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Samuel Duarte: um quase-filho de Esperança-PB

 

Nasceu Samuel Vital Duarte no Cantagalo, zona rural do Município de S. Sebastião de Lagoa de Roça, divisa com Esperança, no dia 10 de novembro de 1904. Filho de Joaquim José Duarte e Cosma Pereira Duarte. Era o caçula de doze irmãos.

Foi deputado federal por quatro legislaturas, assumindo a Presidência da Câmara Federal de 1947 à 1949. Trabalhou no jornal “A União”, sendo também diretor; e no órgão oficial “A Imprensa”. Na Paraíba, foi Secretário de Interior e Justiça. Como advogado, atuou em diversas causas importantes, assumindo a presidência da OAB Nacional entre 1967/69.

O ensino primário, no que se presume, iniciou Samuel em Esperança, pois os relatos que se tem, dão conta de que ele completou “as primeiras letras em escola da vizinhança” (Perfis Parlamentares: 2014, pág. 16).

Nesse sentido, me parece equivocada a biografia de SAMU no sítio da Academia Paraibana de Letras – APL, quando fala do patrono fundador da Cadeira nº 33: “A inteligência de Samuel Duarte despertou a atenção do direitor da escola, professor Elísio Sobreira....”.

Elysio Sobreira não era professor, pois ingressara em 1912 na Força Pública Estadual como Alferes, onde galgou carreira militar, chegando ao posto de Tenente-coronel da corporação, da qual também é patrono. O pai de Elysio, por sua vez, Professor Juviniano Sobreira, era proprietário de um internato em Esperança, da qual foram alunos o seu filho e o poeta Silvino Olavo.

Em última análise poderia se atribuir o início desse ensino primevo de Samuel a Elídio (com D) Sobreira, professor de Lagoa de Roça, onde há uma escola com o seu nome. Mas nunca a Elisio (com S) em que pese a sua vocação para o ensino da  música como regente de bandas marciais.

Duarte de Almeida, jornalista paraibano, chega mesmo a identifica-lo como filho de Esperança, quando deixando esse Município, segue para a Capital do Estado, para estudar no Seminário Arquidiocesano:

Samuel Duarte, filho de agricultores, remediados, muito apegado à sua família, deixava o Município de Esperança onde nascera para tentar o futuro, na capital do estado. [...] voltaria depois de formado a atuar como advogado de causas pouco rendosas em sua terra natal, Esperança, onde se defrontou com o rábula Severino Irineu Diniz, sendo derrotado em algumas delas” (Perfis Parlamentares: 2014, pág. 309).

Essa mesma conclusão tem Cleodon Coelho, ao mencionar os ilustres vultos esperancenses: “Município de Esperança terra que tem a ilustrar-lhe o nome valores intelectuais que dignificam as letras paraibanas Silvino Olavo e Samuel Duarte, o primeiro poeta de muito valor, o segundo intelectual, jurista e jornalista” (Guarabira através dos tempos. Livraria Nordeste: 1955).

E a própria Revista da APL – Academia de Letras da Paraíba: “[...] a antiga vila de Banabuié, que tão belos espíritos tem dado à Paraíba: um Silvino Olavo; um Samuel Duarte, por exemplo” (APL, Revista: 1947).

É inegável que seja filho de Lagoa de Roça, essa terra tão querida, ainda que à época os seus termos pertencessem a Alagoa Nova. Permanece, entretanto, o vínculo emotivo com Esperança, da qual Samuel nunca se afastara.

O Dr. João Batista Bastos, ex-Procurador Jurídico do Município de Esperança, em suas reminiscências, publicadas no blog “Revivendo Esperança”, relata que Samuel “viveu radicado em Esperança, onde vários familiares residiram e ainda residem”. Este autor que vos escreve conheceu pessoalmente Dona Niná, que era casada com o seu irmão Sebastião Duarte.

De todos, me parece feliz as considerações de Odaildo Taveira Rocha, quando prefeito de Esperança (1977/1980), ao decretar luto oficial, por ocasião de seu passamento:

“[...] estava mais ligado à cidade de Esperança não só por laços afetivos e familiares como também por laços políticos; [...] o Dr. Samuel Vital Duarte passou sua infância e mocidade nesta cidade, onde aprendeu as primeiras letras e de onde seguiu para o Seminário Arquidiocesano da Paraíba, para o Liceu Paraibano e posteriormente para a Faculdade de Direito do Recife, onde se formou e foi orador oficial da turma; [...]” (Decreto s/n, de 04 de dezembro de 1979).

