Pular para o conteúdo principal

Por que "Boa Esperança"?

 

O município de Esperança, ao longo de sua história, recebeu algumas denominações: Banabuyê (1757), Boa Esperança (1872) e finalmente Esperança (1908).

Narra a história que Frei Herculano teria mudado o topônimo de Banabuyé, enquanto uma outra versão atribui o feito ao Padre Ibiapina. Coriolano de Medeiros, por sua vez, afirma que a mudança coube ao Frei Venâncio.

Estas narrativas guardam, porém, uma certa conexão com os fatos e mantém íntima relação com a religiosidade local.

Segundo consta, a primeira missa foi realizada por Frei Herculano nas proximidades do Tanque do Araçá. O Padre Ibiapina teria nos visitado em missão, e supõe-se que tenha construído o cemitério local por volta de 1862. Atribui-se à Frei Venâncio a iniciativa de se construir a Capela do Bom Conselho em 1860. Assim, a “vila” de (Boa) Esperança ficou conhecida pelos antigos.

Ferino de Góis em carta a Romano anterior a 1891, citado por Átila Almeida, recita os versos em que destaquei:

Cheguei em Boa Esperança

Encontrei o Campo Alegre,

Esse me disse: - Seu mal,

Estou com medo que me pegue,

Se você já vem mordido,

Por caridade não negue...

Observa o autor: “Deve ter sido equívoco de Ferino – a cidade é Esperança/Pb, e não Boa Esperança” (ALMEIDA, p. 56).

Mas o fato é que quando o Padre Francisco Almeida quando assumiu a recém criada paróquia, em 1908, havíamos definitivamente adotado o gentílico nome de “Esperança”. Essa anotação encontra-se no Livro Tombo da Paróquia.

Para uma melhor compreensão desta terminologia ao longo dos anos, decidi relacionar cada uma delas com as fontes escritas de que dispomos até então. Vejamos.

1) de Banabuyé, temos o seguinte:

- No “Almanaque Laemmert”, publicado no Rio de Janeiro em 1888, consta “Banabugê”, já no “Almanaque Garnier” de 1905 está escrito “Banabuié”;

- Nomeação de José de Morais Magalhães, um dos primeiros registros de professor de “Banabuyé”, data de 1874;

- Na “Mensagem à Assembleia Legislativa da Parahyba” de 1870, consta “Banabuyé”;

- A Lei Provincial nº 651, de 04 de outubro de 1878, nos referencia como sendo “Banabuyê”;

- O Jornal do Recife de 1881, cita a invasão de alguns criminosos ao povoado de “Banabuyé”;

- A Gazeta da Parahyba de 1891 fala em três assassinatos ocorridos em “Banabuyé”;

O “Almanak do Estado da Parahyba”, publicado pela Imprensa Official em 1889, cita a povoação de “Banabugê”, porém na procuração de Maria Augusta Sobreira de Carvalho, uma das primeiras professoras do Município, já constava que em 1896 já como “Esperança”;

- A Gazeta do Sertão de 12 de junho de 1889, noticia a nomeação de um agente para a agência dos Correios de “Banabuyé”.

- A Lei Provincial nº 339, de 27 de novembro de 1896, outorgada por Venâncio Neiva, criou uma cadeira de instrução primária “na povoação de Banabuyé do termo de Alagoa Nova”;

- A Lei Municipal de Capina Grande, editada em 30 de maio de 1835, estabeleceu que o travessão para o Norte passaria por Açudinho, Olho D’água de Campinotes, Lages e “Banabuié”.

 

2) Com relação a “Boa Esperança”:

- A Mensagem à Assembleia Legislativa de 1873 menciona a criação da subdelegacia de “Boa Esperança, no termo d'Alagoa Nova”;

- A Revista do IHGP, Volumes 3-4. Instituto Histórico e Geográfico Paraibano: 1911, na sua pág. 358 menciona o lugar “Boa Esperança” no brejo paraibano;

- No “Almanak Laemmert”, Vol. 67 de 1910, a nossa cidade aparece como distrito de Alagoa Nova, com o nome de “Boa Esperança”;

- Segundo consta, a agência dos Correios foi instalada em 1885, quando a povoação ainda era conhecida por “Boa Esperança”.

