Pular para o conteúdo principal

A Paraíba, berço do folclore nordestino

 


“A Paraíba, berço do folclore nordestino”. Este é o título que nos foi fornecido pelo jornal “O Rebate”, dirigido por Luiz Gil de Figueiredo, e que trás em sua segunda página as impressões de Irineu Jóffily acerca da cultura popular.

De acordo com o “cronista dos sertões”, a poesia dos cantadores teria origem no nosso Estado, principiando no Sertão, a partir da assimilação dos usos e costumes, aliada a receptividade na região de indivíduos de todas as partes, “hospitalidade que eleva até o acolhimento mais benévolo, generoso mesmo, que se fazia a qualquer viandante” e que “só era praticada, com um dos imperiosos deveres, no sertão”, concluindo o autor de Notas sobre a Parahyba (1892) que “é por tudo isto também que ali nasceu a poesia populari”.

Ao me deparar com o texto, temática essa que nos aproxima, resolvi colecionar para este diário eletrônico as impressões joffilianas sobre os poetas e cantadores d’outrora. O texto a seguir, que também faz parte de suas Notas, é apenas um enxerto do Capítulo XIV, que trata sobre os “Elementos étnicos – usos e costumes”:

A ‘pega’ de um afamado boi brabo servia de assunto à poemas, cujos cantos eram marcados pelas letras do alfabeto, etc.

Décimas, glosas, e o canto a desafio eram de formas mais usadas da poesia popular, em que os louvores à beleza das dunas, a descrição de fenômenos naturais, a vida pastoril etc. serviam de principais assuntos.

E muitos desses trovadores adquiriram merecida fama pelas suas obras, nome genérico dessas poesias, das quais o povo guarda ainda fragmentos impressos em memória.

Nenhuma função teria brilho sem o comparecimento, de um poeta e os mais célebres eram chamados de 30 e 40 e mais léguas, para a ruidosa função de um casamento, entre todas a mais importante.

Para julgar-se do seu merecimento bastava a resposta a esta simples pergunta, que era a primeira a fazer-se por aqueles que n ao tinham tomado parte da festa:

‘Quem foi o cantador?’

Hoje não é mais tanto assim, o sertão; vai perdendo pouco a pouco os seus usos e costumes originais, e a guitarra ou viola, a lira dos vates sertanejos, tem sido cruelmente dizimada em autos de fé.

Entretanto, ainda damos testemunho da admiração que experimentamos ao ouvir diversos desses pobres poetas, dos quais, uns já desaparecerão do número dos vivos e outros talvez ainda existirão.

Esses cantos primitivos, umas vezes descaindo em plangentes melopeias ou toadas dolentes, e outras tomando o cunho de hinos guerreiros, acodem-nos à imaginação neste momento em que são mais intensas as saudades do torrão natal.

As lendas e poesias populares da Parahyba servirão portanto de assunto a outro artigo complementar deste. Jóffily”.

 “O Rebate” nasceu em Esperança, fruto da experiência adquirida por Luiz Gil de Figueiredo junto ao jornal “O Tempo”, de propriedade de José de Andrade. É o próprio filho de Luiz Gil, o jornalista Milton Figueiredo quem afirma, em entrevista a Revista Tudo, publicada em Campina Grande: “Foi na cidade de Esperança que meu pai despertou para o jornalismo, fundando o semanário – O Tempo -, que teve vida efêmera. Irriquieto amigo da caixeta, fundou um outro jornal por nome ‘O Rebate’. Portanto, o ‘Rebate’, nasceu lá em Esperança”.

Irineu Ceciliano Pereira Joffily foi um dos grandes historiadores do seu tempo quando a cavalo percorreu todos os marcos deste Estado para escrever as suas “Notas sobre a Parahyba” (1892) e “Sinopses das sesmarias da Capitania da Parahyba” (1893). A Paraíba deve seu contorno geográfico atual graças aos trabalhos deste incansável pesquisador.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- JÓFFILY, Irineu. Notas sobre a Parahyba. Tipografia do Jornal do Commercio. Rio de Janeiro/RJ: 1892.

- O REBATE, Jornal. Edição de 04 de outubro. Campina Grande/PB: 1943.

- REVISTA TUDO. Tudo em entrevista, por Ronaldo Dinoá. Edição de 11 de novembro. Campina Grande/PB: 1990.

Comentários

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

Capelinha N. S. do Perpétuo Socorro

Capelinha (2012) Um dos lugares mais belos e importantes do nosso município é a “Capelinha” dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Este obelisco fica sob um imenso lagedo de pedras, localizado no bairro “Beleza dos Campos”, cuja entrada se dá pela Rua Barão do Rio Branco. A pequena capela está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa “ lugar onde primeiro se avista o sol ”. O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Consta que na década de 20 houve um grande surto de cólera, causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira, teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal.  Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à ...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

História de Massabielle

Capela de Massabiele Massabielle fica a cerca de 12 Km do centro de Esperança, sendo uma das comunidades mais afastadas da nossa zona urbana. Na sua história há duas pessoas de suma importância: José Vieira e Padre Palmeira. José Vieira foi um dos primeiros moradores a residir na localidade e durante muitos anos constituiu a força política da região. Vereador por seis legislaturas (1963, 1968, 1972, 1976, 1982 e 1988) e duas suplências, foi ele quem cedeu um terreno para a construção da Capela de Nossa Senhora de Lourdes. Padre Palmeira dispensa qualquer apresentação. Foi o vigário que administrou por mais tempo a nossa paróquia (1951-1980), sendo responsável pela construção de escolas, capelas, conclusão dos trabalhos do Ginásio Diocesano e fundação da Maternidade, além de diversas obras sociais. Conta a tradição que Monsenhor Palmeira celebrou uma missa campal no Sítio Benefício, com a colaboração de seu Zé Vieira, que era Irmão do Santíssimo. O encontro religioso reuniu muitas...

Afrescos da Igreja Matriz

J. Santos (http://joseraimundosantos.blogspot.com.br/) A Igreja Matriz de Esperança passou por diversas reformas. Há muito a aparência da antiga capela se apagou no tempo, restando apenas na memória de alguns poucos, e em fotos antigas do município, o templo de duas torres. Não raro encontramos textos que se referiam a essa construção como sendo “a melhor da freguesia” (Notas: Irineo Joffily, 1892), constituindo “um moderno e vasto templo” (A Parahyba, 1909), e considerada uma “bem construída igreja de N. S. do Bom Conselho” (Diccionario Chorográfico: Coriolano de Medeiros, 1950). Através do amigo Emmanuel Souza, do blog Retalhos Históricos de Campina Grande, ficamos sabendo que o pároco à época encomendara ao artista J. Santos, radicado em Campina, a pintura de alguns afrescos. Sobre essa gravura já havia me falado seu Pedro Sacristão, dizendo que, quando de uma das reformas da igreja, executada por Padre Alexandre Moreira, após remover o forro, e remover os resíduos, desco...