Pular para o conteúdo principal

Um conto de Cândido Raimundo

Cândido Raimundo Freire era um fazendeiro rico, foi o primeiro agricultor a ter um rádio o que na época era sinônimo de prestígio. Tinha muitos trabalhadores e era considerado um bom patrão. Certa feita, ao fazer a paga semanal foi informado por um dos seus empregados de nome Tibúrcio havia sido preso na cidade.
Tibúrcio tinha uma família grande, oito ou nove filhos. Era esforçado na lida do campo, mas tinha muitas bocas para alimentar e acabou preso acusado de pegar uma galinha. Assim que seu Cândido soube foi a procura do delegado, pagou-lhe a fiança e o tirou da cadeia. Em seguida, perguntou:
- Por que você fez isso?
- Se o senhor visse os filhos passando fome, pedindo algo para comer não faria o mesmo? Disse-lhe Tibúrcio.
Ouvindo isso o fazendeiro perguntou:
- Mas você quer trabalhar?
- Quero sim senhor – respondeu o agricultor.
- Bem, acabei de comprar uma cinqüenta de terra que comprei no Lagedão e quero que você tome conta pra mim, plantando batatinha.
Isto aconteceu na década de 40, quando o plantio desta leguminosa em nossa cidade ganhava vulto. A expressão da batatinha destacou Esperança no cenário nacional.
E completou o fazendeiro:
- Toda semana você me procure, e o que precisar fale comigo, só não pegue mais no alheio!
Depois de 60 dias, que é o tempo do plantio da batata, seu Cândido foi até o Lagedão acertar com Tibúrcio. Levou um caminhão e uma balança, então fez as contas. Naquele tempo a sobra era entregue ao trabalhador e Cândido o fez, entregando-lhe o produto dizendo:
- Vou lhe vender esta terra pelo preço que comprei, não vai lhe sobrar muito, eu sei, mas você terá o suficiente para comer e vestir, e no mais, o que precisar, fale comigo.
Tibúrcio agradeceu e fez como seu patrão ordenou, e assim criou toda a sua família.
Dona Santa Moreira, que reside em Cacimba de Dentro/PB, foi quem me contou essa história, na sexta-feira da paixão de 2012, por volta das 15h30, no auge de seus 84 anos, dando testemunho de nosso torrão e da família Ferreira, além de narrar outros fatos que serão a seu tempo mencionados neste espaço.
Ela é prima do meu avô materno. Obrigado dona Santa pela sua memória infalível, história viva de nossa família, da qual temos muito orgulho.
Cândido Raimundo Freire é meu bisavô paterno. Papai me falava de umas moedas de ouro que ele escondia na cristaleira, mas isso é uma outra história.


Rau Ferreira

Comentários

  1. Como fiquei feliz em achar esse registro sobre meu antepassado! Candido Raimundo Freire, o Tio Candin como meus parentes o chamavam, era muito querido. Ele era irmão do meu tataravó Manoel Raimundo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

Capelinha N. S. do Perpétuo Socorro

Capelinha (2012) Um dos lugares mais belos e importantes do nosso município é a “Capelinha” dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Este obelisco fica sob um imenso lagedo de pedras, localizado no bairro “Beleza dos Campos”, cuja entrada se dá pela Rua Barão do Rio Branco. A pequena capela está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa “ lugar onde primeiro se avista o sol ”. O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Consta que na década de 20 houve um grande surto de cólera, causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira, teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal.  Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à ...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

História de Massabielle

Capela de Massabiele Massabielle fica a cerca de 12 Km do centro de Esperança, sendo uma das comunidades mais afastadas da nossa zona urbana. Na sua história há duas pessoas de suma importância: José Vieira e Padre Palmeira. José Vieira foi um dos primeiros moradores a residir na localidade e durante muitos anos constituiu a força política da região. Vereador por seis legislaturas (1963, 1968, 1972, 1976, 1982 e 1988) e duas suplências, foi ele quem cedeu um terreno para a construção da Capela de Nossa Senhora de Lourdes. Padre Palmeira dispensa qualquer apresentação. Foi o vigário que administrou por mais tempo a nossa paróquia (1951-1980), sendo responsável pela construção de escolas, capelas, conclusão dos trabalhos do Ginásio Diocesano e fundação da Maternidade, além de diversas obras sociais. Conta a tradição que Monsenhor Palmeira celebrou uma missa campal no Sítio Benefício, com a colaboração de seu Zé Vieira, que era Irmão do Santíssimo. O encontro religioso reuniu muitas...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

José Régis, por Martinho Júnior (1ª Parte)

  Por Martinho Júnior   Dr. José Régis, ilustre filho de Esperança, marcou sua trajetória como exemplo de ascensão e realização no âmbito jurídico. Filho do respeitado Sr. Alfredo Régis, que dá nome a uma das ruas da cidade, José Régis galgou muitos degraus na carreira jurídica, consolidando-se como juiz e acumulando um currículo repleto de títulos e funções de destaque na área do direito. Homem de vasta cultura e vivências globais, viajou por mais de uma dezena de países, enriquecendo sua visão de mundo e sua bagagem intelectual. Retornando à sua terra natal, movido pelo desejo de retribuir à comunidade suas experiências e conhecimentos, decidiu candidatar-se a vereador, vislumbrando contribuir diretamente para o desenvolvimento local. Contudo, sua entrada no cenário político revelou-se um choque de realidades. Esperança, que poderia ter visto em sua candidatura um privilégio raro, mostrou-se indiferente ao valor de sua capacidade intelectual e boa vontade. Enfrentando in...