- Em dois poemas de Juviniano Sobreira, publicados na Gazeta do Sertão, periódico editado em Campina Grande por Irineu Jóffily e Francisco Retumba, consta o topônimo “Banabuyé” em 1889, assim como no “Jornal da Parahyba” edição nº 2.647 de 1888 (Banabuyé);

- No jornal “O Publicador”, do Estado da Paraíba, edição nº 1.867, Ano VI. De 30 de setembro de 1867, registra que a Câmara Municipal de Alagoa Nova autoriza a despesa para o ano de 1868, de 40$000 para o fiscal de “Banabué”;

- O livro “Economic Mining” de C. G. Warnford Lock publicado em Nova Iork em 1895, cita às págs. 586 “grãos (de ouro) nos veios auríferos da Boa Esperança, na Província da Parahyba do Norte” que podia ser encontrado “no veio de quartzo ouro chamado Boa Esperança, na Província da Parahyba do Norte, Brasil”, como está escrito no “The Mineral Industry” publicado pela Scientific Publishing Company no ano de 1902;

- Em um registro de nascimento, descoberto pelo historiador Ismael Bento no Jardim do Seridó-RN, lavrado em 08 de novembro de 1890, consta que Santino Dias de Araújo e Josefa Maria da Conceição casaram-se “em Boa Esperança, do Estado da Parahyba”.

 

3) Por fim, encontramos as seguintes anotações sobre o termo “Esperança”:

- A Lei nº 771, de 22 de setembro de 1884. cria uma escola mista na povoação de “Esperança do termo de Alagoa Nova”;

- A Gazetinha/PB: 1889. Logogrifo de José Pereira Brandão, citando “Esperança”;

- No Cartório de Registro Civil, o Escrivão José Pereira Brandão anota que em 1896, o cidadão Firmino Porfírio Delgado era “natural de Esperança”. Na própria abertura deste livro, assinada por Thomas Rodrigues de Oliveira, figura a “Povoação de Esperança”;

- O jornal “O Campinense” de 1892 registra a despedida de José Cambeba, “Retirando-se desta cidade (Campina) para a povoação de Esperança”;

- O Jornal “O Monitor” da Bahia, do ano de 1877, anunciava que salteadores estavam atacando na “povoação de Esperança”;

- Sessão ordinária realizada em 06 de dezembro de 1883 pela Assembleia Legislativa da Parahyba, acrescentou um aditivo a proposta do Deputado João Tavares para criar “uma cadeira de ensino misto na povoação de Esperança do termo d’Alagoa Nova”.

 

Estas são as fontes escritas que há sobre as mudanças de nome de nossa localidade. Como se pode observar das diversas fontes, a nomenclatura sempre foi imprecisa, com exceção apenas do ato de fundação da freguesia, onde consta claramente “Esperança” (1908).

Na concepção do historiador Irineu Joffily “devia-se ter conservado o nome indígena de Banabuyé, e não ter mudado para o de Esperança sem motivo plausível e por mais auspicioso que fosse” (Notas sobre a Parahyba: 1824).

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- ESPERANÇA, Livro do Município (de). Projeto Gincana Cultural/83 – “Descubra a Paraíba” – Coleção Livros dos Municípios 006/171. João Pessoa/PB: 1985.

- MEDEIROS, Coriolano (de). Dictionário corográfico do Estado da Paraíba. 2ª Edição. Departamento de Imprensa Nacional: 1950.

- ALMEIDA, Átila F. (de). SOBRINHO, José Alves. Dicionário bio-bibliográfico de repentistas e poetas de bancada. Volumes 1-2. Ed. Universitária: 1978.

- LEIS PROVINCIAIS, Coleção (das). Imprensa Oficial. Parahyba do Norte: 1884.

- LEIS PROVINCIAIS, Coleção (das). J. R. da Costa Editor. Parahyba do Norte: 1869.

- PINHEIRO, Antônio Carlos Ferreira. CURY, Cláudia Engler. ANANIAS, Mauricéia. Fontes para a história da educação da Paraíba Imperial. Documentos diversos, Parte II (1861-1869). Sociedade Brasileira de História da Educação. 1ª Edição. Paco Editorial. Jundiaí/SP: 2018.

- IHGP, Revista (do). Volumes 3-4. Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Parahyba: 1911;

- NOVO TEMPO, Jornal. Ano IV, nº 23, Nov/Dez 95, Edição Especial Comemorativa, p. 3. Artigo: “Esperança e seus primórdios”, por João de Deus Melo, historiador que conserva grande acervo histórico sobre Esperança. Esperança/PB: 1995.

