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Padre Zé, um relato

Padre Zé Coutinho
O Padre Artur Costa foi colega de seminário de Padre Zé. É ele que nos traz um belo relato de sua vida, publicado n’A Cruz, órgão católico que circulou em meados do século passado.
Em 1914, no Seminário da Parahyba, encontravam-se os dois estudantes de filosofia. Padre Zé demonstrava sua predileção pela música: “Vivia sacudindo a cabeça e as mãos, num compasso que não tinha fim”.
A vocação musical dera então seus frutos: compôs os hinos de Santa Terezinha e de Nossa Senhora das Neves e do Bom Conselho; a Novena em homenagem a Nossa Senhora do Carmo, além de diversas valsas, maxixes e dobrados.
No entanto, havia um chamado maior: servir aos pobres! Eis que fundou, em 1935, o Instituto São José “destinado a socorrer a população pobre da Paraíba”. É o relato de Padre Artur, que acrescenta:
“Eu dirigia então ‘A Imprensa’ e tinha que aturá-lo no jornal com todo o seu trabalho de propaganda. Cada semana, me trazia, escritas do seu punho, umas notas sobre o Instituto. Eu não sabia o que era pior nessas notas: se a redação ou a caligrafia. Mas o padre entrava nas oficinas, discutia com os tipógrafos, e as notas saiam na primeira página, com tipo gordo e em coluna aberta [...] e eu não podia fazer nada”.

Não media esforços, quando era pra divulgar o seu instituto de caridade, ou mesmo ajudar os pobres que acorriam aquele lugar com tantas necessidades, de vestuário à educação e saúde; e estava o Padre Zé em todo canto, para socorrer àqueles desafortunados.
Monsenhor Pedro Anísio tinha uma coluna naquele jornal, que quase sempre era prejudicada, reduzida ou “espremida”. E quando confrontado, o Padre Zé respondia sem titubear: “Você vai dizer-me, então, que um trabalho sobre pedagogia tem mais importância do que vestir um pobre velho ou matar a fome duma criança? ”.
E as “notas” eram publicadas, de um jeito ou de outro.
E o velho padre intensificava seu apostolado, apesar dos sapatos rotos e uma batina surrada. Mas ele nunca se descuidou de seu rebanho.
Já velho e gordo, recebeu da Esso a medalha de “Honra ao mérito” pelo seu trabalho de assistência social na Paraíba. A Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, anunciava aquela homenagem.
Na igreja assumiu alguns cargos: Vigário da Catedral, Redator-chefe d’A Imprensa, Ecônomo do Seminário e do  Colégio Diocesano; e um cargo público: Diretor do Serviço Social do Estado. Mas a sua preocupação, como lhe disse o colega de seminário, era apenas uma: fazer o bem, minorando o sofrimento alheio.
Hoje pouca gente lembra, mas no Vaticano ainda corre o seu processo de beatificação. O procedimento é longo e tem muitas exigências. Contudo, no quesito milagre o Monsenhor Coutinho já conta com pelo menos três.
Esperança – a sua terra mãe – talvez não se dê conta de quão importante seria este reconhecimento eclesiástico, já que o povo pobre da minha Parahyba lhe devota a santificação; também não fez qualquer esforço, a não ser ajuntar algumas assinaturas.
O empenho da sua cidade seria bem-vindo, mas quem será que levantará esta bandeira?

Rau Ferreira

Referências:
- COUTINHO, Graça. “100 Anos do Pe. Zé”. Folheto. Governo do Estado da Paraíba: 1997.
- ALVES, Camila. Padre Zé Coutinho pode ser o primeiro santo paraibano. Jornal da Paraíba. Ano 40. Nº 11.804. Edição de domingo, 26 de agosto. João Pessoa/PB: 2012.

- A CRUZ, Jornal. Edição de 27 de dezembro. Rio de Janeiro/RJ: 1953.

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