Pular para o conteúdo principal

Em torno de um poeta (palestra)

Foto: Professora Valda Oliveira


Ela passou...
Nunca soube que a amei, porque nunca me amou.
Toda mulher naquela idade é borboleta...
O coração da gente... Ai! é sempre uma rosa
Que lhe dá sempre o néctar da melhor paixão!
E ela... (Sempre a inconstante borboleta)
Suga o néctar e vai borboleteando,
Girandolando
De rosa em rosa,
- De coração para outro coração...
                                                          João da Retreta

Bom dia! Quero agradecer ao Professor Alessandro Almeida que mui gentilmente me convidou para esta conversa sobre o patrono deste Grêmio Estudantil.
Silvino Olavo possuía uma inteligência multiforme: político, jornalista e advogado... E vocês ao lhe escolherem para seu patrono devem ter em mente sempre esta tríade vitoriosa como foi no passado.
A política como sendo a luta por uma sociedade mais justa, da prática do bem e de conquistas sociais. O jornalismo o interesse pela verdade, a busca de coisas novas e da informação. A advocacia o respeito pelos direitos fundamentais e a defesa do que é justo.
Como estudantes, vocês devem primar por estes princípios. Praticando uma boa política, divulgando as suas ações e primando pelos direitos dos estudantes.
Não faz muito tempo alguns alunos como vocês assumiram esse risco, dentre eles posso citar o próprio professor Alessandro, Evaldo Brasil, João de Araújo e Marcelino. Eles levantaram a bandeira de uma sociedade mais justa e fraterna; fundaram um jornal que denominaram “Novo Tempo” e participaram das lutas sociais na esperança de dias melhores.
O grêmio foi e sempre será um lugar para se pensar o hoje e o amanhã. Daqui saíram lideranças, quero dizer que três dos presidentes da Câmara foram ex-gremistas; mas também profissionais dos mais variados: pedagogos, matemáticos e juristas... Não é a toa que a ditadura combatia os grêmios estudantis no Brasil, porque representavam a classe pensante desta nação e com isto se tornavam um perigo para o governo militar.
Mas vamos falar do nosso patrono, que é o que nos interessa. Silvino como vocês foi um jovem de muitos ideais. Ainda era garoto quando decidiu se rebelar contra a vontade do pai, que queria fazer-lhe comerciante, para abraçar o mundo das letras. Trocou assim esta cidade pela capital da Parahyba, onde foi estudar no Pio X elegendo-se por três anos consecutivos orador de sua turma. Nesta escola participava do teatro e já ensaiava ser repórter escrevendo para o folhetim “A Arcádia”. Ao final do curso ginasial, foi prestar vestibular ingressando na faculdade de direito do Rio, uma das mais conceituadas do país. Participou da “Associação dos Estudantes de Direito”, sendo o seu orador. E concluindo o seu bacharelado, retornou à Esperança com uma carta de advogado e um punhado de idéias.
Poeta consagrado usou de sua influência nos ciclos sociais para convidar o então governador João Suassuna, que a pretexto da inauguração da luz elétrica, compareceu à Esperança em maio de 1925. O imponente discurso “Esperança – lyrio verde da Borborema – terra de juventude e de fé” foi um marco para a nossa emancipação política.
Silvino Olavo sempre foi um estudante aplicado e atuante. Na escola fez curso de teatro, participava dos debates retóricos e representava a turma em suas excursões; com as suas idéias, queria construir um mundo melhor.
Assim é que observamos a participação do poeta em diversas áreas:
- No teatro atuou em diversas peças encenadas na escola Pio X;
- Foi um dos primeiros a comentar “A Bagaceira”, o romance nordestino de José Américo de Almeida;
- Trabalhou nos Correios do Rio e atuou como revisor de jornais;
- Na Parahyba, recebeu Mário de Andrade, autor de “Macunaíma”;
- Prefaciou livros e fez a crítica literária dos autores de sua época, a exemplo de João do Rio, Leonel Coêlho
- Atuou como Promotor Público na Capital Parahybana e fez parte do primeiro Conselho Penitenciário do Estado;
- Participou da Academia de Letras do Rio de Janeiro.
Quero encerar essa minha fala com uma de suas poesias, que pela temática abordada, reputo ser uma das mais belas:

EUCARISTIA (Silvino Olavo)

A luta pela vida impõe ao Nordestino
A influência imponderável do solo e do clima
E Ele é o herói de raça que se aclima,
Nos penhascos agrestes, a pleno sol a pino.

