Pular para o conteúdo principal

A escola e seus costumes

Fachada da antiga "Escola Paroquial" (Ginásio Diocesano)
As escolas sempre praticaram boas maneiras. Dentre elas, destacamos as canções que eram entoadas para recepcionar os visitantes, acordar o dia, alegrar a tarde e de despedidas aos convivas. Essas músicas nos remontam a um tempo lúdico, de lembranças sem iguais, cujo repertório permanece gravado em nossa memória.
No Ginásio Diocesano – atual Escola Dom Palmeira – não poderia ser diferente. Os mestres eram orientados a iniciarem as suas aulas com uma canção de “bom dia”, e logo após recitarem um “padre-nosso”. Esse era o primeiro passo antes de se tomar a lição. Com facilidade, a colega Lúcia Martins rememorou os versos daquela música: “Alô, bom dia/ Oh como vai você/ Um olhar sempre amigo/ Um claro sorriso/ Um aperto de mão/ Bom dia nada custa/ ao nosso coração/ É bom saber/ dar bom dia ao nosso irmão/ Se Deus tiver de amar com distinção/ Alô, bom dia irmão!”.
Já no meu tempo, cantávamos o seguinte: “Bom dia visitante, bom dia/ A sua companhia nos atrai/ Faremos o possível/ Para sermos bons amigos/ Obrigado visitante, obrigado”.
Também nos educandários sempre se exigiu uma boa apresentação e conduta condizente com a condição de estudante. Os costumes eram seguidos à risca. Assim era no “Irineu Jóffily”: uniforme impecável, orelhas e cantos limpos eram averiguados e, caso aquela “gravatinha” estivesse faltando, o aluno retornava para casa. Apenas na sexta-feira, relatou José Luiz do Nascimento, por ser final de semana, se relevava certas situações. A semana da pátria era toda dela, pois se hasteava a bandeira ao som do hino nacional. E no dia da Independência, ai daquele que não comparecesse ao desfile!
Para se chamar a atenção bastava perguntar ao pequeno “quem era seu pai”. A simples menção fazia o aluno tremer, pois o mestre possuía tal autoridade que uma decisão sua, embora contrária ao “querer” do filho, era inquestionável perante os pais. A suspensão do pupilo era uma quase-morte, pois além de privar da freqüência às aulas, o castigo em casa era severo, a “surra” era certa, inclusive com direito a “banho de água e sal”.
A lição era tomada à palmatória. Nesse aspecto, disse Vicente Simão que um menino argüia ao outro, que recebia uma palmada quando não sabia resposta. E caso fosse condescende com o seu colega, a professora tomava do instrumento e lhe aplicava um “bolo”, com a seguinte observação: “É assim que se faz, entendeu?!”. Mas havia aqueles alunos que faziam questão de aprender a tabuada, para dar “bordoadas” nos colegas, como o meu compadre Tonho Torres.
As escolas também tinham os seus porteiros os quais eram muito respeitados, pois nos intervalos eles ficavam observando as brincadeiras para contar o ocorrido aos diretores, quando estas extrapolavam os seus limites.
O ensino religioso era importante para a formação moral do estudante. O Brasil ainda não havia adotado uma posição laica, nem retirado os crucifixos das salas de aulas. Essas medidas somente foram adotadas após a entrada em vigor da Constituição, em outubro de 1988.
Mesmo os que não demonstravam alguma devoção, o faziam por obediência às normas escolares. Lembro que também do costume de algumas celebrações, com leitura da bíblia e orações durante o decorrer do ano letivo, em especial, nas datas evocativas aos santos.
O curioso é que o professor não se limitava a lecionar, de maneira que, muitas vezes, procurava saber da vida do aluno, suas dificuldades e anseios, e procurava ajudar no que fosse possível. E não havia esse negócio de “aula vaga”, pois em caso de ausência do mestre, a diretora assumia a sala dando conta da lição.
Assim eram os costumes d’outrora, pelo menos o que me veio à tona. Caso você tenha algo a acrescentar, deixe os seus comentários. A sua contribuição poderá enriquecer este trabalho.

Rau Ferreira

Fontes:
- Entrevista com Lúcia de Fátima Martins, em 08/10/2015.

- Entrevista com Vicente Simão e José Luiz do Nascimento, em 10/10/2015.

