Com o título “Esperança
em...” já publicamos alguns aspectos deste Município seguindo uma linha do
tempo; em cada uma dessas postagens mostramos o desenvolvimento econômico e
social da cidade.
Trazemos agora,
através de uma “representação”, um vislumbre da antiga “Boa Esperança”, como
era chamada em seus primórdios, dirigida ao Presidente da Província da Parahyba.
O texto em si tem
grande importância para a nossa história, pois nos mostra a dependência da vila
em relação à Alagoa Nova, fatos estes que, anos mais tarde, impulsionariam a
nossa emancipação política.
Este documento foi
extraído do livro “Riachão de Banabuié”, do poeta, escritor e crítico literário
Gemy Cândido, recém lançado na Fundação Casa de José Américo de Almeida – FCJA,
na capital paraibana:
“A povoação da Boa Esperança
criada há mais de vinte anos pela concorrência e estabelecimento de pequenos
criadores, agricultores e comerciantes, tem ido sempre em aumento para pela
uberdade do solo e vantagens do comércio trazido para entre os sertões e os
brejos; e hoje se acha em estado de prosperidade pelo aumento crescente da
povoação, melhoramento e asseio da edificação, e concorrência do comércio e
consumidores para aquele ponto.
Ora esse fato, que deve
ser aceito, como um melhoramento necessário; digno de apoio e proteção do
governo, que necessita da posição, cultura e prosperidade de todos os pontos d’um
vasto país, quase desabitado e desocupado de tais fontes d’um vasto
desenvolvimento e progresso, é justamente a causa de vexame e injustiças, de
que estão sendo vitimas os abaixo assinados e os moradores da dita povoação.
A Ilma. Câmara Municipal
de Alagoa Nova de acordo com os comerciantes e moradores da dita vila, e
levados a inconfessável e iníquo sentimento da inveja, ou ciúme; longe de os
possuírem do nobre espírito de cumulação, que fazendo imitar às cousas boas as
igualar, ou exceder, têm usado dos seguintes meios: A feira de Boa Esperança
era no domingo e a de Alagoa Nova, no sábado; os matutos, pequenos e ambulantes
comerciantes, expondo seus produtos em Alagoa Nova, no sábado vinham renovar o
seu comércio em Boa Esperança no domingo; e isto bastava para aumento e vida do
comércio dos moradores de Boa Esperança; com o que em nada prejudicavam o
comércio e regularidade dos habitantes de Alagoa Nova.
A Ilma. Câmara porém
sobre representação dos comerciantes e moradores de Alagoa Nova, mandou proibir
feira de Booa Esperança concorrendo ali nos domingos com as sobras do sábado,
ajudou-se da polícia, que por meio da força pública e inspetores de quarteirão,
tomando as estradas com piquetes, proíbe ali absolutamente a entrada de tudo
por meio da violência.
Ora deixada a parte a
pressão exercida contra a liberdade do comércio e tão priorizada e garantida
pelas nações e tão necessária a vida dos povos, constituindo um direito
inviolável de cada cidadão; a prima facie se vê que a consequência disso será a
morte e decadência da povoação de Boa Esperança, que tem tanto direito de vida
como a sua vizinha, será a quebra de quinze casas comerciais ali estabelecidas,
que não podendo dar saída a seus gêneros, não poderão solver seus compromissos,
será a diminuição imediata das rendas do Estado, gerais e provinciais, pela
falta de contribuintes.
Os abaixo assinados
poderão relatar fatos que diariamente se têm dado entre os pacíficos moradores
da Boa Esperança, a Ilma. Câmara Municipal de Alagoa Nova e aqueles comerciantes
que levados somente pelo espírito de inveja, têm feito representações contra a
feira de Boa Esperança; e do que pequeninos meios têm lançado para chegaram a
seu fim.
Mas para isso seria
necessário que os abaixo assinados dissessem fatos que nem são próprios para
vir ao conhecimento de V. Exc. nem acrescentarão mais luz aos fatos que de
relatar.
E por isso, e em respeito
a pessoa e autoridade de V. Exc. aqui param os abaixo assinados.
Da ilustração e
patriotismo de V. Exc. esperam justiça. [...].
Boa Esperança, 20 de maio
de 1882”.
Os “abaixo
assinados”, moradores da Boa Esperança, subscrevem como sendo os negociantes:
Antônio Gabínio de Almeida Mendonça, José Diniz d’Oliveira, Mathias Francisco
Fernandes, Sebastião Nicolau da Costa, Bento Gonçalves de Araújo, Firmino
Porfirio Delgado, Benedito Gomes da Luz, José de Souza Maia, e os artistas,
autônomos, profissionais liberais, Benício Fernandes d’Araújo e Benevenuto
Maceió da Silva.
Dos cidadãos acima citados, destaca-se Mathias
Francisco Fernandes, o qual se estabeleceu na antiga Banabuyé por volta de 1870,
vindo do brejo de Areia, no ramo de tecidos. Era um homem culto. Forneceu
cartas de apresentação para que os comerciantes locais pudessem comprar nas
praças da Parahyba e do Recife. Presidiu o Conselho Municipal de Alagoa Nova de
1894 a 1897.
Benevenuto Maceió
foi um dos primeiros proprietários da “Vila Santa Maria”, hoje pertencente ao Dr.
João de Deus Melo, juiz aposentado, que se supõe ter sido construída em 1900. Seu
nome aparece no “Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Estado” no
ano de 1899.
À época desta
representação (1892), a Parahyba era governada por Álvaro Lopes Machado. Não se
sabe o seu resultado, mas o certo é que Esperança progrediu, a despeito de
qualquer interferência externa, e foi emancipada em 1º de dezembro de 1925.
Rau
Ferreira
Referências:
- CÂNDIDO,
Gemy. Riachão de
Banabuié. Org. Mary Ellen C. da
M. Cândido. Ed. Martinho Sampaio. João Pessoa/PB: 2024.
- ESPERANÇA, Livro do Município de. Ed. Unigraf. João Pessoa/PB: 1985.
- FERREIRA,
Rau. Banaboé Cariá:
Recortes da Historiografia do Município de Esperança. Esperança/PB: 2015.
- PARAHYBA, Almanak Administrativo, Mercantil e
Industrial do Estado da. Anno II.
José Francisco Moura (Org.). Parahyba do Norte: 1899.
Minha vó me dizia que era irmã de jojoel da cruz eu escutava meu pai e meus tios contava muitas estórias deles
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