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Esperança, formação territorial (Excerto de uma palestra)


Banabuyé, 08 de janeiro de 2016

"Esperança foi grande, quando era pequenina" (Silvino Olavo)

Esperança - vista aérea 1970
Saudação à mesa, agradecer o convite da comissão do 2º Encontro de Ex-Alunos do Ginásio Diocesano de Esperança e C.E.E. (Milene, Josemi, Joseane, Carlos Ferreira, Cida Galdino, Laura Neuma e Vera Taveira), e dizer que é uma honra e grande satisfação estar aqui hoje com vocês para divulgar este trabalho.
Esta palestra foi desenvolvida em duas etapas. Num primeiro momento, irei falar sobre a formação do Município de Esperança, a partir da sua ocupação territorial, com a concessão de terras, até a emancipação política.
Num segundo instante, apresentarei o livro João Benedito: Mestre da Cantoria, personagem que biografei e que foi um dos precursores desta literatura que chamamos de cordel.
Quero dizer pra vocês que desde 2009 venho realizando o resgate histórico do nosso município, cujas pesquisas tem sido publicadas no site História Esperancense.
Ao longo destes oito anos foi possível publicar alguns livros impressos e outros trabalhos virtuais, que se encontram no site do IHGP e em diversas ferramentas eletrônicas, disponíveis para download gratuito.
E há cerca de três anos, juntamente com Evaldo Brasil, criamos o Forum Independente de Cultura de Esperança, cujo objetivo principal é disseminar a cultura nesta cidade. Desde então temos realizado saraus, palestras e outras atividades que enaltecem o potencial artístico-cultural desta terra. O fórum cultural mantém um magazine de divulgação, chamado de Boletim Virtual, e um jornal de história. Em parceria com este trabalho está o Grupo Cultural “Quero Mais”, o “Megafone Soluções Culturais de Campina Grande” e a “Poebrás – Casa do Poeta Campinense”.
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Pois bem. A história de Esperança, na verdade, começa bem antes de 1860 (ponto que se dizia inicial à antiga Banabuyé). A existência deste logradouro já era conhecida desde o Século XVIII pelos portugueses. Nesse aspecto, há na Torre do Tombo em Portugal um documento de 1753, que menciona “o Sítio chamado Banabuié situado à beira de um açude” nas proximidades de Campina Grande (R.IHGP-1953, p. 10-13).
De fato, desde 1753 o governo imperial já havia concedido uma Sesmaria a Dona Rosa Maria, viúva de Balthazar Gomes, por herança de seu pai João Gonçalves Seixas, na lagoa “Bona-boiji”, com légua e meia de quadro. Neste sítio foi constituída a Fazenda Banabuyé Cariá, a primeira ocupação do território de que se tem notícia.
Nesse mesmo período, foi concedida a Sesmaria de Lagoa de Pedra. Estas são oficialmente as mais antigas referências que se conhece.
Por esta razão, devemos considerar como marco inicial de nossa história, o ano de 1713 e, nesse contexto, a nossa Banabuyé conta hoje com 304 anos.
Na velha fazenda encontrava-se o maior e mais importante manancial da região, que era “a alagoa do Banaboié, com uma milha de círculo” (R.IHGP: 1911). E diversos tanques de pedra, a exemplo do Araçá. O lugar havia sido primitiva morada dos índios, que foram expulsos pelos colonos. Irineu Jóffily, o pai da história parahybana, nos informa que costumava passar os invernos no Banabuyé.
A Fazenda Banaboé Cariá seria um entreposto para criação de gado, depois que foi passado o travessão, que dividiu a Parahyba em litoral e sertão, que impôs a criação de gadum vacum e cavalar no interior.
Assim, os tropeiros faziam caminho por essas terras, não sendo incomum a presença de mascates (Jovino Pereira Brandão, Zezé Cambeba) que comercializavam, a base de escambo, mercadorias com os sitiantes.
Desta forma, no entorno de suas terras surgiu, por volta de 1860, uma feira semanal bastante frequentada que também chamou a atenção da igreja católica, ávida por catequizar aquele povo  inculto, erigindo uma capela sob a invocação de N. S. do Bom Conselho, dando início a nossa povoação.
Fala-se ainda nos irmãos Diniz, que se fixando nas imediações da Beleza dos Campos, expulsaram os silvícolas e construíram as primeiras moradas que, segundo Coriolano de Medeiros, não passavam de casas de taipas, mas que serviam as necessidades básicas dos moradores.
