Inauguração do sistema de água |
Ninguém
discorda da importância da água para a subsistência do ser humano. Água é vida
e seu elemento necessário. Esperança se tornou conhecida no passado não apenas
por ser uma cidade verdejante, decantada pelo poeta, como por ser um lugar onde
se encontrava tanques, cacimbas, poços, riachos e lagos que captavam as
precipitações das chuvas da invernada para os tempos das secas.
Já
dizia Irineu Jóffily em 1892, que Esperança possuía muitos olhos d’água
obstruídos. A vila de casas surgiu no entorno do Açude Banabuyé, este
importante manancial que serviu aos esperancenses durante muitos anos. Mas
podemos citar outros importantes reservatórios, como o tanque do Araçá, a Lagoa
da Porta, nas proximidades do Campo do América, que igualmente tiveram sua
importância no passado.
Não
é à toa, que muitas das propriedades denominam-se por lagoas: Lagoa Comprida,
Lagoa da Marcela, Lagoa de Cinza, Lagoa de Pedra, Lagoa do Sapo, Lagoa dos
Cavalos, Lagoa Verde, Lagoinha das Pedras... apenas para citar algumas delas.
Esperança
se assenta sob um grande lajedo, não é a toa que também fora chamada de Tanque
Grande; essa formação rochosa é propícia ao acúmulo do líquido tão precioso,
que nas camadas mais baixas da terra forma um lençol freático, um verdadeiro
açude submerso, que hoje os pesquisadores tanto exploram em outros países, e
que no Brasil começa a chegar a ideia da “barragem natural”. Também é evidente,
nós sabemos, que basta cavar um pouco em certas áreas do município que dá na
água, uma água doce que pode ser consumida sem problemas, sem falar nos
diversos usos que dela se pode fazer.
Assim
é na rua Alfredo Régis, e também na Juviniano Sobreira, na parte mais baixa,
que faz limite com as ruas de Areia e do Boi. Lembro que na casa do meu avô
paterno, em frente ao Irineu Jóffily, havia um poço de onde tirávamos água para
o gasto diário, além do consumo humano.
A
história também conta que os Índios Cariris quando aportaram nessas terras
fizeram aldeamento nas proximidades do Tanque do Araçá, pois naquele lugar
podiam se abastecer, e dessa forma garantir a própria sobrevivência, valendo-se
ainda dos diversos animais que existiam à época, pois tudo aquilo no passado
era rodeado por matas.
Por
outro lado, não é de hoje que Esperança enfrente o problema da escassez d'água.
Na Revista do IHGP de 1911, o autor tratava deste assunto chamando a atenção
para uma possível falta d'água no futuro. Dizia que a construção de açudes e o
desentupimento dos tanques poderia ser a solução mais viável. Também menciona o
extinto Banabuyê “com uma milha de círculo".
Já
em 1938 a “Academia Brasileira de Sciencias” registrava a importância deste
reservatório colocando-o em 7º lugar na Paraíba, que nos idos de 1940, durante
a Era Vargas, foi concluído, com alargamento de seu balde, e na gestão do
governador Pedro Gondim, foi reconstruído, incluindo-se a iluminação pública e
uma ponte que dava passagem da rua de Baixo (atual rua Dr. Silvino Olavo) para
a Beleza dos Campos.
Por
esse tempo, era comum as pessoas se banharem no Banabuyé, como também as
lavandeiras compareciam com suas trouxas de roupas, motivando um decreto
municipal, salvo engano do prefeito Júlio Ribeiro, proibindo essa prática no
açude. Dá para imaginar o quanto esta manancial era importante para o nosso
povo.
Durante
a construção da BR-104, este reservatório forneceu água e serviu para lavar os
caminhões da empreitera contratada prejudicado o açude, razão pela qual houve o
esgotamento de suas águas.
Muito
contribuiu para a sua extinção o crescimento da cidade, com necessidade de
terrenos para construção de novas casas, provocando o aterramento de parte do
antigo açude.
Nesse
aspecto, devemos lembrar o Tanque do Governo, construído em 1944, que fica por
trás da Escola Paroquial, e que amenizou o problema d’água por um tempo; e do
Chafariz colocado na rua São Vicente, que também fornecia água para a
população.
A
escassez de água provocou dois fenômenos importantes em nosso município, o
primeiro eram os entregadores de água, que forneciam para as casas dos
comerciantes, diariamente, abastecendo aquelas residências, em carroças ou
mesmo no lombo de jumentos, ficando conhecido as figuras de Adauto Pichaco, Zé
dos Burros e outros entregadores. Mas a falta d’água também gerou empregos,
pois em tempos de seca a população mais carente era contratada para cavar
açudes e barragens na zona rural, serviço que era popularmente chamado de
“Cachorra magra”.
A
água encanada em Esperança começou a surgir em 1958, através de obras
realizadas pelo antigo DNOCS, vindo de Vaca Brava, barragem situada no
Município de Areia, e concluída dois anos depois. Contudo, com o crescimento
populacional, e outros fatores, já na década de 80, esse serviço se mostrava
deficiente, não apenas pela diminuição das chuvas, mas pela própria evaporação,
que segundo os técnicos chegava a 10 cm/ dia. Não é demais lembrar que, há 20
anos atrás, chovia em Esperança cerca de 2.000 mm3 de água, e hoje as
precipitações estão na casa dos 700 a 1.200 mm. Essa situação provocou a
suspensão do fornecimento de água pela concessionária em 1998, o que se repetiu
nos anos seguintes, através do chamado racionamento.
Rau Ferreira
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