Pular para o conteúdo principal

Casamento no Sítio Logradouro, por Ismaell Filipe


Memórias de uma senhora de 91 anos*

            O casamento é um sacramento para os cristãos católicos, um dos mais importantes, pois é dele que nasce uma nova família, nossa primeira instituição social. Várias sociedades possuem seus ritos matrimoniais, de acordo com seus aspectos religiosos e culturais, uma prática que atravessa gerações e são manifestadas de diversas formas.
            Na cidade de Esperança, onde o catolicismo sempre foi dominante e influente, o casamento era algo especial e que merecia ser bastante comemorado. Na zona rural de nossa cidade, especificamente no sítio Logradouro, uma festa de casamento foi realizada com tamanho explendor que ficou na memória de dona Leonila Gomes Freire, atualmente com 91 anos de idade, nascida no sítio Logradouro onde se criou.
            O casamento ocorreu na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Concelho, na presença do cônego João Honório de Melo, no dia 25 de fevereiro de 1945. Nesse dia uniam-se em matrimônio Eustáquio Justino da Nóbrega e Amália Rosa da Silva, minha tia-avó. Eustáquio nasceu em Parelhas, no Rio Grande do Norte, na região do Seridó, filho de João Justino Maceió e de Águida Maria da Conceição, sendo uma das famílias povoadoras do Logradouro. Amália era esperancense, filha do meu bisavô, ao qual não conheci, Antonio Bento de Lima e de Rosa da Silva Lima, sendo também de uma importante família povoadora do Logradouro, os Bento de Oliveira.
            Após as bênçãos eclesiais, o novo casal retornou para o sítio onde um grande baile os aguardava. Dona Leonila nos descreveu o ambiente, o casarão de Antonio Bento de Lima, próximo ao rio Araçagi, hoje não existe mais, foi "engolida" pelo açude, mas antes podia-se ver "os grandes coqueiros, o terreiro espaçoso..."
            A festa foi regada a muita música, bebidas e muita alegria. Nila, como carinhosamente chamamos, nos conta que "uma orquestra tocava na festa, muitas pessoas dançavam, as mulheres com belos vestidos brancos, que representavam a pureza". A memória já cansada pelo tempo não consegue dar grandes detalhes da festividade, mas podemos imaginar como o ambiente estava arretado de bom. O baile durava a noite inteira, se estendendo pela madrugada adentro, e continuando no dia seguinte, com uma grande banquete, onde se matavam os melhores animais, vestiam-se as melhores roupas, e se entregavam a folia. Assim eram os casamentos de várias pessoas na zona rural de Esperança, onde a calmaria e o chocalho do gado, se tornava em algazarra e muita gritaria de pessoas animadas e de bem com a vida.

Ismaell Filipe

* Professor, membro do NUPHEL – Núcleo de Pesquisa e História Local, Sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Esperança (Cadeira nº 04 - Epaminondas Câmara) e mestrando em História pela UFPB.
Entrevista feita pelo Historiador Ismaell Filipe da Silva Bento, com Leonila Gomes Freire, prima de 3º grau. Realizada no dia 01/02/2019. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sitio Banaboé (1764)

  Um dos manuscritos mais antigos de que disponho é um recibo que data de 1º de abril do ano de 1764. A escrita já gasta pelo tempo foi decifrada pelo historiador Ismaell Bento, que utilizando-se do seu conhecimento em paleografia, concluiu que se trata do de pagamento realizado em uma partilha de inventário. Refere-se a quantia de 92 mil réis, advinda do inventário de Pedro Inácio de Alcantara, sendo inventariante Francisca Maria de Jesus. A devedora, Sra. Rosa Maria da Cunha, quita o débito com o genro João da Rocha Pinto, tendo sido escrito por Francisco Ribeiro de Melo. As razões eram claras: “por eu não poder escrever”. O instrumento tem por testemunhas Alexo Gonçalves da Cunha, Leandro Soares da Conceição e Mathias Cardoso de Melo. Nos autos consta que “A parte de terras no sítio Banabuiê foi herdade do seu avô [...], avaliado em 37$735” é dito ainda que “João da Rocha Pinto assumiu a tutoria dos menores”. Registra-se, ainda, a presença de alguns escravizados que vi...

Renato Rocha: um grande artista

  Foto: União 05/12/2001 “A presença de autoridades, políticos e convidados marcou a abertura da exposição do artista plástico Renato Rocha, ocorrida no último final de semana, na Biblioteca Pública Dr. Silvino Olavo, na cidade de Esperança, Brejo paraibano. A primeira exposição de Renato Ribeiro marca o início da carreira do artista plástico de apenas 15 anos. Foram expostas 14 telas em óleo sobre tela, que também serão mostradas no shopping Iguatemi, CEF e Teatro Municipal de Campina Grande já agendadas para os próximos dias. A exposição individual teve o apoio da Prefeitura Municipal de Esperança através da Secretaria de Educação e Cultura, bem como da escritora Aparecida Pinto que projetou Renato Rocha no cenário artístico do Estado. Durante a abertura da Exposição em Esperança, o artista falou de sua emoção em ver os seus trabalhos sendo divulgados, já que desenha desde os nove anos de idade (...). A partir deste (...) Renato Ribeiro espera dar novos rumos aos seus projeto...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

Dica de Leitura: Badiva, por José Mário da Silva Branco

  Por José Mário da Silva Branco   A nossa dica de leitura de hoje vai para este livro, Badiva, voltado para a poesia deste grande nome, Silvino Olavo. Silvino Olavo, um mais ilustre, representante da intelectualidade, particularmente da poesia da cidade de Esperança, que ele, num rasgo de muita sensibilidade, classificou como o Lírio Verde da Borborema. Silvino Olavo, sendo da cidade de esperança, produziu uma poesia que transcendeu os limites da sua cidade, do seu Estado, da região e se tornou um poeta com ressonância nacional, o mais autêntico representante da poética simbolista entre nós. Forças Eternas, poema de Silvino Olavo. Quando, pelas ruas da cidade, aprendi a flor das águas e a leve, a imponderável canção branca de neve, o teu nome nasceu sem nenhuma maldade, uma imensa montanha de saudade e uma rasgada nuvem muito breve desfez em meus versos que ninguém escreve com a vontade escrava em plena liberdade. Silvino Olavo foi um poeta em cuja travessia textual...

Capelinha N. S. do Perpétuo Socorro

Capelinha (2012) Um dos lugares mais belos e importantes do nosso município é a “Capelinha” dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Este obelisco fica sob um imenso lagedo de pedras, localizado no bairro “Beleza dos Campos”, cuja entrada se dá pela Rua Barão do Rio Branco. A pequena capela está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa “ lugar onde primeiro se avista o sol ”. O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Consta que na década de 20 houve um grande surto de cólera, causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira, teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal.  Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à ...