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Joacil Braga Brandão |
Amigos Rau Ferreira, Evaldo Brasil, Pedro
Dias do Nascimento, Martinho Júnior Corretor, Pedro Paulo de Medeiros.
A Minha Memória
No início da segunda metade da década de 60
foi instalada uma célula do Partido Comunista, oficialmente extinto, em
Esperança. Os seus integrantes apoiavam nas eleições o antigo PSD.
As reuniões eram realizadas na
oficina/sapataria de Jaime Pedão, localizada na Rua Nova, sempre à noite e de
portas fechadas; as vezes se estendia até quase à meia noite. Dela
participavam, além de Papai, o Jaime Pedão, o Simião, o Sr. Milton do IBGE, o
Nicinho do Correio, e esporadicamente, o Sr. Chico Pitiu, o Fernando do Correio
e um Odontólogo muito amigo do meu pai, que posteriormente se tornou compadre,
mas cujo nome não estou recordando. O consultório odontológico funcionava numa
sala no Grupo Escolar “Irineu Joffily”, e morava numa casa vizinha a
Panificadora do Sr. Otávio.
Nas reuniões eram tratados assuntos de como
angariar simpatizantes para a célula, a leitura do “Manifesto Comunista” e de “O
Capital”, e a leitura dos livros e revistas que chegavam semanalmente da
Embaixada da URSS e sua respectiva distribuição.
O Correio de Esperança tinha no seu quadro
de pessoal três carteiros, o Sr. João Augusto, o Nicinho e o Fernando. Mas só
os dois últimos entregavam as correspondências encaminhadas pela Embaixada para
o meu Pai. O Sr. João Augusto tinha receio de se envolver. Os livros e revistas
eram guardados numa estante de madeira na sala dos fundos do Foto Braga.
Em 1968 a efervescência política tomava
conta do país, e o debate da ideologia era estimulado pela França. Em Esperança
os componentes da célula começaram a intensificar conversas e discursões
ideológicas em encontros sociais, bares e botequins, sem contudo assumirem que
eram comunistas, mas ficou tão claro para a sociedade da época o comportamento
desse grupo que posteriormente passaram a chamar de forma brincalhona cada um
dos seus integrantes de “comunista”.
Naquela época ganhou destaque o Zezinho
Bezerra, jovem, com inteligência acima da média, fluente e com discurso
embasado e incendiário, e intelectualmente privilegiado. Estudava fora de
Esperança, mas quando visitava a cidade movimentava a juventude e reunia amigos
e admiradores na Sorveteria de Sr. Dedé e participava das reuniões na casa de
Jaime Pedão.
Naquele momento também surgiu um pequeno
grupo de amigos pensantes e interessados na ideologia comunista, e frequentávamos
o Centro Estudantil de Esperança, que funcionava numa grande sala dispondo de
mesa de ping-pong, revistas, jornais, palavras cruzadas e jogos de dama e
xadrez. Era fácil identificar imediatamente dois grupos: um composto por jovens
da boemia, e outro composto por jovens com maior abrangência cultural. Destaco
aqui o Raimundo de Sr. Patrício, o Antônio Fernandes e o Antônio Ferreira. Este
último entrou em contato comigo no Foto Braga e falou de forma reservada do
interesse ao acesso dos livros e revistas vindos da Embaixada da URSS pelo
Raimundo, e fez um convite para que eu participasse da formação da célula
jovem. A minha tarefa seria intercambiar o material de propaganda comunista.
Assim passei a agir, entregava os livros e revistas embrulhados em jornal, o Antônio
Ferreira recebia e atravessava a rua em direção à loja de Sr. Patrício para
entregar ao Raimundo.
O tempo passou e a vida institucional do
país tomou outro rumo. A história vocês todos já conhecem. O acervo composto
por livros e revistas foi transferido na calada da noite do Foto Braga para a
nossa casa, na Rua do Sertão, e guardados no quarto do fundo do quintal.
Envelhecidos, amarelados e cheios de poeira foram incinerados no quintal no
final da década de 90. Cumpriram o seu papel, de estimular o debate crítico da
política em Esperança.
Minha homenagem a Francisco Braga Sobrinho,
o meu pai.
Um homem
cordial, de visão humana e compromisso social.
31.10.2016, Joacil
Braga Brandão
Ao meu amigo Joacil, parabéns pela publicação sobre a época revolucionária do Brasil, com reflexo na nossa cidade. Detalhes importantes, fragmentos da nossa historia que poucos conhecem. Tudo isso tem valor relevante para o conhecimento dos jovens da atualidade, Abraço.
ResponderExcluirInteressante o resgate dessas movimentações em plena década de 1968. Parabéns aos integrantes por terem lutado anonimamente pelo debate político ousado para aquela época e também para os dias atuais.
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