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Banho de açude

 


Thomas Bruno publicou n’A União um conto sobre o mito da cobra-preta muito conhecido na Parahyba. Quem nos dá conta é Câmara Cascudo. Segundo a lenda, a cobra procura as mães que estão a amamentar. Coloca a ponta da causa na boca da criança para acalentá-la, enquanto suga o leite materno.

Isso nos era contado, antigamente, para entre outras coisas, se evitar banho de açude. Imagine só como eram as proibições naquele tempo, elas se davam por estórias!

Mamãe também não nos deixava tomar banho de açude. Mas nem por isso, deixava de me aventurar na época das cheias, com os colegas de escola. Certa feita a professora de ciência/biologia nos mandou coletar folhas de todo o tipo. Foi a desculpa para irmos aos sítios.

Na Timbaúba no inverno nas cercanias de Cícero Romana descia uma cachoeira. Fomos à nascente... a água corria fina, translúcida. A renovo da natureza é para nós um encanto. Que maravilha!

No caminho jogamos pedras ao léu. No mato os passarinhos revoavam. Tudo era natureza. A paz que reinava era indescritível. Nesse dia só molhei os pés. Não quis me arriscar.

Na volta passamos por "Coleguinha". Era a colheita da batatinha inglesa e Esperança ganhara a fama de grande produtora. Chegamos no dia seguinte com muitas folhas de todas as espécies.

Foi um momento lúdico para aqueles meninos ainda na flor da idade em um mundo que se abria em muitas possibilidades. Aqueles colegas de infância ainda hoje se encontram. Uns já se foram, a exemplo de Etinho de Luziete, mas a lembrança nos é guardada com grande empatia.

Assim como outras, que eram narradas por nossas mães, sobre "o homem do saco", sobre o "papa-figo"... todas eram para nos advertir dos perigos do mundo e, de certa forma, nos manter nas "barras da saia" delas. Mas a juventude desponta no menino e desafia ao desconhecido.

O garoto quer conhecer a vida lá fora e nessa ânsia vai "testando" as suas forças. Nisso consiste a necessidade humana de desbravar novos horizontes. Nisso está o desejo de querer ser homem e ser dono do próprio nariz. Dizem que quando crescemos temos saudades daqueles dias, mas quando o vivenciamos queremos fazer dezoito, vinte anos... enfim, parece que nunca estamos satisfeitos.

 

Rau Ferreira

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