Pular para o conteúdo principal

O reduto Udenista, por Tony Veríssimo


O REDUTO UDENISTA
“Por 15 votos”


Através do Decreto-Lei estadual nº 520, de 31 de dezembro de 1943, o município de Campina Grande cedeu ao município de Esperança as terras que correspondem ao atual município de Montadas, que à época fazia parte do distrito campinense de Pocinhos. Tal território ficou sobre domínio de Esperança até 14 de outubro de 1963, quando o distrito de Montada foi elevado à categoria de município, sendo-lhe acrescido um ‘s’ ao seu nome, passando a terminologia para o plural.

Em 1947,
Prefeito Constitucional
De Esperança Júlio Ribeiro,
Interventor municipal.
Elevou Montadas a distrito
Com seu limite geral.

Ao Norte a começar:
Na boca da Lagoa Salgada
Com distinta lagoa da Marcella,
Por uma fluvial estrada
Que desde Catolé a Marcella
Em Manguape de Baixo citada.

Ao Nascente pela estrada
De Marcella a Campinote;
Ao Sul pela estrada
Fluvial e de transporte
De Lagoa de Roça a Lagoa do Açude
Ponto de linha mais forte.

Por es estrada este limite
Ao Maxixe é dirigido;
Mais adiante com o município
De Puxinanã vai unido
De Maxixe até Mares Preto
Com ele ainda é dividido.

Ao Poente com município
De Pocinhos pela estrada:
De Mares Preto a Lagoa de Dentro
Até a Lagoa Salgada,
Há encontrar a linha Norte
Aonde foi começada.[1]
De 1945 a meados da década de 1960, Esperança era dividida basicamente por dois grupos políticos: o PSD e a UDN. O PSD dominava a zona urbana e tinha forte influência sobre distrito de Areial; concentrava em suas fileiras a elite local de visão centro-esquerda. A UDN dominava a zona rural, sendo o seu principal baluarte o povoado de Montada, representando assim os grupos rurais mais pobres, composta por trabalhadores e conservadores de visão centro-direita.
Em 1947, ocorreu a primeira eleição direta para prefeito e vereadores no município de Esperança, visto que até então os gestores eram nomeados pelo governador do estado através intervenção municipal. Disputaram aquele pleito Júlio Ribeiro da Silva (UDN) e Severiano Pereira da Costa (PSD). Tal pleito foi o mais acirrado da história política do município de Esperança, seja tanto pela diferença final do número de votos ou por sua porcentagem.
A localidade de Montada era liderada por Antonio Veríssimo de Souza, que fazia parte da ala udenista do município de Esperança. Sua influência política era esmagadora sobre a região montadense, o que logo gerou aproximação com Joaquim Virgolino e Júlio Ribeiro, os quais comandavam a UDN no município de Esperança.
Urna a urna, voto a voto, a eleição pleiteada por Júlio Ribeiro e Severiano Pereira foi disputadíssima. Na medida que as urnas iam sendo abertas e apuradas, Severiano sempre apresentava uma pequena margem de votos ao seu favor. Como de costume, desde a eleição anterior, a urna advinda do povoado de Montada sempre era a última a ser contabilizada. Cédula a cédula, os udenistas começaram a diminuir a diferença, enquanto os partidários do PSD que fiscalizavam a apuração começavam a ficar atônitos olhando um para os outros. Os fiscais e políticos udenistas, que também acompanhavam internamente a apuração, começaram a se entusiasmar, vendo que a urna montadense estava mudando o resultado da eleição. Ao final da contagem, o senhor Júlio Ribeiro (UDN) obteve 1.282 votos e o senhor Severiano da Costa (PSD) 1.267 votos, fazendo de Júlio Ribeiro o 1º prefeito eleito do município de Esperança, por uma pequeníssima vantagem de apenas 15 (quinze) votos.
Como prefeito municipal de Esperança, o senhor Júlio Ribeiro da Silva (UDN), decidiu, por força da Lei Municipal nº 5, de 10 de fevereiro de 1948, implantar escolas nas zonas rurais Riacho Fundo, Mares Preto e Lages. Essas escolas eram residenciais, onde as lecionadoras recebiam os alunos em suas casas para instrui-las no ensino. Posteriormente a pedido do senhor Antonio Veríssimo de Souza, como forma de melhor atender a localidade montadense, o prefeito Júlio Ribeiro através de intermediações junto ao governo do presidente Gaspar Dutra, construiu um grupo escolar no povoado de Montada, recebendo o nome de Grupo Escolar Maria José de Souza, em homenagem a mãe do senhor Antonio Veríssimo que tinha falecido em 1928.
Através da Lei Municipal nº 27, de 29 de março de 1949, o prefeito Júlio Ribeiro (UDN) criou o Serviço Municipal de Estradas e Rodagens, equivalente aos dias atuais a Secretaria de Infraestrutura. Tal órgão tinha como objetivo não apenas administrar, fiscalizar, conservar e executar serviços viários, mais também construir, reconstruir e melhorar o plano rodoviário interno. O plano inicial consistia em:

