Este ano (2024) se
comemora o centenário da publicação de “Cysnes”, primeira obra poética de Silvino
Olavo da Costa. O maior representante do Simbolismo paraibano, nasceu em
Esperança em 27 de julho de 1897. Era filho do Coronel Manoel Joaquim Cândido e
dona Josefa Martins Costa.
Na juventude,
Silvino sofrera um grande golpe do destino: se apaixonou por uma bela moça,
filha de um comerciante esperancense. O romance não fora bem aceito pela mãe do
poeta, e por outro lado, o seu pai queria que o rapaz seguisse seus passos. A
conjugação dessas duas vontades não poderia resultar noutra coisa senão a fuga
do lar.
Ex
Libris do autor, o compêndio poético abre com uma frase de
Alves de Souza (1884/1922): “O sofrimento é a grande serenidade...” e
uma citação de Georges Rodenbach (1855/1898):
“Guilandes de
la glrie, ah! vaines, toujours vaines!
Mais
c’est triste pourtant quando n avait rêvé,
De
ne pas trop perir et d’etre um peu sauvé
Et
de laisser de soi dans les barques humaines”.
“Foi ele a gota
d'água que produziu a tempestade no copo...”, assim escreveu o vate à
Guilherme de Almeida.
Impresso pela
Empresa Brasil Editora, o livro possui 167 produções distribuídas sobre esta
epígrafe, assim dividido: Cysnes Fluctuantes – dedicado à Pereira da Silva de
quem dizia “meu irmão mais velho na mesma Dor estética”; Cysnes Amorosos,
e Cysnes Agonizantes, capítulo ofertado à Murilo Araújo, que para ele era “o
mágico do ritmo”.
Os “Cysnes
Amorosos” – como o próprio nome o diz – têm o desenho de dois cisnes
entrelaçados, se amando na mansidão do lago. As “Plumas” são plumas mesmo, e
simbolizam uma pequena parte deste ser circunspecto e romântico que nomeia o
seu livro de estreia.
Em “Cysnes
Agonizantes” temos a figura de dois cisnes com as cabeças voltadas para o
dorso, se contorcendo de uma dor que mais parece espiritual do que física, de
um amor não correspondido quiçá. Assim escreve Silvino os versos de “Longe da
Vida”, “Oração do Amor e da Morte”, “Ícaro” e tantos outros que denotam essa
condição peculiar do autor.
A ilustração ficou
por conta de Angelus, o pintor que idealizou o salão dos poetas em 1924,
concebeu a capa do livro e interpretou através de seus desenhos a fina estética
do autor.
A obra foi
bastante aclamada pela crítica da época. Entre eles, apenas para citar:
Climério da Fonseca, Tostes Malta, Garcia de Rezende, Osório Duque de Estrada,
Adelino Magalhães, Agripino Grieco, Rocha Pombo, Haroldo Daltro, Murilo Araújo,
Samuel Duarte e Nosor Sanches.
O último poema,
dedica-o ao amigo Dr. João Suassuna, que governou a Parahyba (1924-1928), que
reproduzimos a seguir:
“ÍCARO!
Ao
clarão da Esperança, em minh’alma noviça,
minha
ilusão briou como um solar de rei;
corri,
na asa do Sonho, ardente de cobiça,
para
a conquista ideal de tudo que sonhei.
Que
troféu de vitória, a fim, trago da liça
onde
– de cruz ao peito e espada à mão – lutei?
-
Apenas abroquelo o guante da injustiça
que
entre os homens colhi pelo bem que esbanjei.
Ah!
Ícaro rolando ao vale dos tormentos –
se
a tua asa de sonho era assim quebradiça,
por
que te arremessaste em voo aos firmamentos?
Antes
um Cysne fosse! – um cysne de olhos magos;
Nadando,
ao lado de outro, em languida preguiça,
na
serena quietude estática dos lagos!
A primeira notícia que se tem do livro foi
publicada pelo jornal “Correio da Manhã”, na então capital federal (Rio), em 16
de abril de 1924. O periódico carioca registra que o autor reuniu sob o título
de “Cysnes” os seus primeiros versos:
“que denotam a par de uma forma cuidadosa, uma originalidade de feitura,
pouco comum nos trovadores que terçam as suas primeiras armas.
Do autor de ‘Cysnes’, que é moço, podem as nossas
letras esperar relevantes serviços”.
Porém, desde o ano anterior já se publicava
alguns poemas, talvez preparando o ambiente para a sua chegada.
Na Paraíba, é A União quem nos apresenta os
“Cysnes” e seu autor como sendo um “jovem advogado paraibano e homem de letras dos mais
ilustres da moderna geração, que vive na capital do país, assentado
destemerosamente os arraiais da sua profissão”, acentuando lhe:
“[...] versos de espiritualidade de beleza, nos quais o
autor já insigne, pela autoridade e refulgência do seu nome, desdobra as
bizarras e originalidades da sua estética. [...]. É um grande emotivo, que sabe enquadrar no rigorismo
parnasiano os éstos e as delicadezas da sua inspiração” (A União: 22/05/1924).
