Pular para o conteúdo principal

Esperança sob o golpe do AI-5 (Parte V)

Por Antônio Ferreira Filho

Tratando ainda sobre o tema do Golpe-64 que instituiu o regime militar no Brasil e os movimentos resistência existentes no Município de Esperança, mantivemos contato com Antônio Ferreira Filho, estudante que à época tinha 16 anos e militou na linha de frente contra a ditadura. Este nos revelou fatos até então desconhecidos e que permaneceram ocultos por mais de 52 anos. O texto a seguir é fruto da síntese mnemônica através de entrevista virtual concedida em 22 de dezembro de 2016.

Algumas considerações sobre a sua publicação, CEE e a ditadura dos militares...

Ferreirinha
O Centro Estudantal de Esperança era usado como pano de fundo para a luta democrática. Neste, foi organizado o Bureau de Propaganda Comunista/BPC - organização clandestina de luta e resistência ao golpe militar de 64.
O ideólogo e fundador/presidente do BPC foi Raimundo, filho do Sr. Patrício, sendo vice Antônio Ferreira. O grupo era bastante organizado, possuía estatuto e se reunia na “calada” da noite nas dependências do CEE para planejar as ações. “Sabíamos que tinha um grupo de militantes em Esperança como Jaime, Chico Braga e outro mas achávamos o pessoal muito devagar nas ações e começamos à agir”, nos disse Ferreirinha.
Panfletos eram rodados no mimeografo do CEE em comemoração ao Dia do Trabalhador e protestando contra a ditadura. As principais ruas da cidade foram pichadas, umas das frases postas nos muros das residências foi: “O produto do trabalho pertence ao trabalhador” a qual motivou comentários do pároco local – Monsenhor Palmeira – durante algum tempo em suas homilias; e do professor de Português do ginásio, que disse desconhecer os responsáveis, pois os alunos chegavam a mudar a caligrafia para não serem identificados.
No CEE além da panfletagem os estudantes faziam sarau de leituras da ideologia marxista. Chico Braga e outros militantes não sabiam a autoria do movimento, mas comentavam da coragem daqueles “anônimos”.
Ferreirinha juntamente com Fernando Bezerra representou o CEE em Campina Grande, junto ao Centro da Rainha da Borborema, para escolha dos delegados congressistas da União Nacional dos Estudantes/UNE. Eles chegaram a serem escolhidos para participar da reunião nacional em 1968, mas não chegaram a viajar. Diga-se de passagem, que naquele ano todos os congressistas foram presos em São Paulo, provocando grande repercussão.
Indagado acerca das perseguições e “dedos duro”, este respondeu: “tínhamos muito cuidado com a nossa segurança pois éramos muito jovens e, certamente, não resistiríamos à prisão e à tortura”.
O fato é que Capitão Morais andava desconfiado, contudo as investigações não avançaram a ponto de se descobrir os autores, nem os participantes do BPC. “Acredito que até em respeito aos nossos pais... todos muito conceituados. No final de 1968, com o Ato Institucional Nº 05 e a desconstrução dos CEE chegamos ao fim de nossas atividades clandestinas... não dava mais para continuar... à repressão ficou insuportável! ”-, acrescentou.

Outra ação importante do grupo foi a palestra com José Bezerra - irmão de Fernando Bezerra -, realizada no CAOBE. O renomado Economista morava na Alemanha Oriental e veio visitar à família clandestinamente. As dependências do clube lotaram e a palestra repercutiu muito. Zezinho foi obrigado a fugir do Brasil, segundo comenta-se, com à ajuda do Senador Humberto Lucena, só retornando ao Brasil depois da redemocratização.