·        Alargar a estrada de Esperança à Lagoa Salgada;
·        Construir uma estrada de Lagoa Salgada a Montada;
·        Construir uma estrada de Montada aos limites de Campina Grande via Puxinanã;
·        Construir um ramal de Areial aos limites de Campina Grande até o lugar chamado de Bom Jesus, ligando este até Algodão;
·        Construir um ramal partindo de Lagoa de Pedra ao lugar chamado de Coelho, na estrada Remígio a Algodão;
·        Construir de obras d’arte nas estradas de Esperança ao Riacho do Boi, nos limites com o município de Areia; e de Esperança aos limites de Campina Grande no lugar chamado de Riacho Amarelo.

O prefeito Júlio Ribeiro, ainda buscou em 1948, construir um tanque de pedra para melhor prover o abastecimento de água do povoado de Montada, em terras pertencentes ao senhor José Veríssimo de Souza, pai de Antonio Veríssimo, mas a obra não foi continuada visto as dificuldades financeiros do período, algo que só veio a se concretizar entre 1967/68, quando Montadas já tinha sido emancipada politicamente.

Tony Veríssimo*

* Antonio Veríssimo de Souza Segundo, mas conhecido como Tony Veríssimo, nasceu em Esperança/PB, em 22 de março de 1988, residindo desde então em Montadas/PB. É bacharel em teologia pela Universidade Católica do Pernambuco – UNICAP e atualmente é acadêmico da faculdade de Direito da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, além de ser o principal pesquisador, escritor e historiador autodidata da história do município de Montadas. Foi servidor público da Prefeitura Municipal de Montadas durante o período 2007-2008; 2010-2012 e 2017-2018. Foi o criador dos símbolos municipais de Montadas/PB, entre eles a bandeira, brasão de armas do município e da Câmara Municipal, bem como co-autor dos arranjos do hino municipal. Em 2005, foi responsável pela fundação da Banda Marcial Antonio Veríssimo de Souza. Foi criador do site conservador Eu Sou Azul, o qual periodicamente é colunista.

Referências:
ESPERANÇA. Lei nº 5, cria escolas municipais e subvenciona as mesmas. Esperança. 10 de fevereiro de 1948.
___________. Lei nº 27, cria o Serviço Municipal de Estradas e Rodagens e dá outras providências. Esperança. 29 de março de 1949. 
LIMA., História do que foi e o que é Montadas. [s.n], 1966.
MEDEIROS, J. R. C. Dicionário Coriográfico do Estado da Paraíba. 4ª. ed. João Pessoa: IFPB, 2016. ISBN: 978-95-63406-78-1.
PARAÍBA. Tribunal Regional Eleitoral. Sistema de Histórico de Eleições. Resultado de Eleições na Paraíba. 2020. Disponível em: < http://www.tre-pb.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/resultados-de-eleicoes>. Acesso: 4 mai 2020.




[1] LIMA., História do que foi e o que é Montadas. [s.n], 1966, p. 15.

