O Cantador negro José Virgulino de Souza, ficou mais conhecido com o nome de José Mergulhão. Dizia ter nascido em “Boa Esperança”, na Paraíba, no ano de 1908; e faleceu no Ceará vítima de tuberculose, nos idos de 1939.
De fato, a antiga Banabuyé ficou
assim conhecida (Boa Esperança) a partir de 1872, até que um padre, resolveu
batizá-la apenas de Esperança, nascendo assim a freguesia de mesmo nome.
Esta tem sido uma grande descoberta,
reafirmando a tese de que Esperança é um berço de cantadores, sendo o mais
antigo o poeta Campo Alegre.
Orlando Tejo coloca Mergulhão entre
os maiorais do repente, ao lado do também esperancense João Benedito, e dos
poetas Romano Elias da Paz, João Siqueira de Amorim e Canhotinho.
Conta-se que, apesar de muito doente,
José Mergulhão ainda fazia versos, alegrando as noitadas, abrindo a sua
cantoria da seguinte forma:
“Quem já ouviu
mergulhão,
Vendo hoje não conhece,
Cada palavra que surge
É uma dor que aparece,
Cada repente que faz
É uma lágrima que desce.
...
Quando eu tinha saúde
Divertia alguma cousa
Mas hoje estou vendo a
hora
De baixar a fria lousa
Estão findas as ideias
De José Mergulhão de
Souza.
...
Quem me vio cantar
outrora
E se me vê hoje então
Ficará penalizado,
Terá de mim compaixão,
Dirá este não é mais
O tal José Mergulhão.
...
Estou morto e sem
assunto
Me falta a perseverança,
Penso que não vejo mais
O açude da Boa Esperança
Ah se o vento me
trouxesse
Um pingo dagua em
lembrança.
...
O seu gênero preferido era o “galope
à beira mar”, que conseguiu difundir por todo o Nordeste. O poeta Cego
Oliveira, em resposta a Mergulhão, chegou a improvisar:
Poeta Zé Mergulhão
Você procure a defesa,
Eu lhe dou a explicação
Com toda delicadeza,
Eu com a rabeca na mão,
Eu canto por precisão
E você por
sem-vergonheza.
Essa minha rabequinha
É meus pés, é minha mão
É minha roça de
mandioca,
É minha farinha, o meu
feijão,
É minha safra de
algodão,
Dela eu faço profissão
Por não poder trabalhar,
Mas ao padre fui
perguntar
Se cantar fazia mal.
Ele me disse: Oliveira,
Pode cantar bem na
praça,
Porém se cantar de graça
Cai em pecado mortal.
Deixando essa vida, para entrar na
eternidade, o poeta José Mergulhão foi homenageado, denominando uma das ruas do
bairro Frei Damião, no Juazeiro do Norte/CE.
Rau Ferreira
Fontes consultadas:
- JORNAL DA POESIA, disponível em:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/flo.html, acesso 16/02/2019.
- MELO, Veríssimo. Cantador de viola. Coleção Concórdia:
1961.
- TEJO, Orlando. Zé Limeira, poeta do absurdo. Vol. XI,
Coleção nordestina. Editora Universitária: 2000.
Blog Oralitura, disponível em:
http://proyecto-oralitura.blogspot.com/2014/?view=sidebar, acesso 16/02/2019.
IHAL, Revista (do). Instituto Histórico de Alagoas, Volumes
25-26. Livraria Machado: 1949.
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