Pular para o conteúdo principal

Estação Esperança

Notícias sobre uma estrada de ferro

Reportagem Especial

A Conde D’eu foi a primeira estação de trem da Paraíba. Surgida em 1871 por concessão do Governo Imperial, ligava a atual cidade de João Pessoa ao interior do Estado. A sua construção, porém, teve início em 1880 através da The Conde D’eu Railway Company Limited, e seus trilhos chegaram à Mulungú em setembro de 1883.
Em 1901, esta concessão foi transferida para a Great Western. E em 1907 seus trilhos alcançaram Campina Grande. Eles trouxeram um vigor novo de aglomeração e fundo comercial. Cidades importantes e de certa forma suas rivais, passaram a ser beneficiadas.
Mas o fato é que, quando se deram as discussões a cerca da implantação de uma estrada de ferro de penetração havia a possibilidade de sua passagem por Esperança.
O ponto inicial dos trilhos seria Campina Grande, embora a opinião dominante defendesse o prolongamento do ramal que partia de Alagoa Grande.
O projeto da Inspetoria de Obras Contra as Secas, elaborado em 1919, previa a interligação do Sertão à Estação de Paiano, no Ceará; e o Brejo à Estação de Nova Cruz no Rio Grande do Norte, via Guarabira.
Segundo o plano do IFOCS, esta estrada deveria dirigir-se à Cajazeiras no sertão paraibano, passando antes pelas cidades de Alagoa Grande, Areia, Remigio e Esperança. Daí prosseguindo até alcançar Pocinhos, Juazeirinho e seguindo até Cajazeiras, numa extensão de 439 quilômetros.
José Américo de Almeida quando discute “A Paraíba e seus problemas”, nos dá a seguinte notícia:
Eis o traçado da estrada. Qualquer que seja a companhia que se organisar para levar a effeito semelhante traçado (...). Da estação do Mulungú partirá um outro ramal na direcção de Alagôa Grande, Brejo de Areia e Esperança”.

O Engenheiro Francisco Soares da Silva Retumba, responsável pela obra, assim opinara:
"Penso que a província da Parahyba tem de ser cortada algum dia por uma extensa rêde de caminho de ferro: é isto indispensavel ao desenvolvimento de sua agricultura, á exploração de suas riquíssimas minas de toda a natureza e, mais que tudo, à introdução da sciencia e da instrucção em toda a sua extensão do território parahybano.”

Mas o projeto nunca saiu do papel. Há quem diga que políticos influentes teriam desviado este entroncamento para outras paragens. Mas esse fato em nada influenciou o nosso município, que continuou crescendo e hoje centraliza a maioria das atividades do brejo, impondo-se como centro comercial forte e importante colégio eleitoral do Estado.
Na figura ao lado observamos as fachadas frontal e lateral da “Estação Esperança”, do acervo do juiz aposentado e historiador Dr. João de Deus Melo.

Rau Ferreira

Fonte:
- ALMEIDA, José Américo. A Paraíba e seus problemas. Ed. União. Secretária do Estado da Paraíba. João Pessoa/PB: 1980, p. 353;
- GEOGRAFIA, Revista Brasileira de. Vol. 15. IBGE. Departamento de Documentação e Divulgação. Geográfica e Cartográfica. Diretoria Técnica. Rio de Janeiro/RJ: 1963, p. 33/34;
- GERODETTI, João Emílio. CORNEJO, Carlos. As Ferrovias do Brasil nos cartões-postais e álbuns de lembrança. Ed. Solaris Edições Culturais. São Paulo/SP: 2005, p. 226;
- CARNEIRO, Justino Ferreira. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa da Parahyba em 21 de setembro de 1881. Typ. do Liberal Parahybano. Parahyba do Norte: 1882, p. 28/29.

Comentários

  1. Rau muito interessante esta planta rasa de como seria a estação de Esperança caso o projeto do Ramal de Penetração da ferrovia que ligaria Paraíba e Ceará nos anos vinte não fosse abandonada. Parabéns mais uma vez pela publicação do tópico.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

A Exposição de Helle Bessa

  Por Ângelo Emílio da Silva Pessoa*   Nessa Quinta-feira (12/06/25), na Galeria Lavandeira (CCTA-UFPB), tive a honra e o prazer de comparecer à abertura da Exposição "Impressões Contra o Fim", da artista plástica Helle Henriques Bessa (1926-2013), natural de Esperança (PB) e que tornou-se Freira Franciscana de Dillingen, com o nome de Irmã Margarida. Durante anos foi professora de artes nos Colégios Santa Rita (Areia) e João XXIII (João Pessoa). Helle Bessa era prima da minha mãe Violeta Pessoa e por décadas convivemos com aquela prima dotada de uma simpatia contagiante. Todos sabiam de seu talento e que ela havia participado de exposições internacionais, mas sua discrição e modéstia talvez tenham feito com que sua arte não tenha ganho todo o reconhecimento que merecia em vida. Anos após seu falecimento, as Freiras Franciscanas doaram seu acervo para a UFPB e foi possível avaliar melhor a dimensão de seu talento. As falas na abertura destacaram seu talento, versatilida...

