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Padre Zé |
Nasceu Monsenhor José da Silva Coutinho – Padre Zé – em 18 de
novembro de 1897. Era um religioso de meia idade, calvo e rechonchudo; com
dificuldades para se locomover, e um coração do tamanho [ou até maior] que o
seu Estado natal. Fundara em João Pessoa um Instituto e um hospital para os
pobres. Mas suas obras não se resumiam ao pão, oferecia instrução aos
analfabetos, ofício à juventude e, crença aos descrentes! Era bom, enérgico e
doce ao mesmo tempo. Quem não lembra em sua cadeira de rodas, pelas ruas da
capital parahybana, com um cajadinho na mão estendido aos transeuntes, para
receber alguma moedinha que fosse em prol dos necessitados, carentes de um
abrigo e afeto cristão.
O seu necrológico, melhor não poderia ter sido, foi apresentado
pelo também Mosenhor Eurivaldo Cauldas, durante a homilia da Missa celebrada na
Basílica de Nossa Senhora das Neves, em homenagem ao seu centenário de
nascimento.
Monsenhor Eurivaldo fora seu catequisando, e também coroinha.
Depois religioso, acompanhou-o suas atividades assistenciais. No primeiro ano
de seu falecimento, fez publicar pela impressa pessoense, um breve comentário
que apresentamos a seguir:
“Quem quer que, no dia de finados,
fosse ao Senhor da Boa Sentença, a primeira figura que encontrava, logo à
entrada, era o Padre Zé, em sua cadeira de rodas. Conduzia a conhecida vareta
com que alcançava os transeuntes, e que era sinal convencional de seu pedido em
favor dos pobres.
O ano passado também lá estivera, mas
por pouco tempo. Abatido e cansado, demonstrava sinais evidentes de que não
estava bem. Mesmo assim, contrariando recomendação médica, de repouso, não quis
privar-se daquele sacrifício que para ele seria o último, a imolação da própria
vida pela causa sublime que abraçara, a de tornar-se mendigo para que os
verdadeiros mendigos não o fossem.
O sol causticante de verão concorria
para agravar-lhe o estado. Sentindo-se mal, retirou-se para o seu modesto
aposento, junto à Igreja do Carmo, onde medicado, ficou de repouso. Também eu o
tinha visto e com ele falara, ligeiramente naquele dia, mas a notícia do seu
súbito mal-estar quem m’ó trouxe fora o seu antigo protegido, hoje meu auxiliar
na Polícia Militar, o Cabo Luis Fernandes, que me disse: ‘Major, o Padre está
muito doente’. Fui vê-lo, e de fato, achei-o prostrado em sua pobre rede, mas,
falava, ainda. Disse-me que estava assistido pelos médicos, e mesmo contra a
vontade dele doente, deveria ser internado no Prontocor.
Visitei-o depois, naquele hospital
especializado e já então a apreensão era grande, por parte dos parentes e
amigos, enquanto o noticiário insistente dos rádios e jornais deixava a Paraíba
inquieta e em sobressalto. Em uma dessas visitas, impus-lhe sobre os ombros o
Escapulário da Virgem do Carmo, a ele tão devoto e fiel Carmalitano. Sem
experimentar melhora, o fim se aproximava. Ao pé do leito, inconsoláveis,
sobrinhos, parentes outros e os que mais choravam – os pobres desvalidos que
iam ficar sem seu pai e protetor. A casa de saúde fora interditada para que a
multidão que se apinhava em frente não a invadisse, na esperança de poder
assistir à morte de um justo. Esta graça Deus m’a condedeu. Sai do Quartel,
antes do fim do expediente, e, preocupado que ficara, dirigi-me ao Prontocor.
Era perto do meio dia do dia 05 de novembro de 1973. Chegara a tempo. Tendo
recitado com os presentes preces pelos agonizantes, dei-lhe a absolvição.
Minutos após foi o último suspiro e ele estava nas mãos de Deus. Findava,
assim, uma existência totalmente devotada à consagração de um Sacerdócio
incarnado no mais evangélico dos ideais – servir a Cristo, na pessoa do pobre.
No mais, foi o que todos testemunhamos. O pesar e o luto que se abateram sobre
João Pessoa e a Paraíba inteira, que não cessavam de prantear o inesquecível
Padre Zé, o maior cortejo fúnebre de que há notícia na vida desta cidade.
Sucederam-se homenagens diversas, nas Missas, preces, retratos, flores e
romarias ao Cemitério...”.
Padre Zé faleceu em 05 de novembro de 1973, deixando-nos um legado de obras sociais através de sua célebre
frase: “Não esqueçam dos meus pobres”. É, pois, o maior santo parahybano!
Rau Ferreira
Referência:
-
R.IHGP. Ano LXXXIX, N. 30. João Pessoa/PB: 1998.
-
ESPERANÇA, Revista da. Ano I, N. 04. Esperança/PB: 1997.
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