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Pereira da Silva: o apóstolo da beleza


Nasceu Antônio Joaquim PEREIRA DA SILVA em Araruna, na Serra da Borborema, aos 09 de novembro de 1876. E foi aos 14 anos para o Rio de Janeiro, onde cursou o Liceu de Artes e Ofícios, trabalhou na Estrada de Ferro da Central do Brasil e fez Escola Militar; trabalhou nos Correios, foi crítico literário e também atuou em alguns jornais e revistas do Rio de Janeiro. Bacharelou-se em Direito e foi nomeado Juiz de Direito no Paraná, mas demitiu-se e retornou ao seu retiro carioca, onde dedicou-se às lides literárias.
Silvino Olavo da Costa nasceu na Banabuyé em 27 de julho de 1897. Trabalhou nos Correios, foi revisor de jornais, publicou nas principais revistas de sua época. Cursou Direito, foi nomeado 1º Promotor da Capital paraibana, membro do Conselho Penitenciário e chefe de gabinete do Presidente João Pessoa.
Não sabemos ao certo em que momento surgiu a amizade, mas o certo é que Silvino Olavo lhe dedicara todo um capítulo de seu livro “Cysnes” (1924): “O mestre, meu irmão mais velho na mesma dor estética”. O autor de “Solitudes” (1918) retribuíra ao comentar lhe o primeiro opúsculo:
Silvino Olavo é um temperamento de poeta, atraindo a simpatia e a mais justa admiração dos leitores.
A sua sensibilidade é autêntica e a sua arte se apresenta com uma feição própria.
Nesta hora em que são raríssimos os que mantém a harmonia interior indispensável ao ritmo da verdadeira beleza o seu espírito é sereno e justo em todos os seus impulsos”.

Mas o que queremos trazer à baila, é a tenacidade crítica do poeta dos Cysnes, ao comentar a recente indicação de Pereira da Silva para a Academia Brasileira de Letras, em artigo publicado n’A União:
O artista silencioso de “Solitudes” é, por educação e por temperamento, uma alma em perpétuo retiro de beleza.
Simples, sincero na sua displicência para os fascínios da glória, comuvente na sua modéstia que às vezes raia pela timidez, vive afastado do bulício das cotterles literárias, meditando em silêncio os seus motivos de arte, indiferente à maledicência ou à consagração dos medíocres.
A indicação do seu nome para a Academia de Letras ele a recebe sempre como uma homenagem de amigos. Não lhe parece bem fazer o que todos fazem: apresentar-se ele próprio aos votos daquela Companhia, cuja crônica de suas eleições está cheia de episódios sôfregos e cômicos...
Candidato à vaga de Olavo Bilac por esforço do seu grande amigo Castro Menezes, foi vencido no pleito por Amadeu Amaral.
Até hoje não se sabe a razão da preferência. Nem sequer possuía o sr. Amadeu automóvel de passeio que pudesse merecer os elogios do sr. Goulart de Andrade como possui o sr. Cláudio de Souza...
Agora é novamente lembrado o nome de Pereira da Silva à Academia Brasileira de Letras por uma sugestão solicita de amigos.
Truísmo intolerável seria, para quantos conhecem o Brasil a arte de Pereira da Silva, asseverar que a confirmação desse propósito significa apenas um justíssimo louvor à obra desse grande Poeta.
Em todo o ciclo da nossa história literária a personalidade de Pereira da Silva se destaca, não como o autor de uma arte poética nova, mas como o autor incontestável de uma poesia inteiramente à parte. Entre os da geração em que surgiu, ao lado dos últimos abencerragens (sic) da escola já agora renegada de quase todos, o grupo simpático dos neo-românticos, a figura inconfundível deste solifugo (sic) de gênio aparece como o mais profundo e o mais sentido de todos os nossos poetas.
É o mais sincero dos nossos cantores. Conheço de perto a fé quase religiosa com que ele se dedica ao mister da sua arte aureolada.
Para ele a poesia não é um passatempo. É um aposto ao de renunciação e piedade.
Poeta de vocação, eleito pelas forças sutis da natureza para interpretar lhe a dor, em seus múltiplos aspectos, marcha silencioso e resignado sem olhar em torno, imerso na deliciosa abstração do seu doce evangelismo de bondade.
Olhos fixos no Ideal, alça-se, sonambulo, ao seu alto jardim de misticismo,  nas asas poderosas do Sono, para depois, voltando à realidade, colher aí a dolorosa convicção de que na vida será sempre mal interpretado o seu afã de andar derramando sobre a cabeça das multidões sequiosas de consolo, esse esquisito aroma do sentimento.
Ninguém jamais foi tão longe na compreensão da dor humana.
Se a dor cósmica, em toda a sua ecumênica afeição, sentiu-a como ninguém Augusto dos Anjos, cuja síntese suprema é o seu Lamento das coisas, a dor consciente dos homens tem o seu maior intérprete no autor de “Solitudes”.
O seu pessimismo é amargo, mais não é desesperado como o de Leopardi – o cysne preto de Recanti, ou como o de José Dura – o infeliz tuberculoso do “Fel” que, por se saber irremediavelmente perdido, tinha ódio a toda gente de saúde.
Ao contrário disso, o nosso poeta veio de perfeição em perfeição moral até chegar a esse estado de beatitude que transforma os seixos do caminho em ânforas de nardo e leva à suprema piedade daquele verso de Emiliano Perneta:
- “Vamos rezar pelos que são felizes”.
Sua sensibilidade excepcional lhe causa múltiplos tormentos que as suas forças interiores entretanto não permitem explodir em lenitivas inúteis mas trabalham a sua serenidade filosófica e a sua nobre intuição de beleza.
De todos os traços decisivos e fundamentais de seu caráter, nenhum contribui mais para definir a sua fisionomia moral de que esse fundo de tristeza que não deblatera, enraivecido, mas se resigna, bondoso, na crença de que só para além do “aqui jaz” poderá saciar a sua sede do íntimo levando consigo o profundo segredo da sua musa endolorada:
- “Musa da minha Dor! Que de ventura cisto
Em pensar que vais ter ao menos todo o instinto
Da terra maternal de que és, também oriunda,
Musa da minha Dor, efêmera e profunda!”.

