Rau Ferreira*
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m janeiro de 1928, o governador João Suassuna comemorava mais um
natalício. Amigos e correligionários do eminente homem público se dirigiam ao
aconchego de sua residência em Praia Formosa e reafirmavam a sua estima ao chefe
do Partido Republicano, enquanto que operários da Parahyba partiam de trem para
brindar as virtudes da sua administração.
Todos quantos foram levar os cumprimentos ao ilustre
aniversariante receberam o acolhimento fidalgo de Dona Ritinha Suassuna e
outras pessoas da família.
A banda da Força Policial executava marchas e dobrados
na entrada daquele sodalício, quando chegou ao alpendre o homenageado para
agradecer os votos de felicidade, se prolongando por cerca de uma hora em sua
fala.
Aos convivas foram servidas bebidas e frios, e
seguiram-se as danças embaladas pela juventude paraibana.
Aquela casa de verão se tornara palco festivo e não
poderia faltar a presença de um poeta.
Silvino Olavo o tinha como seu “proeminente amigo”, dedicando-lhe o os versos de “Ícaro!”,
publicados nos Cysnes em 1924.
Naquela ocasião, ofereceu-lhe em nome de todos os
manifestantes “uma edição de luxo dos
‘Lusíadas’ de Camões, com expressiva dedicação em cartão de ouro encravado na
encadernação”, pronunciando em nome dos
intelectuais conterrâneos o seguinte discurso:
“Este é sem dúvida o mandato de maior responsabilidade que já passou
sobre os meus ombros, pois falo em nome da geração mais brilhante da Parahyba e de uma figura que é a síntese
suprema
do valor intelectual dessa geração. Na hora em que se acendem os fornilhos da
alquimia política e que se busca vislumbrar as primeiras irradiações dessa
pedra filosofal que tortura tanto a imaginação dos homens, sinto-me satisfeito
falando em nome de uma mocidade que não indagaria nunca se o Sr. Dr. João
Suassuna estava ou não empolgando o poder para lhe prestar qualquer homenagem.
Não
falo ao presidente do Estado, ao governo forte que assentou o seu programa
sobre os postulados máximos e extremos da verdadeira administração e das reais
solicitações do progresso nacional, nem ao político leal, educado na escola do
máximo respeito ao símbolo da política parahybana, que é Epitácio Pessoa. Falo
ao intelectual que todos admiram e aplaudem.
Jornalistas,
s. ex. pertence ao número daquele, que, não sendo profissionais, exercem o
jornalismo para servir aos seus ideais e aos interesses da coletividade,
afastando-se, por índole e educação desses que vem para a imprensa com sede de
quinhentos mil reis do que ideal.
Ainda
que o Sr. João Suassuna exercesse por profissão o jornalismo, nunca enfeudaria
as necessidades da vida os seus brios de homem de moral intransigente.
(...) Sua eloqüência é a eloqüência verdadeira; não é simples aptidão verbal
que em certos oradores de fama não passa de um predicado laríngeo.
S.
ex. fala bem, porque antes de tudo sabe pensar bem e a sua voz, tocada da magia
donidica do meio, faz acreditar na voz encantada dos rios e das florestas do
Brasil. É o resultado de um espírito culto e de uma alma vidente.
Dr.
João Suassuna, peço que aceite a oferenda dos intelectuais parahybanos,
oferenda que, se materialmente não tenha grande valor, intelectualmente, porém,
tem o valor de um símbolo. É o poema da raça, da raça dos varões e assinalo que
s.
ex. é
um descendente e um desses mesmos varões”.
O governador respondeu dizendo que o momento era de
grata comoção, e embora não fosse um intelectual dado às letras, pois as
preocupações de homem público começaram desde cedo a desviar sua inteligência
para outras cogitações, aquela manifestação encerrava no seu espírito de
independência e desinteresse o maior contentamento que poderia sentir naquele
dia.
A imprensa da Parahyba noticiou o fato com palavras de
louvor. O Norte, afirmou em seu editorial:
“Faz anos hoje o
Sr. Dr. João Suassuna, presidente do Estado e chefe do Partido Republicano.
Não só por esses postos,
os mais elevados da administração e da política, como pelas incomuns virtudes
de inteligência e de caráter do natiliciante, a data aniversaria do eminente
patrício é motivo de alvoroço para seus amigos e correligionários.
Antes de se homenagear o
chefe do governo, significa-se o apreço e efusivo a um parahybano em que se
cristalizam atributos superiores de cidadão modelo na sociedade e no trabalho.
Quer dizer que o dr. João
Suassuna no fastigio do poder ou sem ele, é sempre uma figura para quem se
dirigem as simpatias e a admiração dos que o conhecem, pelo trato, pelos
préstimos e pela refulgência de seu espírito.
No determinismo que
justifica os triunfos da seqüência de êxitos do dr. João Suassuna, na vida
pública. Erguem-no o talento, os serviços e a firmeza partidária, para ficar
situado entre os mais dignos pelo senso de seleção que tem sido a
característica máxima da política epitacista” (O
Norte: 19/01/1928).
Nessa mesma época, melhoramentos eram inaugurados na
capital do Estado, fruto de um governo dinâmico e progressista.
João Suassuna visitou Esperança
em 1925, quando teve a oportunidade de conhecer a “Capelinha” mandada erigir
por Manoel Rodrigues em paga a uma promessa de sua esposa Dona Esther, pela
erradicação da cólera morbus em
nosso município.
Rau Ferreira
(*) Cidadão esperancense, bacharel em Direito pela UEPB e autor dos livros
SILVINO OLAVO (2010) e JOÃO BENEDITO: O CANTADOR DE ESPERANÇA (2011).
Prefaciador do livro ELISIO SOBREIRA (2010), colabora com diversos sites de
notícias e história. Pesquisador dedicado descobriu diversos papéis e
documentos que remontam à formação do município de Esperança, desde a concessão
das Sesmarias até a fundação da Fazenda Banabuyê Cariá, que foi a sua origem.
Referência:
- A UNIÃO, Jornal. Ano XXXVI,
N° 16. Edição de sábado, 21 de janeiro. Parahyba do Norte: 1928.
- ERA NOVA, Revista. Edição
de 15 de maio. Parahyba do Norte: 1924.
- FERREIRA, Rau. Silvino Olavo. Epgraf. Esperança/PB:
2010.
- O NORTE, Jornal. Editorial.
Edição de 19 de janeiro. Parahyba do Norte: 1928.
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