Comentários

  1. Eh verdadeira esse aprendizado... Somos felizes e diferentes CDA turma de hj

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

A Pedra do Caboclo Bravo

Há quatro quilômetros do município de Algodão de Jandaira, na extrema da cidade de Esperança, encontra-se uma formação rochosa conhecida como “ Pedra ou Furna do Caboclo ” que guarda resquícios de uma civilização extinta. A afloração de laminas de arenito chega a medir 80 metros. E n o seu alto encontra-se uma gruta em formato retangular que tem sido objeto de pesquisas por anos a fio. Para se chegar ao lugar é preciso escalar um espigão de serra de difícil acesso, caminhar pelas escarpas da pedra quase a prumo até o limiar da entrada. A gruta mede aproximadamente 12 metros de largura por quatro de altura e abaixo do seu nível há um segundo pavimento onde se vê um vasto salão forrado por um areal de pequenos grãos claros. A história narra que alguns índios foram acuados por capitães do mato para o local onde haveriam sucumbido de fome e sede. A s várias camadas de areia fina separada por capas mais grossas cobriam ossadas humanas, revelando que ali fora um antigo cemitério dos pr

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele

O Mastodonte de Esperança

  Leon Clerot – em sua obra “30 Anos na Paraíba” – nos dá notícia de um mastodonte encontrado na Lagoa de Pedra, zona rural de Esperança (PB). Narra o historiador paraibano que em todo o Nordeste existem depressões nos grandes lajeados que afloram nos terrenos, conhecidas pelo nome de “tanques”, muitas vezes obstruídos pelo material aluvionar. Estes são utilizados para o abastecimento d’água na região aplacada pelas secas, servindo de reservatório para a população local. Não raras as vezes, quando se executa a limpeza, nos explica Clerot, aparecem “ restos fossilizados dos vertebrados gigantes da fauna do pleistoceno que povoou, abundante, a região do Nordeste e, aliás, todo o Brasil ”. Esqueletos de espécimes extintas foram encontradas em vários municípios, soterrados nessas condições, dentre os quais se destaca o de Esperança. A desobstrução dos tanques, necessária para a sobrevivência do rurícola, por vezes provocava a destruição do fóssil, como anota o professor Clerot: “ esf

Barragem de Vaca Brava

Açude Vaca Brava, Canalização do Guari (Voz da Borborema: 1939) Tratamos deste assunto no tópico sobre a Cagepa, mais especificamente, sobre o problema d’água em Esperança, seus mananciais, os tanques do Governo e do Araçá, e sua importância. Pois bem, quanto ao abastecimento em nosso Município, é preciso igualmente mencionar a barragem de “Vaca Brava”, em Areia, de cujo líquido precioso somos tão dependentes. O regime de seca, em certos períodos do ano, justifica a construção de açudagem, para garantir o volume necessário de água potável. Nesse aspecto, a região do Brejo é favorecida não apenas pela hidrografia, mas também pela topografia que, no município de Areia, apresenta relevos que propiciam a acumulação das chuvas. O riacho “Vaca Brava”, embora torrencial, quase desaparece no verão. Para resolver o problema, o Governador Argemiro de Figueiredo (1935/1940) adquiriu, nos anos 30, dois terrenos de cinco engenhos, e mais alguns de pequenas propriedades, na bacia do açude,

Versos da feira

Há algum tempo escrevi sobre os “Gritos da feira”, que podem ser acessadas no link a seguir ( https://historiaesperancense.blogspot.com/2017/10/gritos-da-feira.html ) e que diz respeito aqueles sons que frequentemente escutamos aos sábados. Hoje me deparei com os versos produzidos pelos feirantes, que igualmente me chamou a atenção por sua beleza e criatividade. Ávidos por venderem seus produtos, os comerciantes fazem de um tudo para chamar a tenção dos fregueses. Assim, coletei alguns destes versos que fazem o cancioneiro popular, neste sábado pós-carnaval (09/03) e início de Quaresma: Chega, chega... Bolacha “Suíça” é uma delícia! Ela é boa demais, Não engorda e satisfaz. ....................................................... Olha a verdura, freguesa. É só um real... Boa, enxuta e novinha; Na feira não tem igual. ....................................................... Boldo, cravo, sena... Matruz e alfazema!! ........................................