico com potência de 200 HP foi instalado em 1952, por iniciativa do prefeito Francisco Bezerra, destinado a melhorar o ...

Administração Odaildo Taveira (1979)

Odaildo Taveira Rocha foi eleito pela ARENA 1, com apoio de seu Luiz Martins, numa eleição muito acirrada contra José (Zeca) Torres. Ele que já havia sido vice de seu Luiz (1973-1977), agora se elegia gestor do Município de Esperança, tendo como vice o Dr. Severino (Nino) Pereira. Ex-funcionário de banco, iniciou seus estudos no Externado “São José”, da professora Donatila Lemos. Odaildo também chegou a presidir o Conselho de Desenvolvimento de Esperança que, em parceria com o PIPMOI - Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra Industrial, organizava cursos de marceneiros, tratoristas, encanadores e eletricistas a serem ministradas pelo SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.   Com relação a sua administração, colhemos dados em uma publicação do parceiro e blogueiro Evaldo Brasil, em seu site “Reeditadas”, o qual publicou um calendário com o resumo do ano de 1979, que passo a reproduzir.   “ Poder Executivo Prefeito: Odaildo Taveira Rocha Vice-pre...

Gente nossa

  Assis Diniz editou nos anos 80 do Século passado uma revista comemorativa, alusiva aos 60 anos de emancipação política de Esperança. Neste magazine elencou alguns esperancenses, traçando lhes o perfil biográfico, cujo rol aproveitei para alargar as informações apresentadas, fruto de minhas pesquisas. São eles: Júlia Santiago – prestou relevantes serviços à Paróquia do Bom Conselho. Tocava a serafina (harmônico) e lecionava catecismo. Nascida em Esperança no dia 28 de dezembro de 1884. Faleceu com a idade de 98 anos, às 06:00 horas no Lar da Providência “Carneiro da Cunha”, na capital paraibana, em 23 de abril de 1983. Notificou o Dr. João de Deus Melo, vítima de insuficiência cardíaca, atestada pela médica Dra. Neuza Maria da Conceição Costa. Era filha de Joaquim de Andrade Santiago e Ana de Souto Santiago. Eles residiam na rua Monsenhor Severiano. dona Júlia foi sepultada no cemitério público de Esperança. Eram seus irmãos: Luiz de Andrade Santiago (1860), Antônia de Andrade ...