Daí, que o nascedouro de Esperança, não apenas pela localização da Fazenda, como também pelas primeiras moradias, é a região da Beleza, vindo esta a se desenvolver, para os lados da antiga rua de Baixo, atual Silvino Olavo, por força da Capela em 1862.
Compreende-se esta escolha, pelo fato do trajeto que se fazia, cortando a nossa rua Manoel Rodrigues, descendo pela rua de Areia, ou contornando a rua do Sertão, todos esses caminhos se dirigiam ora para as fazendas de cana de açúcar, ora para as de gado, no trajeto que facilitava a escoação de mercadorias.
Epaminondas Câmara nos informa que os primeiros povoadores foram ex-fazendeiros, advindos após o declínio da cana de açúcar, e que instituíram em nossas terras, o chamado “Ciclo da Farinha” ou “Civilização da Farinha”. De fato, as terras de Esperança não eram produtivas para aquela monocultura, inexistindo aqui qualquer moenda, contudo a maniva, que era muito conhecida dos índios, produzia o complemento para a alimentação do sertanejo. Chegava-se a percorrer 80 léguas para adquirir aqui em Esperança, este produto da mesa sertaneja.
Assim se formavam as principais ruas, já citadas anteriormente, a rua de Baixo, a rua de Areia (passando pela rua do Boi), a rua do Sertão e, tempos depois, com a urbanização, a rua Nova (rua João Pessoa).
 A igreja trouxe não apenas o local de adoração, mas também um lugar para o descanso eterno. É que nos idos de 1860, pouco ou mais, se instalou na Parahyba uma epidemia de “Cólera”. Até aqui, não havia cemitério em nossa cidade. Os ricos eram enterrados na igreja, enquanto os corpos dos menos favorecidos eram depositados nos campos.
Consta que em S. Miguel, antigo Sítio Velho, distrito de Esperança, há um cemitério abandonado. Pois bem, diz a tradição que este “campo santo” foi construído por Padre Ibiapina. Curioso é que as pessoas eram enterradas em redes, não existiam caixões. Depois de muito tempo, a própria prefeitura resolver instalar uma fábrica de caixões para os mais pobres.
Então o comércio ganhou força, surgiram as primeiras casas de arrancho, pousadas, lojas e secos e molhados. O povoado já demonstrava a sua forte vocação para o comércio. Deste tempo, citemos: Matias Fernandes, José de Christo, Manoel Rodrigues e Theotonio Tertuliano da Costa. Estava assim formada o arquétipo de cidade, contudo a maior renda ficava com o Município de Alagoa Nova.
Apesar dos impostos do Distrito de Esperança serem bem maiores do que a sede (Alagoa Nova), esta dependência perdurou até metade dos anos 20
Regressando Silvino Olavo, após a conclusão do seu curso (1925), por ocasião da inauguração da luz movida a motor, iniciou um movimento pela libertação de Esperança, a quem aderiu não apenas Manoel Rodrigues, mas também o rábula Severino Diniz. Em seu discurso, dizia o poeta: “Esperança – lyrio verde da Borborema – terra de juventude e de paz”.
Esperança não aguentava mais recolher impostos em favor de sua terra mãe, sem os benefícios de que necessitava para o seu progresso. Houve reação local (Yayá Tavares), e resistência na Câmara Legislativa (Deputado Aristides Ferreira), mas o apoio incondicional do Presidente João Suassuna, amigo do nosso vate Silvino, foi crucial para a aprovação da lei (Projeto Nº 13, do Dep. Antônio Guedes) que definiu o Município de Esperança, emancipando-a em 1º de dezembro de 1925.
Em sua primeira administração, cuidou Manoel Rodrigues de dar os contornos municipais, ajustando as contas, melhorando as estradas, criando as primeiras leis, e instalando o Conselho Municipal, espécie de Câmara Legislativa da época. Os prefeitos que se seguiram, deram continuidade a este projeto de Município, sendo Sebastião Duarte, aquele que – na minha opinião – empreendeu maior esforço para o engrandecimento desta cidade.

Devemos lembrar, ainda, a promessa de Esther Rodrigues, esposa de Manoel Rodrigues, que sendo atendida, mandou construir a “Capelinha”, este monumento que hoje tanto nos orgulha, e que pode ser citada como a menor capela do mundo. 

Rau Ferreira

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