Pular para o conteúdo principal

Silvino Olavo, o outro lado da música

SILVINO OLAVO, O OUTRO LADO DA MÚSICA

Foto/divulgação da época 
O salão de festas do “Diário de Pernambuco” estava ornado para a grande conferência literária promovida por Silvino Olavo da Costa. O intrigante tema, escolhido pelo beletrista, possuía íntima relação com a sua alma de poeta: “O outro lado da música”.
O jovem prosador já havia realizado telúricas no Rio de Janeiro, onde também promovia recitais. Na Paraíba, após concluir o curso de direito (1925), fundara o “Grupo dos Novos”, juntamente com Amarílio de Albuquerque, Eudes Barros, Américo Falcão e  Peryllo D'Oliveira, realizando sarais em residências pessoenses, das quais participara, também, a poetisa Anayde Beiriz. No vizinho Estado de Pernambuco, ensaiara a sua musa, em concorridas conferências.
A imprensa do Recife anunciara, com grande galhardia, a realização desta palestra, que contaria com a presença de prestigiosos elementos dos círculos sociais e artísticos. O aguardado evento foi noticiado dias antes, exaltando as suas qualidades:
“Grande tem sido a procura de cartões para essa noite de emoção e inteligência, dado as qualidades brilhantes do conferencista, largamente admirado nesta capital” (Ed. 29/03)
“Dada a ansiedade com que está sendo aguardada a realização da palestra de Silvino Olavo, é justa a previsão de numerosa assistência, já pela sua merecida nomeada, já pelo tema interessantíssimo” (Ed. 30/03).

As portas do sodalício foram abertas às 21 horas, do dia 31 de março de 1928. A apresentação ficou por conta do Dr. Antônio Fernandes, diretor do “Diário do Estado”. Silvino era anunciado como “festejado poeta”, “nome de alta projeção nos círculos intelectuais do país” e “figura das mais simpáticas e prometedoras da nova geração brasileira”.
Por uma hora desenvolveu aquele tema para uma distinta audiência. Homens e mulheres, da mais fina sociedade, estavam presentes para ouvir o “dandy” paraibano, discorrendo sobre a melodia:
A harmonia se expande nas pausas para uma melhor compreensão, de maneira que se entra num transe, esvaindo-se das próprias forças, para adotar a percepção de um instrumento animado, adentrando num mundo de sonoridade interior.

Na sua compreensão, estavam definidos alguns conceitos da música, como arte primeira. A força da música somava-se a rima métrica e para alcançar o mais alto “phi” da mente humana, adiante resumida:
A harmonia entorpece e inebria o espírito; quando ouvimos música, somos capazes de externar sentimentos estocados no mais íntimo do ser. Ela funciona como um estimulante, através dos sentidos, que vai além da sensação sonora, pois até o corpo vibra com batidas melodiosas.

O escritor Raul de Goes, em artigo para os “Diários Associados”, de Assis Chateaubriand, declarou que Silvino possuía uma liderança natural, que se impunha pelo fascínio de sua inteligência; e pela sua modéstia, candura e bondade.
Todos estavam atentos aquela fala de arte e melodia, verdadeiro bailado de notas musicais, comparando as ondas sonoras com a poesia viva da palavra. Ao final, o conferencista fora amplamente aplaudido, recebendo as felicitações da distinta sociedade pernambucana.
A imprensa escrita estampara em suas páginas que “O jovem prosador dissertou brilhantemente em torno do interessante tema que escolheu para a sua causerie (...)” (Jornal Pequeno, Ano XXXX, Nº 37).
O outro lado da música, bem sabemos, pertence a um plano espiritual, como encetara Olavo, em sua palestra, evocando os cimos do parnaso, com que sonhara desde a sua juventude.

Rau Ferreira

Referências:
- DIÁRIO DA MANHÃ, Jornal. Edições de 29 e 31 de março. Recife/PE: 1928.
- DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Jornal. Edição de 23 de março. Recife/PE: 1928.
- GOES, Raul. Mestre de uma geração. Diários Associados. Paraíba: 1969.

- REVISTA DA CIDADE. Ano III, Nº 103. Recife/PE: 1928.

Postagens mais visitadas deste blog

A Energia no Município de Esperança

A energia elétrica gerada pela CHESF chegou na Paraíba em 1956, sendo beneficiadas, inicialmente, João Pessoa, Campina Grande e Itabaiana. As linhas e subestações de 69 KV eram construídas e operadas pela companhia. No município de Esperança, este benefício chegou em 1959. Nessa mesma época, também foram contempladas Alagoa Nova, Alagoinha, Areia, Guarabira, Mamanguape e Remígio. Não podemos nos esquecer que, antes da chegada das linhas elétrica existia motores que produziam energia, estes porém eram de propriedade particular. Uma dessas estações funcionava em um galpão-garagem por trás do Banco do Brasil. O sistema consistia em um motor a óleo que fornecia luz para as principais ruas. As empresas de “força e luz” recebiam contrapartida do município para funcionar até às 22 horas e só veio atender o horário integral a partir de setembro de 1949. Um novo motor elétrico com potência de 200 HP foi instalado em 1952, por iniciativa do prefeito Francisco Bezerra, destinado a melhorar o ...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

Capelinha N. S. do Perpétuo Socorro

Capelinha (2012) Um dos lugares mais belos e importantes do nosso município é a “Capelinha” dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Este obelisco fica sob um imenso lagedo de pedras, localizado no bairro “Beleza dos Campos”, cuja entrada se dá pela Rua Barão do Rio Branco. A pequena capela está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa “ lugar onde primeiro se avista o sol ”. O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Consta que na década de 20 houve um grande surto de cólera, causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira, teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal.  Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à ...

Magna Celi, escritora e poetisa

Esperança pode não ser uma cidade de leitores, mas certamente é um município de grandes escritores. Na velha guarda, encontra-se o poeta Silvino Olavo, e mais recente, a escritora e poetisa Magna Celi. Filha do casal Maria Duarte e José Meira Barbosa; irmã do Dr. João Bosco, Benigna, Graça Meira e Paula Francinete. Casada com o eminente Professor Francelino Soares de Souza, que assina uma coluna nesse jornal aos domingos; ela tem se destacado com inúmeras publicações. Graduada em letras pela UPFB, Mestra em Literatura Brasileira e com especialização em língua vernácula inglesa. Estreou nas letras em 1982, com “Caminhos e Descaminhos”. Desde então têm inscrito o seu nome entre os grandes nomes da poesia paraibana. É ela mesma quem nos fala sobre as suas origens: “Nasci na cidade de Esperança, brejo paraibano, de clima frio, chamada, no princípio de sua fundação, de Banabuié. Aconteceu na rua da Areia, nº 70. Fui batizada pelo Padre João Honório, na Igreja Nossa Senhora do Bom ...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...