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Nos caminhos da arqueologia

Há alguns dias, caminhando para o canteiro onde lentamente se está construindo a Vila Olímpica de Esperança, dois amigos, Rau Ferreira e Evaldo Brasil, se depararam com uma gravura numa das pedras do caminho. Na ocasião, o primeiro, cuidou de registrar o achado, postando fotografia em uma rede social. A postagem gerou comentário de Vanderley de Brito, pesquisador e membro da Sociedade Parahybana de Arqueologia/SPA, de que poderia ser um antropomorfo, resultado de uma produção centenária naquele granito.
A inscrição supostamente rupestre lhes tomou de assalto, provocando a curiosidade. Com efeito, o município de Esperança, em priscas eras, foi habitado por aborígenes da Nação Cariry. Os Índios Banabuyés, assim batizados pelo etnólogo José Elias Barbosa, se concentraram no antigo lajedo do Araçá, não obstante se tenha notícias de sua presença em Lagoa de Pedra, Lagoinha das Pedras, na Serra do Urubu (imediações do Britador) e nos Caldeirões, divisa com Alagoa Nova. Em pelo menos dois desses pontos, os silvícolas deixaram a sua marca, já catalogadas.
Supõe-se, ainda, que os habitantes da antiga Pedra do Caboclo (Algodão de Jandaíra) foram remanescentes deste povo, quando de sua expulsão do que hoje forma o território esperancense. Hipótese delineada por Saro Amâncio, em conversas a respeito dos indígenas locais.
Diante disso, a dúvida fez os arqueólogos amadores retornarem àquele local. Brito ponderou que “antropomorfo” em questão, em seu feitio, lembrava o uso de óxido de manganês e que tais pinturas na Parahyba, nessa tonalidade, eram raras. Aguçado ainda mais o afã dos amadores, incursionaram de volta aquele lugar, cercado de pedras que afloram da terra. A expectativa era de averiguar a autenticidade da inscrição e, quiçá, de outros sinais eventualmente existentes. O desenho parecia ter sido feito por uma criança, usando recurso semelhante ao que se praticava no passado, afinal, o homem se expressa conforme os materiais e limites de que dispõe.
Chegando lá na extrema do Portal, junto a casas recém-construídas, onde se observa, ainda, um curral de animais bastante rústico, investigaram a pedra e, infelizmente, a “tinta” largava facilmente ao esfregar dos dedos na superfície.
Nesse mesmo dia, via telefone, Brito foi informado das impressões: Concluiu-se que não passava de um falso antigo. De certo, alguma brincadeira pueril, consciente ou não das reações dos olhares atentos. O antropomorfo foi reduzido a um rabisco contemporâneo. Contudo, o “achado moderno” reforça no âmago o desejo pelas descobertas e um amor pela arqueologia.


Rau Ferreira/Evaldo Brasil

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