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Egídio Lima e a Revista Ariús

 


Egídio de Oliveira Lima nasceu em Esperança em 04 de junho de 1904. Poeta popular, jornalista e autodidata, destacou-se ainda como folclorista e escritor de cordéis cuja maior parte fazem parte do acervo da Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Sua principal obra foi “Os Folhetos de Cordel”, uma antologia que reúne diversos versos produzida pela Editora Universitária em 1978.

No ano de 1937, foi residir em Campina Grande-PB, participando ativamente da vida literária daquela cidade, juntamente com os intelectuais de sua época, a exemplo de Lino Gomes que “reunia diariamente os vultos políticos e as inteligências salientes nas discussões de uns e nos elogios de outros assuntos” (LIMA, 1949, p. 15).

Foi redator e colaborador das revistas “Ariús” (Campina Grande) e “Manaíra” (João Pessoa), além de dirigir a revista “As fogueiras de São João” (1941).

A respeito da “Revista Ariús” da qual também foi diretor, nos informa o jorna O Norte em seu expediente “Jornais e Revistas” que essa era uma “simpática e prestigiosa revista campinagrandense” cujas reportagens e fotografias “constituem nesse exemplar uma surpresa de ‘Ariús’ para a publicidade provinciana” (Edição de 24/02/1953).

O folhetim era distribuído para venda nas cidades de Recife, João Pessoa e Campina Grande onde gozava de bom público e admiradores, e conforme esclarece a reportagem d’O Norte essa “revista está sendo lida em toda parte, cuja edição anterior fora esgotada no seu primeiro mês de circulação”, acentuando aquele diário que a revista era:

“[...] orientada pelo jornalista Egídio de Oliveira Lima que visa manter, mensalmente, no Nordeste Brasileiro, um órgão de cultura, divulgação e arte através de cooperação valiosa de intelectuais e artistas que podem, muito bem, apresentar ao mundo o seu grau de realizações neste setor da publicação ilustrada.

Conservando a diretriz das publicações feitas na edição passada, ‘Arius’ continuará a exibir os melhores escritos de pensadores nordestinos e, sobretudo, nacionais” (O Norte: 24/02/1953).

A tiragem da revista era de cinco mil exemplares que, em sua primeira edição, publicada em 10 de outubro de 1952, trouxe os versos de improviso de Leandro Gomes de Barros, declamados pelo Professor Luís Gil de Figueiredo, quando esse residia em Esperança:

“Leandro Gomes de Barros

escritor paraibano,

no ofício de escrever

trabalha com calma e plano,

tem fama de repentista,

escritor e romancista,

tem folhetos mais de mil,

é ainda no Brasil

o seu primeiro humorista

 

Egídio narra que o próprio Leandro lia os seus versos nas feiras livres do interior: “Lia-os, recitava-os e improvisava-os. Este era o se maio mérito”.

Na segunda tiragem, publicada no dia 30 de janeiro de 1953, trazia alguns escritos de “nomes famosos nas letras da cidade rainha” e outros de renome, a saber: Padre Manoel Otaviano (A Mata), João Lélis (Piquete dos come-longe”), Hortênsio de Souza Ribeiro e Josy Santiago (Ariús), Epaminondas Câmara (Eu era quase ateu), Fernando Tavares (Entre Bernardo Vieira e Tiradentes), Absísio Prazeres (Dia da Bandeira).

Egídio era membro do Clube Literário de Campina Grande e da Associação Paraibana de Imprensa (API) juntamente com José Leite Sobrinho, Luiz Gil de Figueiredo e Pedro D’Aragão.

A revista que era impressa em João Pessoa circulou entre os anos 1952 à 1955, tendo sempre boa aceitação de público, até que nos anos 60 do Século passado Egídio, que era membro do Clube Literário de Campina Grande, foi residir em João Pessoa.

 

Rau Ferreira

Referências:

- ALMEIDA, ÁTILA Augusto F. (de). SOBRINHO, José Alves. Dicionário bio-bibliográfico de repentistas e poetas de bancada, Volumes 1-2. Ed. universitária: 1978.

- ARIÚS, Revista. Os cem melhores folhetos de Leandro Gomes de Barros, por Egídio Lima. Edição de 10 de outubro. Campina Grande/PB: 1952.

- ARTES, Correio (das). Ano LXVIII, Nº 06. Suplemento do jornal A União, edição de agosto. João Pessoa/PB: 2017.

- DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Jornal. Edição de 09 de julho. Recife/PE: 1950.

- DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Jornal. Edição de 05 de agosto. Recife/PE: 1953.

- LESSA, Orígenes. Getúlio Vargas na literatura de cordel: ensaio. 2ª Edição. Ed. Moderna: 1982, p. 9 e 13;

- LIMA, Egídio de Oliveira. Campina e um mestre de três gerações. Revista Manaíra, Ano X, nº63. Edições de maio e junho. João Pessoa/PB: 1949.

- LIMA, Egídio de Oliveira. Os Folhetos de Cordel. Ed. Universitária/UFPb: 1978.

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