Por essa mesma época, Adamastor Lima, ao
escrever para a revista “Ilustração Moderna”, tece a sua crítica literária de
“Cysnes”, expondo a “revelação genuína” do “mavioso poeta paraibano”:
“[...] É que Silvino, como bem poucos, ama a sua terra, a
sua gente e vibra com ela nas grandes dores que a golpeiam. [...]. Sofre e no
sofrimento encontra serenidade, serenidade de águas tranquilas, que escondem
formidáveis lutas no amago da terra, o que se não confunde com a estagnação –
onde os ideais apodrecem... [...]. Silvino vive sob a saudade da terra querida e
distante, da terra onde se encontram seu Cérebro e seu Coração”.
Embora a revista só tenha sido publicada em 05
de julho de 1924, o articulista escreve com data de 27 de abril daquele ano,
bem próximo a data do lançamento de “Cysnes”.
Agripino Grieco, grande crítico nacional,
também analisa a obra, tecendo as seguintes considerações:
“[...] o sr. Silvino Olavo (“Cysnes”) é digno de leitura.
Poucos artistas da sua geração estrearam do modo tão brilhante. Com o fio das
suas lembranças, tece ele lindas narrações romanescas. Descrevendo a paisagem,
não é um simples imitador, mas um feliz intérprete da natureza. Tradando do
amor, não desce nunca à abdicação moral, através de um carnalismo vermelho. Há
probidade na sua inteligência e sua alma de sertanejo saberá sempre evitar a
deformação de sentimentos tão comum nas grandes cidades. Esse poeta honesto e
sóbrio não tem fome de aplausos e bem sabe que basta a autoria de um belo verso
para consolar-nos de tudo” (O Jornal. Ano VI, Nº 1.809).
Também Nossor Sanches, assim se expressa:
“Cada verso é um cysne que vai cantar. Cada poema um plácido lago onde
vagam, tristes e românticos, os cysnes do Amor, da Ilusão, do Sofrimento, da
Agonia... Cysnes que não cantam, mas choram...
Num enlevamento terno e sentimental, Silvino Olavo,
a par de uma filosofia triste, engasta nos seus poemas a pérola da saudade
dolorosa.
Versos cheios de profunda melancolia, encerram toda
uma história amorosa, que brilhou como estrelas no Passado, e agora é apenas a
mansuetude de uma alameda, onde um lago, eternamente olhando o céu, estático,
oferece ao mesmo céu o ‘peplum’ de arminho e seda de um cysne muito branco e
muito triste. [...]. Esteta da Beleza, de uma sensibilidade comovida,
Silvino Olavo é o trovador das horas de nostalgia, quando os cysnes vão
empalidecendo, vão desaparecendo... É o sonhador que ama, venerando o seu Amor
no altar da suprema Beleza, emaranhado na teia muito alva da Felicidade, entre
luzes de estrelas em delíquios...” (A Rua-RJ, 26-05-1924).
E completa Terra de Sena: “O sr.
Silvino Olavo possui igualmente aquilo que os bons poetas não dispensam: sensibilidade” (D. Quixote-RJ, Ano
VIII, nº 371).
Dentre os muitos que analisaram-lhe a obra, no
seu nascedouro, poderíamos ainda citar: Hugo Auler, Cláudio Manoel Carvalho,
Alexandre Passos, Garcia Rezende, Osório Duque Estrada, Hermes Fontes, A. J.
Pereira da Silva, José Vieira, Oscar Lopes, Adelino Magalhães, Henrique
Pongentti, Climério da Fonseca, Rocha Pombo, Rodrigo Otávio, Rodrigues
Carvalho, Murilo Araújo, Haroldo Daltro, Pádua de Almeida, João da Mata, Samuel
Duarte, Eudes Barros, Rubey Vanderley, Perillo Doliveira, Oris Fernandes
Barbosa e Antônio Fasanaro.
E ainda os periódicos: Gazeta de Notícias,
Correio da Manhã, O Brasil, A Nação, Estado do Rio, Fon-Fon, Para Todos,
Frou-Frou, A Esphera, Ideia Ilustrada, Revista Phoenix, Brasil Social, Revista
Souza Cruz e a Gazeta.
Alguns livros foram dedicados carinhosamente,
o primeiro do qual temos conhecimento, é aquele dedicado aos pais (Cérebro e
Coração), mas há também dedicatórias a Rivadávia Correa, Maria Alexandrina, Abner
Mourão, Santos Neto e Murilo Araújo.
O livro ainda tem uma série de dedicações em
particular a amigos, poetas e intelectuais. No fim da obra surge o inusitado:
dois cisnes se encontram defronte a um lírio e formam um belíssimo coração.
Aquele amor inconciliável da juventude encontra uma seara possível: o lago dos
versos, onde podem enfim repousar todo o sentimento.
Rau Ferreira
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