Comentários

  1. Muito bom. Como sempre um trabalho de fôlego. A julgar pelas leis atuais que acompanho por trata-las para o QOEsp (Quinzenário Oficial de Esperança) quero crer que os nomes populares se demoram e resistem. Os nomes oficiais, quando pegam, se demoram e fixar-se e se não pegam, a lei fica pra inglês ver. Banabuyê, como gosto de grafar por influência do galicismo que antecedeu o atual anglicismo, era o nome da aldeia indígena, que prosseguiu na fazenda, extra-oficializando-se nas sesmarias e permanecendo no nosso vocabulário por diversas razões e as variações mais diversas, já que de origem indígena sobrevivendo aos impositivos dominantes. Do ponto de vista legal, poderíamos firmar uma data, conforme o ato oficial, apenas como referência, aceitando-se todos apenas quando das citações, registrando o oficial em nossos textos.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

A minha infância, por Glória Ferreira

Nasci numa fazenda (Cabeço), casa boa, curral ao lado; lembro-me de ao levantar - eu e minha irmã Marizé -, ficávamos no paredão do curral olhando o meu pai e o vaqueiro Zacarias tirar o leite das vacas. Depois de beber o leite tomávamos banho na Lagoa de Nana. Ao lado tinham treze tanques, lembro de alguns: tanque da chave, do café etc. E uma cachoeira formada pelo rio do Cabeço, sempre bonito, que nas cheias tomava-se banho. A caieira onde brincávamos, perto de casa, também tinha um tanque onde eu, Chico e Marizé costumávamos tomar banho, perto de uma baraúna. O roçado quando o inverno era bom garantia a fartura. Tudo era a vontade, muito leite, queijo, milho, tudo em quantidade. Minha mãe criava muito peru, galinha, porco, cabra, ovelha. Quanto fazia uma festa matava um boi, bode para os moradores. Havia muitos umbuzeiros. Subia no galho mais alto, fazia apostas com os meninos. Andava de cabalo, de burro. Marizé andava numa vaca (Negrinha) que era muito mansinha. Quando ...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

Esperança, por Maria Violeta Silva Pessoa

  Por Maria Violeta da Silva Pessoa O texto a seguir me foi encaminhado pelo Professor Ângelo Emílio da Silva Pessoa, que guarda com muito carinho a publicação, escrita pela Sra. Maria Violeta. É o próprio neto – Ângelo Emílio – quem escreve uns poucos dados biográfico sobre a esperancense: “ Maria Violeta da Silva Pessoa (Professora), nascida em Esperança, em 18/07/1930 e falecida em João Pessoa, em 25/10/2019. Era filha de Joaquim Virgolino da Silva (Comerciante e político) e Maria Emília Christo da Silva (Professora). Casou com o comerciante Jayme Pessoa (1924-2014), se radicando em João Pessoa, onde teve 5 filhos (Maria de Fátima, Joaquim Neto, Jayme Filho, Ângelo Emílio e Salvina Helena). Após à aposentadoria, tornou-se Comerciante e Artesã. Nos anos 90 publicou uma série de artigos e crônicas na imprensa paraibana, parte das quais abordando a sua memória dos tempos de infância e juventude em e Esperança ” (via WhatsApp em 17/01/2025). Devido a importância histór...

Luiz Pichaco

Por esses dias publiquei um texto de Maria Violeta Pessoa que me foi enviado por seu neto Ângelo Emílio. A cronista se esmerou por escrever as suas memórias, de um tempo em que o nosso município “ onde o amanhecer era uma festa e o anoitecer uma esperança ”. Lembrou de muitas figuras do passado, de Pichaco e seu tabuleiro: “vendia guloseimas” – escreve – “tinha uma voz bonita e cantava nas festas da igreja, outro era proprietário de um carro de aluguel. Família numerosa, voz de ébano.”. Pedro Dias fez o seguinte comentário: imagino que o Pichaco em referência era o pai dos “Pichacos” que conheci. Honório, Adauto (o doido), Zé Luís da sorda e Pedro Pichaco (o mandrião). Lembrei-me do livro de João Thomas Pereira (Memórias de uma infância) onde há um capítulo inteiro dedicado aos “Pichacos”. Vamos aos fatos! Luiz era um retirante. Veio do Sertão carregado de filhos, rapazes e garotinhas de tenra idade. Aportou em Esperança, como muitos que fugiam das agruras da seca. Tratou de co...