Comentários

  1. Bom! Muito bom. Agora, de posse dessas informações, vou atualizar minha postagem: https://reeditadas.blogspot.com/2018/08/logradouros-distrito-de-montadas-cpte.html

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

A Pedra do Caboclo Bravo

Há quatro quilômetros do município de Algodão de Jandaira, na extrema da cidade de Esperança, encontra-se uma formação rochosa conhecida como “ Pedra ou Furna do Caboclo ” que guarda resquícios de uma civilização extinta. A afloração de laminas de arenito chega a medir 80 metros. E n o seu alto encontra-se uma gruta em formato retangular que tem sido objeto de pesquisas por anos a fio. Para se chegar ao lugar é preciso escalar um espigão de serra de difícil acesso, caminhar pelas escarpas da pedra quase a prumo até o limiar da entrada. A gruta mede aproximadamente 12 metros de largura por quatro de altura e abaixo do seu nível há um segundo pavimento onde se vê um vasto salão forrado por um areal de pequenos grãos claros. A história narra que alguns índios foram acuados por capitães do mato para o local onde haveriam sucumbido de fome e sede. A s várias camadas de areia fina separada por capas mais grossas cobriam ossadas humanas, revelando que ali fora um antigo cemitério dos pr

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele

Barragem de Vaca Brava

Açude Vaca Brava, Canalização do Guari (Voz da Borborema: 1939) Tratamos deste assunto no tópico sobre a Cagepa, mais especificamente, sobre o problema d’água em Esperança, seus mananciais, os tanques do Governo e do Araçá, e sua importância. Pois bem, quanto ao abastecimento em nosso Município, é preciso igualmente mencionar a barragem de “Vaca Brava”, em Areia, de cujo líquido precioso somos tão dependentes. O regime de seca, em certos períodos do ano, justifica a construção de açudagem, para garantir o volume necessário de água potável. Nesse aspecto, a região do Brejo é favorecida não apenas pela hidrografia, mas também pela topografia que, no município de Areia, apresenta relevos que propiciam a acumulação das chuvas. O riacho “Vaca Brava”, embora torrencial, quase desaparece no verão. Para resolver o problema, o Governador Argemiro de Figueiredo (1935/1940) adquiriu, nos anos 30, dois terrenos de cinco engenhos, e mais alguns de pequenas propriedades, na bacia do açude,

Ruas tradicionais de Esperança-PB

Silvino Olavo escreveu que Esperança tinha um “ beiral de casas brancas e baixinhas ” (Retorno: Cysne, 1924). Naquela época, a cidade se resumia a poucas ruas em torno do “ largo da matriz ”. Algumas delas, por tradição, ainda conservam seus nomes populares que o tempo não consegue apagar , saiba quais. A sabedoria popular batizou algumas ruas da nossa cidade e muitos dos nomes tem uma razão de ser. A título de curiosidade citemos: Rua do Sertão : rua Dr. Solon de Lucena, era o caminho para o Sertão. Rua Nova: rua Presidente João Pessoa, porque era mais nova que a Solon de Lucena. Rua do Boi: rua Senador Epitácio Pessoa, por ela passavam as boiadas para o brejo. Rua de Areia: rua Antenor Navarro, era caminho para a cidade de Areia. Rua Chã da Bala : Avenida Manuel Rodrigues de Oliveira, ali se registrou um grande tiroteio. Rua de Baixo : rua Silvino Olavo da Costa, por ter casas baixas, onde a residência de nº 60 ainda resiste ao tempo. Rua da Lagoa : rua Joaquim Santigao, devido ao

Mercês Morais - Miss Paraíba 1960

  Esperança-PB sempre foi conhecida por ser uma cidade de gente bonita, e moças mais belas ainda. A nossa primeira Miss foi a Srta. Noêmia Rodrigues de Oliveira, vencedora do concurso de beleza realizada no Município em 1934. Segundo o Dr. João Batista Bastos, Advogado local: “ Noêmia era uma mulher de boa presença, vaidosa, elegante e bonita ”. Ela era filha de do Sr. Manoel Rodrigues de Oliveira e dona Esther Fernandes. Entre as beldades, a que mais se destacou foi a Srta. Maria das Mercês Morais, que após eleita em vários concursos na Capital, foi escolhida “Miss Paraíba de 1960”, certame esse promovido pelos Diários Associados: “ Maria Morais, que foi eleita Miss Paraíba, depois de um pleito dos mais difíceis, ao qual compareceram várias candidatas do interior. Mercês representa o Clube Astréa, que vem, sucessivamente, levantando o título da mais bela paraibana, e que é, também, o ‘mais querido’ do Estado ” (O Jornal-RJ, 29/05/1960). “ Mercês Morais, eleita Miss Paraíba 196