O individualismo estético de Pereira da Silva não reside na forma considerada hoje, para os que acreditam no valor absoluto do processo como a pedra de toque nas definições artísticas.
A sua técnica, embora sujeita às prescrições acadêmicas, tem o cunho personalíssimo do seu estilo. E a sua arte o é sobretudo porque revela uma maneira própria de considerar o existente:
- “Se a morte é sempre o véo que o gênio não descerra,
A vida é o mesmo pó e a terra atrai a terra”.

Eis aí a maneira muito pessoal de sentir deste poeta que a Parahyba tem a honra de lhe haver embalado a infância na pitoresca vila de Araruna.
Apesar de ter isso de cá muito menino, de haver feito toda a sua formação no Rio de Janeiro onde viveu sempre vida de sonhador, vida meditativa e repousada de homem afeito às grandes resignações, não esqueceu ele os quadros rústicos da sua terra.
Há nos seus livros algumas homenagens a estas reminiscências que ficaram na sua alma de paraibano.
A Parahyba não deve ser indiferente a ascenção gloriosa do seu filho que tão nobremente a vem honrando nos centros de maior consagração intelectual do país. Silvino Olavo”.

Pereira da Silva foi eleito para a ALB em 23 de novembro de 1933 e faleceu onze anos depois, em 26 de junho de 1934. Silvino Olavo faleceu em 1969 e participou da Academia de Letras e Ciências Jurídicas (1924).
A fotografia que ilustra essa matéria registra um encontro dos dois poetas em 1924, pelas optivas da revista "Para Todos", num encontro com outros poetas e escritores, dentre os quais: Murilo Araújo, Ruy Castro e Paulo Correia, José Lyra e Adalberto T. de Melo.

Referências:
- A UNIÃO, Jornal. Edição de 10 de dezembro. Parahyba: 1925.
- Wikipédia: pt.wikipedia.org. Antônio Joaquim Pereira da Silva, acessso em 12/04/2020.
- ABL, Site: http://www.academia.org.br/academicos/pereira-da-silva-j/biografia, acesso em 12/04/2020.
 PARA TODOS, Revista. Edição nº 289. Rio de Janeiro: 1924.

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