Sitio Banaboé (1764)

  Um dos manuscritos mais antigos de que disponho é um recibo que data de 1º de abril do ano de 1764. A escrita já gasta pelo tempo foi decifrada pelo historiador Ismaell Bento, que utilizando-se do seu conhecimento em paleografia, concluiu que se trata do de pagamento realizado em uma partilha de inventário. Refere-se a quantia de 92 mil réis, advinda do inventário de Pedro Inácio de Alcantara, sendo inventariante Francisca Maria de Jesus. A devedora, Sra. Rosa Maria da Cunha, quita o débito com o genro João da Rocha Pinto, tendo sido escrito por Francisco Ribeiro de Melo. As razões eram claras: “por eu não poder escrever”. O instrumento tem por testemunhas Alexo Gonçalves da Cunha, Leandro Soares da Conceição e Mathias Cardoso de Melo. Nos autos consta que “A parte de terras no sítio Banabuiê foi herdade do seu avô [...], avaliado em 37$735” é dito ainda que “João da Rocha Pinto assumiu a tutoria dos menores”. Registra-se, ainda, a presença de alguns escravizados que vi...

As festas de S. João (1933)

  Jornal “A União”   Constituíram um verdadeiro acontecimento as festas sanjoanescas nessa florescente vila serrana. O programa das mesmas, que foram realizadas em benefício da Caixa Escolar “Joviniano Sobreira”, ficou a cargo de 3 comissões, assim distribuídas: Comissão Central: Drs. Sebastião Araújo, Samuel Duarte, Heleno Henriques, Luiz de Gonzaga Nobrega, Manuel Cabral, Srs. Júlio Ribeiro, Theotônio Costa, Manuel Rodrigues, José Souto, Severino Diniz, Theotônio Rocha e Pedro Torres, Sras. Esther Fernandes, Firmina Coelho Nobrega, Virgínia Cunha, Elvira Lima, professora Lydia Fernandes e Severina Sobreira; comissão de organização – Srs. José Carolino Delgado, José Brandão, Sebastião Rocha, José Rocha, Antônio Coêlho, Fausto Bastos, José Passos Pimentel, Miguel Felix, João Santiago Ulisses Coelho, Francisco Bezerra, Claudino Rogério, Francisco Soares; comissão de ornamentação – senhoritas Noemia Rodrigues, Marieta Coelho, Dulce Paiva, Hilda Rocha, Oneide de Luna Freire...

Dica de Leitura: Badiva, por José Mário da Silva Branco

  Por José Mário da Silva Branco   A nossa dica de leitura de hoje vai para este livro, Badiva, voltado para a poesia deste grande nome, Silvino Olavo. Silvino Olavo, um mais ilustre, representante da intelectualidade, particularmente da poesia da cidade de Esperança, que ele, num rasgo de muita sensibilidade, classificou como o Lírio Verde da Borborema. Silvino Olavo, sendo da cidade de esperança, produziu uma poesia que transcendeu os limites da sua cidade, do seu Estado, da região e se tornou um poeta com ressonância nacional, o mais autêntico representante da poética simbolista entre nós. Forças Eternas, poema de Silvino Olavo. Quando, pelas ruas da cidade, aprendi a flor das águas e a leve, a imponderável canção branca de neve, o teu nome nasceu sem nenhuma maldade, uma imensa montanha de saudade e uma rasgada nuvem muito breve desfez em meus versos que ninguém escreve com a vontade escrava em plena liberdade. Silvino Olavo foi um poeta em cuja travessia textual...

Padre Zé e o Cinquentenário da Escola das Neves

Quando a Escola das Neves, que funcionava na Capital paraibana, completou cinquenta anos, o Padre Zé Coutinho escreveu uma emocionada carta que foi publicada no Jornal O Norte em 13 de novembro de 1956. O fundador do Instituto São José iniciou os estudos primários no Colégio Diocesano Pio X, quando aquele educandário funcionava como anexo ao Seminário Arquidiocesano da Parahyba. Depois matriculou-se no Colégio N. S. das Neves, naquela mesma cidade, pois ainda havia uma seção para estudantes do sexo masculino. Retornou, depois, para o Pio X para fazer o curso secundário. A missiva – endereçada a Benedito Souto – trazia o seu depoimento sobre aquele tradicional educandário: “Também, fui aluno do Curso Masculino, de Julho de 1906 a Novembro de 1907, ao lado de Alceu, Antenor e Mirocem Navarro, Mário Pena, Paulo de Magalhães, João Dubeux Moreira, Ademar e Francisco Vidal, Otacílio Paira, Mário Gomes, Gasi de Sá e tantos outros” – escreveu o Padre Zé. Era professora a Irmã Maria Anísi...