Por Antônio Veríssimo de Souza Segundo
Enxerto do livro: História
de Montadas, ‘a menina de olhos azuis’ (Em edição)
Até o ano de 1943, o
território de Montada pertencia ao
distrito de paz de Pocinhos, aquela época, parte integrante do município de
Campina Grande. Naquele mesmo período Esperança tinha o menor território
municipal do estado da Paraíba, por isso, suas lideranças políticas vinham
dialogando com as autoridades campinenses para que fosse doado a Esperança uma
pequena parte do gigantesco município campinense, a qual Campina Grande não
conseguia administrar com melhor eficiência.
Com esse
propósito o então prefeito de Campina Grande, Dr. Wergniaud Borborema Wanderley
(1905-1986), decidiu doar, durante a gestão do senhor prefeito esperancense
Sebastião Vital Duarte (1897-1958), as terras equivalentes ao território da povoação de Montada e a zona rural ao Norte
a ela circunvizinha, desde Mari Preto até Lagoa do Açude:
Ao município de Campina
Pertencia essa região
Em janeiro de 1944
Foi feita a doação
Ao município de Esperança
Por ordem Pública e ação.
|
Pelo Prefeito
de C. Grande
Dr. Wergniaud
Wanderley
E de Esperança
Sebastião Vital
Prefeito assim
direi
Foi esse doado
Sob documento
e Lei.[1]
|
A doação
mencionada como de janeiro de 1944, ocorreu por força do Decreto-Lei nº 520 de
31 de dezembro de 1943.[2]
Esse decreto ampliou os limites de Esperança até Mari Preto e Lagoa do Açude,
que eram outras regiões que ficavam englobadas parcialmente entre os distritos
campinenses de Pocinhos e Lagoa Seca e Puxinanã, respectivamente. Ficando assim
estabelecidos os limites de Esperança, à época:
Começando na Lagoa da Marcela, prossegue pelo caminho que vai
até à lagoa do Açude, de onde continua até a frente de uma velha casa, situada
na estrada que vem de Mari Prêto; daí pela mesma estrada, vem ter à lagoa
Salgada, de onde continua pela estrada carroçável que vai a Bananeiras;
prossegue por um caminho que vai ter ao marco nº 3, localizado na fazenda
Cabeço, segue pelo caminho 68, que passa nas propriedades Urubu, Maniçoba e
Meia-Pataca até encontrar o rio Araçagy; sobe por este rio até a foz do seu
afluente, riacho de Pedro Batista, deixando aquele, sobe por este riacho até
alcançar o marco nº 5 (de Areia), colocado à margem da estrada de rodagem que
vai de Areia a Esperança, na Olaria; daí segue em linha reta até alcançar a
nascente do riacho do Boi, desce por esse riacho até sua embocadura, no
Riachão, onde se extremam os municípios de Alagoa Nova e Areia; na foz do
riacho do Boi, no Riachão, sobe por ele, que passa a denominar-se riacho
Amarelo, até a sua nascente e, em linha reta até o marco nº 2, situado à margem
da lagoa da Marcela, ao lado do caminho carroçável de Aldeia Velha a Ariús. (Medeiros, 2016, p. 92)
O devido
Decreto-Lei nº 520/43, também alterou o nome de algumas localidades
circunvizinhas. O distrito de Areial, passou para o topônimo de Ariús, em referência aos nativos da
etnia de mesmo nome que era uma ramificação da nação Tarairiú; o distrito de Pocinhos
passou a ser chamado de Joffily, em
homenagem ao jornalista, advogado, juiz, historiador e político de mesmo
sobrenome, que teria supostamente nascido em terras que atualmente engloba o
território pocinhense; e o distrito de São Sebastião [de Lagoa de Roça], que estava sendo chamada de Bultrim, passou a ser denominado de Aldeia Velha, antigo nome da localidade séculos antes.
