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O Mastodonte de Esperança

 

Leon Clerot – em sua obra “30 Anos na Paraíba” – nos dá notícia de um mastodonte encontrado na Lagoa de Pedra, zona rural de Esperança (PB).

Narra o historiador paraibano que em todo o Nordeste existem depressões nos grandes lajeados que afloram nos terrenos, conhecidas pelo nome de “tanques”, muitas vezes obstruídos pelo material aluvionar. Estes são utilizados para o abastecimento d’água na região aplacada pelas secas, servindo de reservatório para a população local.

Não raras as vezes, quando se executa a limpeza, nos explica Clerot, aparecem “restos fossilizados dos vertebrados gigantes da fauna do pleistoceno que povoou, abundante, a região do Nordeste e, aliás, todo o Brasil”.

Esqueletos de espécimes extintas foram encontradas em vários municípios, soterrados nessas condições, dentre os quais se destaca o de Esperança. A desobstrução dos tanques, necessária para a sobrevivência do rurícola, por vezes provocava a destruição do fóssil, como anota o professor Clerot: “esfacelados de tal forma que é impossível tentar uma restauração”.

J. C. Branner, grande estudioso do assunto, supõem que esses animais tenham morrido de sede procurando água nos bebedouros, afogados ou com fome, sem poderem sair dos tanques.

Leon F. R. Clerot, descreve bem esse achado em nosso Município:

De um ‘tanque’ de Lagoa de Pedra, município de Esperança, foram retirados diversos ossos de mastodonte esfacelados pelas picaretas dos trabalhadores entre os quais só se aproveitou perfeito um maxilar inferior. Este nos foi prometido pelo prefeito; mas certo Secretário de Estado, correligionário político do prefeito, teve a preferência, levando-o para o palácio do Governo e de lá, tempos depois, fragmentado à custa de quedas, foi para o forno de incineração do lixo”.

Parentes pré-históricos dos elefantes, os mastodontes tinham pernas mais curtas e corpo alongado; vivia em manadas nas florestas tropicais. Pesavam cerca de quatro a seis toneladas, diferenciando os machos das fêmeas pelas presas, que chegavam a 2,5 metros.

Irineu Jóffily escreve que os primeiros registros desta megafauna na Paraíba se deram através de Arruda Câmara, que veio explorar a região em busca de minérios:

O sábio naturalista brasileiro Manoel de Arruda Câmara, encarregado pelo governo em 1796, do exame e investigação das nitreiras desta e da província da Parahyba, conseguiu desenterrar daqueles depósitos e conduzir para Goiana ossos fósseis no intuito de organizar um esqueleto do animal que ele reconhecia ser o mastodonte” (Notas sobre a Parahyba: 1892, p. 209).

Jóffily ainda acrescenta em sua obra que “No terreno em que está Banabugé e em seu distrito há numerosos tanques ou cavernas obstruídas” (Notas sobre a Parahyba: 1892, p. 209).

No próprio centro da cidade, quando se reformava um depósito, no ano de 1997, os operários descobriram a ossada que poderia ser de uma preguiça gigante. Com efeito, as escavações descobriram ossadas de uma preguiça gigante (Eremotrerium Laurilardi) que datam de oito mil anos atrás, e outras indicam pertencer ao “Haplomastodon Larigi”, um parente distante do elefante, e ao “Hoplophorus Euphractus”, antecendente do tatu.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- CLEROT, L. F. R. 30 Anos na Paraíba: memórias corográficas e outras memórias. Edições do Senado Federal. Volume 87. Brasília/DF: 2011.

- ESPERANÇA, Revista (da). Ano I, Nº 02. Edição de Março/Maio. Esperança/PB: 1997.

- ESPERANÇA, Revista (da). Ano I, Nº 02. Março/Maio. Esperança/PB: 1997.

- FERREIRA, Rau. Relatos de Campina Grande. Edições Banabuyé. Esperança/PB: 2012.

- JÓFFILY, Irineu. Notas sobre a Parahyba. Tipografia do Jornal do Commercio. Rio de Janeiro/RJ: 1892.

Comentários

  1. Pois foi. Pois é lembro bem do mais recente na qualidade de editor e "faz tudo" da Revista da Esperança. Dei plantão na obra de ampliação do depósito da Decorama, durante o qual os trabalhadores informavam que outros achados se tornaram alicerces da primeira obra. Oh, obra!

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