Entrementes, a sua ligação com a cidade de Esperança vai além do vínculo telúrico e educacional, pois tinha nessa cidade o seu maior campo político, conforme nos explica José Octávio:

Sua principal base eleitoral localizava-se em Esperança, o que explica as reuniões políticas que ali procedia e denominação que terminou emprestando ao fórum da cidade” (Paraíba – Nomes do Século, pág. 11).

Nesse sentido, aqueles que almejavam uma cadeira na Assembleia Estadual, sabedores de sua base eleitoral em Esperança, buscavam apoio de Samuel, com o objetivo de contar o seu eleitorado nessa cidade.

Samuel faleceu em 03 de dezembro de 1979, aos 75 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Em sua telúrica terra natal (Esperança), além do luto oficial decretado por três dias, recebeu a homenagem de figurar seu nome no fórum judicial.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- ALPB, Academia de Letras da Paraíba. Site disponível em: http://novo.aplpb.com.br/academia/academicos/cadeiras-31-a-40/231-n-33-fundador-samuel-vital-duarte, acesso em 26/22/2021.

- APL, Revista da Academia Paraibana de Letras. Volumes 1. João Pessoa/PB: 1947.

- BASTOS, João Batista. Revivendo Esperança. Blog disponível em http://revivendoesperanca.blogspot.com, acesso em 26/11/2021.

- CÂMARA, Epaminondas. Datas Campinenses. Departamento de Publicidade. Paraíba: 1947.

- COELHO, Cleodon. Guarabira através dos tempos. Livraria Nordeste: 1955.

- DEPUTADOS, Boletim da Biblioteca da Câmara. Volume nº 14, Nº 01. Edições da Câmara. Brasília/DF: 1965.

- ESPERANÇA, Prefeitura Municipal (de). Decreto s/n. Gabinete do Prefeito. Edito de 04 de dezembro. Esperança/PB: 1979.

- MELLO, José Octávio de Arruda. Samuel Duarte. Perfis parlamentares nº 70. Centro de Documentação e Informação. Edições Câmara. Brasília/DF: 2014.

- SILVA FILHO, Lino Gomes (da). Síntese histórica de Campina Grande, 1670-1963. Ed. Grafset: 2005.

Referências:

- ALPB, Academia de Letras da Paraíba. Site disponível em: http://novo.aplpb.com.br/academia/academicos/cadeiras-31-a-40/231-n-33-fundador-samuel-vital-duarte, acesso em 26/22/2021.

- APL, Revista da Academia Paraibana de Letras. Volumes 1. João Pessoa/PB: 1947.

- BASTOS, João Batista. Revivendo Esperança. Blog disponível em http://revivendoesperanca.blogspot.com, acesso em 26/11/2021.

- CÂMARA, Epaminondas. Datas Campinenses. Departamento de Publicidade. Paraíba: 1947.

- COELHO, Cleodon. Guarabira através dos tempos. Livraria Nordeste: 1955.

- DEPUTADOS, Boletim da Biblioteca da Câmara. Volume nº 14, Nº 01. Edições da Câmara. Brasília/DF: 1965.

- ESPERANÇA, Prefeitura Municipal (de). Decreto s/n. Gabinete do Prefeito. Edito de 04 de dezembro. Esperança/PB: 1979.

- MELLO, José Octávio de Arruda. Samuel Duarte. Perfis parlamentares nº 70. Centro de Documentação e Informação. Edições Câmara. Brasília/DF: 2014.

- SILVA FILHO, Lino Gomes (da). Síntese histórica de Campina Grande, 1670-1963. Ed. Grafset: 2005.


Comentários

  1. Mto bom ler a respeito do meu querido tio Samuel Duarte. Lagoa de Rica- Alagoa Nova-Banabuié-Esperança. Vários nomes e um só coração ❤️

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  2. Canta Galo era um sítio nos arredores de Lagoa de Roça, que era Termo de Alagoa Nova, a quem tb pertencia o Distrito de Banabuié/Esperança.
    CantaGalo, Lagoa de Roça, Alagoa Nova, Bananuié/Esperança. Foi nesse quadrilátero paraibano que os meus bisavós maternos JOAQUIM JOSÉ DUARTE E COSMA PEREIRA DA CONCEIÇÃO DUARTE construíram uma família de 13 filhos, sendo o fim da rama o caçula SAMUEL DUARTE, que se tornaria um dos paraibanos mais ilustres e com que eu tive a alegria e a honra de conviver pelos ano anos 1960/1970. Ele faleceu em 1979, dez anos depois de Silvino Olavo, de quem foi contemporâneo, conterrâneo e admirador. ❤️❤️

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  3. Belo resgate histórico de um (quase) filho ilustre esperancense!
    Parabéns!

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