Quando o
distrito de Pocinhos iniciou sua luta política pela emancipação de Campina
Grande, através das ações do Pe. José Galvão, este não apenas desejava recuperar
o território campinense doado a Esperança, mas também anexar ao seu território
os distritos campinenses de Boa Vista, São José da Mata e Puxinanã.
O Pe. José
Galvão era ligado aos partidários do PSD, sigla que governava o município de
Esperança desde a eleição do prefeito Francisco Bezerra da Silva, mas conhecido
como Chico Avelino, em 1951. Este
último, por ligações políticas aceitou com passividade a cessão do distrito de Montada e parte do território do
distrito de Novo Areal (Areial) ao
então território de Jofflily (Pocinhos).
Tal decisão criou um clima ebulição na política de Esperança, sendo o então
prefeito considerado “um traidor” dos interesses de Esperancenses.
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Vereador Antônio Veríssimo de Souza |
O vereador
oposicionista, Antonio Veríssimo de Souza (UDN), do então distrito de Montada, comprou a briga contra o
prefeito Chico Avelino e
especialmente contra o Pe. Galvão pela permanência do povoado de Montada e parte de Novo Areal ao município de Esperança, sob forte alegação que
Esperança iria retroceder territorialmente e economicamente, isolado as regiões
do crescimento e desenvolvimento, pois Esperança era bem mais próspera que Jofflily (Pocinhos), bem como tinha uma
atenção maior com a região montadense do que Campina Grande nunca tivera através
de Pocinhos, exceto na área religiosa.
A Câmara
Municipal de Esperança, composta por sete vereadores, era maioritariamente
composta por quatro vereadores do PSD e três da UDN. No entanto, Antonio
Veríssimo conseguiu convencer todos os vereadores, inclusive os situacionistas,
a rechaçarem o posicionamento do então prefeito Chico Avelino em ceder o distrito de Montada a Pocinhos. Seguidamente também convenceu o vice-prefeito
Pedro Mendes de Andrade (PSD) a aderir a causa, inflando assim os interesses
políticos locais em prol da unificação territorial de Esperança face aos
interesses pocinhenses, capitaneados através do Padre Galvão.
A temperatura
da política esperancense aumentou. Críticas a posição do prefeito Chico Avelino eram presentes em todos os
pontos comerciais e clubes da cidade, incluído os jornais. Antonio Veríssimo convenceu
a Câmara a se posicionar contra a posição do chefe do Executivo que assim
procedeu, conforme registro das atas do período.
“Com a palavra o senhor Presidente [Severino Pereira Costa] comunicou aos pares, que o distrito de
Pocinhos do Município de Campina Grande, por intermédio do Padre Galvão, estava
se movimentando no sentido de passar a categoria de Município, e para isso ia
tirar uma faixa de terra do nosso. Continuando o sr. Presidente, disse que isso
era impossível, em vista do nosso município ser o menor do Estado. Foram
tecidas considerações a respeito pelos vereadores presentes. Terminando o sr.
Presidente pediu o apoio dos colegas no sentido de levantar um protesto, junto
a Assembleia Legislativa, no que foi aplaudido calorosamente”. Ata da 3ª sessão ordinária da Câmara
Municipal de Esperança, às 15h de 25 de junho de 1953.
No entanto, o
Pe José Galvão continuava insistente na anexação de Montadas e parte de Areial,
a Pocinhos. Começou então buscar apoio entre líderes políticos locais e a se
posicionar em jornais, como O Norte. Em
contramão, o vereador udenista Antonio Veríssimo de Souza fazia o mesmo, e
decidiu enviar uma carta ao então deputado federal Luiz Bronzeado para que esse
intermediasse e impedisse a ruptura do distrito esperancense de Montada para ser anexado a Pocinhos.
“Na ordem do dia, o vereador Antônio Veríssimo de
Souza, requereu ao sr. Presidente que mandasse o 1º secretário ler uma carta
que lhe foi enviada pelo Deputado Luiz Bronzeado, a respeito da emancipação de
Pocinhos”. Ata da 4ª sessão extraordinária da
Câmara Municipal de Esperança, às 15h do dia 10 de setembro de 1953.