Ao apelo da gleba, ao Toque do Sino,
Ei-lo a comungar pela seara opima;
E a eucaristia, fá-lo ser de cima...
Como um simbolo imutável do Destino!

É um sábio. Vemo-lo de tudo estar senhor!
Ao remate de – mal exterior -
Pouco ou nada influir na organização.

Nem de mais, nem de menos – à direita...
E para os aguaças, na Eclética Perfeita
Vejamos quem Ele é na primeira Eleição.


Agradeço, finalmente, a paciência de todos os que me ouviram nesse curto espaço de tempo, com votos de que sejam igualmente vitoriosos nesta faina da vida estudantil.


Rau Ferreira

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Capelinha N. S. do Perpétuo Socorro

Capelinha (2012) Um dos lugares mais belos e importantes do nosso município é a “Capelinha” dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Este obelisco fica sob um imenso lagedo de pedras, localizado no bairro “Beleza dos Campos”, cuja entrada se dá pela Rua Barão do Rio Branco. A pequena capela está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa “ lugar onde primeiro se avista o sol ”. O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Consta que na década de 20 houve um grande surto de cólera, causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira, teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal.  Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à ...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

Antes que me esqueça: A Praça da Cultura

As minhas memórias em relação à “Praça da Cultura” remontam à 1980, quando eu ainda era estudante do ginasial e depois do ensino médio. A praça era o ponto de encontro do alunado, pois ficava próxima à biblioteca municipal e à Escola Paroquial (hoje Dom Palmeira) e era o caminho de acesso ao Colégio Estadual, facilitando o encontro na ida e na volta destes educandários. Quando se queria marcar uma reunião ou formar um grupo de estudos, aquele era sempre o ponto de referência. O público naquele tempo era essencialmente de estudantes, meninos e moças na faixa etária de oito à quinze anos. Na época a praça tinha um outro formato. Ela deixava fluir o tráfego de transporte de carros, motos, bicicletas... subindo pelo lado direito do CAOBE, passando em frente à escola e descendo na lateral onde ficava a biblioteca. A frequência àquele logradouro era diuturna, atraída também pelas barracas de lanche que vendiam cachorro-quente e refrigerante, pão na chapa ou misto quente, não tinha muita ...

Ruas tradicionais de Esperança-PB

Silvino Olavo escreveu que Esperança tinha um “ beiral de casas brancas e baixinhas ” (Retorno: Cysne, 1924). Naquela época, a cidade se resumia a poucas ruas em torno do “ largo da matriz ”. Algumas delas, por tradição, ainda conservam seus nomes populares que o tempo não consegue apagar , saiba quais. A sabedoria popular batizou algumas ruas da nossa cidade e muitos dos nomes tem uma razão de ser. A título de curiosidade citemos: Rua do Sertão : rua Dr. Solon de Lucena, era o caminho para o Sertão. Rua Nova: rua Presidente João Pessoa, porque era mais nova que a Solon de Lucena. Rua do Boi: rua Senador Epitácio Pessoa, por ela passavam as boiadas para o brejo. Rua de Areia: rua Antenor Navarro, era caminho para a cidade de Areia. Rua Chã da Bala : Avenida Manuel Rodrigues de Oliveira, ali se registrou um grande tiroteio. Rua de Baixo : rua Silvino Olavo da Costa, por ter casas baixas, onde a residência de nº 60 ainda resiste ao tempo. Rua da Lagoa : rua Joaquim Santigao, devido ao...

A origem...

DE BANABUYU À ESPERANÇA Esperança foi habitada em eras primitivas pelos Índios Cariris, nas proximidades do Tanque do Araçá. Sua colonização teve início com a chegada do português Marinheiro Barbosa, que se instalou em torno daquele reservatório. Posteriormente fixaram residência os irmãos portugueses Antônio, Laureano e Francisco Diniz, os quais construíram três casas no local onde hoje se verifica a Avenida Manoel Rodrigues de Oliveira. Não se sabe ao certo a origem da sua denominação. Mas Esperança outrora fora chamada de Banabuié1, Boa Esperança (1872) e Esperança (1908), e pertenceu ao município de Alagoa Nova. Segundo L. F. R. Clerot, citado por João de Deus Maurício, em seu livro intitulado “A Vida Dramática de Silvino Olavo”, banauié é um “nome de origem indígena, PANA-BEBUI – borboletas fervilhando, dados aos lugares arenosos, e as borboletas ali acodem, para beber água”. Narra a história que o nome Banabuié, “pasta verde”, numa melhor tradução do tupi-guarani, ...