Egídio de Oliveira Lima
(1904/1965) foi poeta popular, jornalista e autodidata, destacando-se, ainda, como
folclorista e escritor de cordéis cuja maior parte fazem parte do acervo da
Casa de Rui Barbosa no Rio de Janeiro.
Como
cordelista, publicou mais de trinta títulos, dos quais citamos: Desafio de João
Silveira com Egídio Lima (Tipografia Luzeiro do Norte), Parahyba de Luto: o bárbaro
assassinato do presidente João Pessoa em Recife (sob o pseudônimo de Zé
Parahybano), A Miséria de 1930 e o Choro de 1931.
Assim,
são de sua autoria os seguintes versos:
“A morte de João
Pessoa
É um crime
que clama aos céus
A barbaridade
é tanta
Que comove o
próprio Deus!
Pois o grande
presidente
Só o bem
fazia aos seus”
............................................
O presidente Pessôa
Resolvera
visitar
O juiz Dr.
Cunha Mello
Tendo que se
transportar
A Recife onde
o amigo
Talvez
tivesse a espirar!
(Parahyba de luto: Lima: 1930).
“No Estado da
Parahyba
Gente que viu
contou:
A choradeira
faz pena,
Até a creança
(sic) chorou
Não há quem não
se condôa
Da morte de
João Pessoa
Da falta que elle
(sic) deixou”
(A Mizéria de 1930: Lima, 1931).
Outros títulos do
autor são: O ABC do Eleitor; O Brasil pegando fogo e o vulcão de 1930; A
caipora do sapateiro; Catan, o filho da floresta; O choro dos flagelados e a
crise dos sertanejos; A chuva de gelo seco; A explicação da santa missa; A
fartura no sertão; O filho que arrancou o coração da própria mãe; O fim do
mundo; História da vida e morte do cantador José Duda; História de Palmira e
Avelino; História de um casamento infeliz; História do castelo encantado; José
Marques de Almeida Sobrinho, candidato a deputado estadual; Quando o povo quer não
falha a sua vontade; O julgamento dos mortos; Louvores a candidatura de José de
Moura; O mais novo aviso do Padre Cícero Romão Batista; A maldição de Caim; A
morte do padre Cícero Romão; A mulher advogado; A mulher do cachaceiro; Ozita,
a moça que faz milagre; Peleja de Egídio Lima com Clidenor Varela sobre a
escritura sagrada; Pelaja de Elias com Egídio D’Oliveira Lima; A revolta dos
chaufers; A revolução de São Paulo; Os sete dias da semana; O sonho misterioso
e a profecia do padre Cícero do Juazeiro.
Colecionador de
cordéis, o seu acervo foi adquirido pela Universidade da Paraíba e depois doado
à Casa de Rui Barbosa.
Átila Almeida,
comentando o material do colega escritor, disse que “Na época em que Egídio se
interessou pela literatura de cordel o assunto merecia profundo desprezo de
todos os letrados paraibanos”.
Cabe-nos, porém,
fazer a seguinte ressalva: nem todos desprezavam essa arte, muitos a tinha com
grande galhardia, a exemplo de José Lins do Rego, que entrevista disse que a
cultura popular, em especial os cegos cantadores, muito influenciou a sua formação
(Poesia e vida. Editora Universal: 1945, p. 54).
O poeta conterrâneo de Egídio - Silvino Olavo da Cota
- se diz admirador desta escola popular e defensor da brasilidade: “Somos um
povo nascente com imensas possibilidades e vastos horizontes”.
Narra o vate que na sua infância, o cordel era leitura
obrigatória nas reuniões familiares e muitos repentistas costumavam frequentar a
fazenda de sua família, e acrescenta:
“Já
me parecem lendárias as figuras de Francisco Romano, Inácio da Catingueira e
Silvino Pirauá, que a admiração de meu pai estava constantemente a referir na
minha infância.
E
em casa de meu avô era matéria obrigatória de serões a leitura desse folhetos em
que se pagavam em justas, ao som da viola, esses improvisadores geniais, sempre
ciosos da sua força satírica diante do adversário, em jamais se confessarem vencidos,
um ao outro.
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Modismos,
adágios populares, superstições, linguagens, idiotismos, tudo enfim que possa
ser o gérmen do que mais tarde venha constituir as fontes e correntes locais da
nossa literatura, tudo ele aproveita com o senso patriótico de uma obra imensa,
cheia de abnegação e benemerência” (OLAVO, Silvino. De Folklore. A União:
1926).
Egídio de Oliveira
Lima é patrono da Cadeira nº 22 da Academia de Letras e Artes do Nordeste. Uma
rua no bairro de Nova Brasília em Campina Grande e uma praça no bairro dos
Bancários, em João Pessoa, foi assim denominada em sua homenagem.
Rau Ferreira
Referência:
- ALMEIDA, ÁTILA Augusto F. (de). SOBRINHO,
José Alves. Dicionário bio-bibliográfico de repentistas e poetas de
bancada, Volumes 1-2. Ed. universitária: 1978, p. 158.
- FERREIRA, Rau. João Benedito: o mestre da
cantoria (um conto de repente). 2ª Edição. Edições Banabuyé. Esperança/PB:
2017.
- LIMA, Egídio de Oliveira. Os Folhetos de Cordel.
Ed. Universitária/UFPb: 1978.
- RAPOSO, Thiago Acácio. Nas tramas dos versos
[manuscrito]: a construção do herói João Pessoa na literatura de cordel
nordestina (1928-1931). Trabalho de conclusão de curso. Graduação em História.
Ceduc/DH. UEPB. Campina Grande/PB: 2016.
- REGO, José Lins (do). Poesia e vida. Editora Universal:
1945.
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