O clímax político foi
as alturas em Esperança, Pocinhos aparentava que conseguiria anexar não apenas
Montadas e parte de Areial, mas também outras regiões do território campinense,
como Boa Vista, Puxinanã e São José da Mata. Para se debater, mais uma vez, a
questão uma sessão especial foi convocada na Câmara de Vereadores de Esperança.
“Em
seguida, o sr. Presidente [Severino Pereira Costa] declarou, que a finalidade da presente sessão, era tão somente,
protestar mais uma vez, à Assembleia Legislativa do Estado, pelo fato de
Pocinhos, que quer constituir município, querer tomar do de Esperança, uma bôa
faixa de terra, compreendida no distrito de Montadas. Logo após êsses
esclarecimentos, o sr. Presidente, juntamente com os vereadores presentes,
servindo-se de um mapa do Município de Esperança, passaram a falar sobre fatos,
que, se relacionam, com o nosso município e sua divisão. Finalizando, o sr.
Presidente, ordenou ao 1º secretário, que oficializasse à Assembleia
Legislativa, formulando vigoroso protesto, no sentido de ser cumprida à risca,
a inviolabilidade dos municípios alheios. Em seguida o Vereador Antonio
Veríssimo de Souza, solicitou do sr. Presidente, que mandasse o 1ºsecretário
ler uma cópia de telegrama, que o mesmo pretendia passar ao Deputado Luiz
Bronzeado, protestando a faixa de terra que o distrito de Pocinhos, quer tomar
de Esperança. Com a palavra o sr. Presidente disse que não era preciso a
remessa do aludido telegrama, porquanto, já se ia enviar um oficio de protesto”
[sic]. Ata da 5ª sessão extraordinária da Câmara Municipal de Esperança, às
15h do dia 1º de outubro de 1953.
Foi travada uma
verdadeira quebra de braço entre os políticos locais e estaduais, pois Campina
Grande não desejava ceder a Pocinhos os distritos de Boa Vista e São José da
Mata. Em Esperança nem mais os vereadores dos mesmos partidos se entendiam. Uma
sessão extraordinária foi convocada para se debater o assunto, mas não houve quórum, pois tudo aparentava que seria uma
convocação para convencer os vereadores a aceitarem a cessão de Montadas e
parte de Areial a Pocinhos, dias depois outra sessão extraordinária foi marcada
e o clima na Câmara foi as alturas principalmente quando o prefeito Chico Avelino encaminhou ao Parlamento
Mirim um ofício tratando da emancipação de Pocinhos com a inclusão de Montadas:
Os udenistas Antonio Veríssimo de Souza de Montadas e Eustáquio Luiz Aquino de
Areial, bem como os PSDistas Sebastião Ataíde Neto e Leosino Pereira da Costa,
discutiam calorosamente entre si:
“Em
continuidade o 1º secretário leu um ofício do sr. Prefeito Municipal, sobe os
limites de Pocinhos com esse município, a respeito da emancipação de Pocinhos,
com a inclusão do distrito de Montadas, deste município. Foram trocados debates
acalorados entre o Vereador Antônio Veríssimo de Souza e o Vereador e Eustáquio
Luiz de Aquino, e o Vereador Sebastião Ataíde Neto e Leosiano Pereira da
Costa”. Ata da 7ª sessão
extraordinária da Câmara Municipal de Esperança, às 15h do dia 1º de outubro de
1953.
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Montadas (1957) |
Por fim, a ação dos
deputados Luiz Bronzeado e Ivan Bichara Sobreiro através de emendas
parlamentares impediram a anexação do distrito de Montada e parte do distrito de Novo
Areal a Joffily (Pocinhos),
permanecendo em território esperancense até a emancipação dos mesmo: Areial em
1961 e Montadas em 1963. Pocinhos foi elevada à categoria de município em 10 de
dezembro de 1953, no entanto no projeto de emancipação ainda foram vetadas a
inclusão dos distritos campinenses de Boa Vista e São José de Mata ao
território pocinhense, sendo apenas anexado o distrito de Puxinanã, que por fim
se emancipou em 1961 e se instalou em 1962.