Rau Ferreira


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Pedra do Caboclo Bravo

Há quatro quilômetros do município de Algodão de Jandaira, na extrema da cidade de Esperança, encontra-se uma formação rochosa conhecida como “ Pedra ou Furna do Caboclo ” que guarda resquícios de uma civilização extinta. A afloração de laminas de arenito chega a medir 80 metros. E n o seu alto encontra-se uma gruta em formato retangular que tem sido objeto de pesquisas por anos a fio. Para se chegar ao lugar é preciso escalar um espigão de serra de difícil acesso, caminhar pelas escarpas da pedra quase a prumo até o limiar da entrada. A gruta mede aproximadamente 12 metros de largura por quatro de altura e abaixo do seu nível há um segundo pavimento onde se vê um vasto salão forrado por um areal de pequenos grãos claros. A história narra que alguns índios foram acuados por capitães do mato para o local onde haveriam sucumbido de fome e sede. A s várias camadas de areia fina separada por capas mais grossas cobriam ossadas humanas, revelando que ali fora um antigo cemitério dos pr

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele

O Mastodonte de Esperança

  Leon Clerot – em sua obra “30 Anos na Paraíba” – nos dá notícia de um mastodonte encontrado na Lagoa de Pedra, zona rural de Esperança (PB). Narra o historiador paraibano que em todo o Nordeste existem depressões nos grandes lajeados que afloram nos terrenos, conhecidas pelo nome de “tanques”, muitas vezes obstruídos pelo material aluvionar. Estes são utilizados para o abastecimento d’água na região aplacada pelas secas, servindo de reservatório para a população local. Não raras as vezes, quando se executa a limpeza, nos explica Clerot, aparecem “ restos fossilizados dos vertebrados gigantes da fauna do pleistoceno que povoou, abundante, a região do Nordeste e, aliás, todo o Brasil ”. Esqueletos de espécimes extintas foram encontradas em vários municípios, soterrados nessas condições, dentre os quais se destaca o de Esperança. A desobstrução dos tanques, necessária para a sobrevivência do rurícola, por vezes provocava a destruição do fóssil, como anota o professor Clerot: “ esf

Barragem de Vaca Brava

Açude Vaca Brava, Canalização do Guari (Voz da Borborema: 1939) Tratamos deste assunto no tópico sobre a Cagepa, mais especificamente, sobre o problema d’água em Esperança, seus mananciais, os tanques do Governo e do Araçá, e sua importância. Pois bem, quanto ao abastecimento em nosso Município, é preciso igualmente mencionar a barragem de “Vaca Brava”, em Areia, de cujo líquido precioso somos tão dependentes. O regime de seca, em certos períodos do ano, justifica a construção de açudagem, para garantir o volume necessário de água potável. Nesse aspecto, a região do Brejo é favorecida não apenas pela hidrografia, mas também pela topografia que, no município de Areia, apresenta relevos que propiciam a acumulação das chuvas. O riacho “Vaca Brava”, embora torrencial, quase desaparece no verão. Para resolver o problema, o Governador Argemiro de Figueiredo (1935/1940) adquiriu, nos anos 30, dois terrenos de cinco engenhos, e mais alguns de pequenas propriedades, na bacia do açude,

Versos da feira

Há algum tempo escrevi sobre os “Gritos da feira”, que podem ser acessadas no link a seguir ( https://historiaesperancense.blogspot.com/2017/10/gritos-da-feira.html ) e que diz respeito aqueles sons que frequentemente escutamos aos sábados. Hoje me deparei com os versos produzidos pelos feirantes, que igualmente me chamou a atenção por sua beleza e criatividade. Ávidos por venderem seus produtos, os comerciantes fazem de um tudo para chamar a tenção dos fregueses. Assim, coletei alguns destes versos que fazem o cancioneiro popular, neste sábado pós-carnaval (09/03) e início de Quaresma: Chega, chega... Bolacha “Suíça” é uma delícia! Ela é boa demais, Não engorda e satisfaz. ....................................................... Olha a verdura, freguesa. É só um real... Boa, enxuta e novinha; Na feira não tem igual. ....................................................... Boldo, cravo, sena... Matruz e alfazema!! ........................................