A ação política do
prefeito Francisco Bezerra da Silva, vulgo Chico
Avelino prejudicou o PSD ao cargo majoritário na comunidade esperancense
nas eleições municipais de 1955. Eles então buscaram se aproveitar do ‘racha político’
na UDN entre Joaquim Virgolino e o ex-prefeito Júlio Ribeiro da Silva, lançando
esse último como candidato a prefeito. O então vice-prefeito Pedro Mendes de
Andrade saiu do PSD e criou o PL (Partido
Libertador), ele tentou colher os louros dos seus esforços pela unificação
do território, mas ficou na terceira colocação. A disputa ficou
prioritariamente concentrada entre Joaquim Virgolino (UND) e Júlio Ribeiro
(PSD).
Uma disputa voto a voto
ocorreu no município de Esperança. Urna a urna sendo abertas colocavam sempre
Júlio Ribeiro a frente de Joaquim Virgolino até que a última urna municipal, a
qual correspondia ao distrito de Montadas foi aberta, virando o resultado do
pleito e colocando a favor de Joaquim Virgolino uma diferença de 97 votos
finais a frente de Júlio Ribeiro. Ao todo foram 1.465 votos para Joaquim
Virgolino (UDN), 1.368 votos para Júlio Ribeiro (PSD) e 747 para Pedro Mendes
(PL).
Uma disputa similar,
porém, ainda mais apertada ocorreu para o cargo de vice-prefeito, sendo as
urnas do distrito de Montadas a responsável, mais uma vez, em alterar o
resultado do pleito. Francisco Celestino da Silva, vulgo Titico do cinema (UDN) foi eleito com 1.455 votos, Manuel Luiz
Pereira (PSD) ficou em segundo com 1.414 votos - apenas 41 votos do
vice-prefeito eleito -, e Antônio Nicolau da Costa (PL) ficou em terceiro com
590 votos.
A virada da disputa
gerou uma verdadeira ovação comemorativo dos udenistas como “um gol no minuto final decidindo uma final
de campeonato”. Os senhores jogavam os chapéus para cima enquanto cercavam
e abraçam, o prefeito eleito, Joaquim Virgolino, o vice-prefeito eleito Titico do cinema e o vereador reeleito
Antonio Veríssimo de Souza. Segundo o último a euforia dos esperancenses pela
virada no resultado da eleição através das urnas de Montadas foi tal emotiva,
que lhe abraçaram tanto, dando-lhe tampas de congratulações nas costas, que
este afirmou que chegou em casa com as costas todas doidas.
Dos vereadores
presentes na Câmara entre 1951 e 1955, apenas os udenistas Antonio Veríssimo de
Souza e Antonio Gomes da Rocha (UDN) conseguiram se reeleger. Antonio Veríssimo
ainda se tornou presidente da Casa Legislativa no período 1957/59. No entanto,
o PSD foi a bancada com maior número de vereadores eleitos, três ao total, o
que forçou o prefeito Joaquim Virgolino da Silva formar uma coalisão com PL de
Pedro Mendes para obter maioria no parlamento, sendo assim dois da UDN e dois do
PL.
Seguidamente, em 1959,
Joaquim Virgolino convidou o senhor Pedro Mendes para a UDN e o apoiou ao cargo
de prefeito de Esperança, mas esse foi derrotado pelo senhor Arlindo Delgado
(PSD).
Antonio Veríssimo de
Souza Segundo
Do livro: História de
Montadas, ‘a menina de olhos azuis’ (Em edição).
[1]
LIMA., História do que foi e o que é
Montadas. [s.n], 1966, p. 14.
[2] MEDEIROS, J. R. C. Dicionário Coriográfico do
Estado da Paraíba. 4ª. ed. João Pessoa: IFPB, 2016. ISBN:
978-95-63406-78-1.
Muito boa. Essa história também é, e como é, Esperancense!
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