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A Casa II, poema de Graça Meira


                              
                             
A CASA (II)

Ela tem história, sim, e tem a memória devida
De uma inteligência rara, da razão destituída
De um homem bonito, abastado e místico
De um poeta ilustre, autor de poemas líricos.

E essa árvore frondosa, quiçá saudosa
Que lhe fica insone ao derredor
Geme, sente dor e tem pudor
De nada poder dizer nem revelar
Sendo um espírito vegetal, é lógico, tem de calar
As ilusões doidivanas que por anos a fio testemunhou
As imaginações loucas que no cio da terra presenciou.

Como vegetal sonhador seu espírito se ramifica
Em suas raízes desconexas e fica
Entremeado em todo o terreno da Casa
Ouvindo ecos pungentes, sussurros loucos, dolentes
De uma intelectualidade bela e mórbida
De um sofrimento sórdido e profundo
De um jurista e poeta, que não encontrava o seu mundo.

Murmúrios atormentados e gritos confusos, sofridos
Tresloucados, apaixonados e doridos
De uma alma insana, sangrando incompreendida
De um ser que estava além do ser comum dessa vida
E vivia nessa Casa, soturno, sozinho, isolado
Trancafiado no seu quarto privado, desolado.

Em meio a livros jurídicos, letras literárias e lembranças tristes
O poeta deixava o seu intelecto riquíssimo se derramar
Em poesias de queixumes, paixões, amor e desamor
Chorando e gritando da vida o travor e o amargor
Que perturbavam sua mente e espetavam o peito seu
Recordações recorrentes de um matrimônio fracassado
De um amor de pai partido, frustrado e arrebatado
De sua única filha amada, menina adorada, que morreu.

Tudo isso nessa Casa misteriosa aconteceu
O poeta tem sua alma louca lá plantada
Foi lá que ele viveu, padeceu e morreu pra vida
Não é só uma Casa, é uma Casa encantada e querida
Cheia de sortilégio, de muita magia privilegiada
E deveria ter o privilegio de nunca ser derrubada.

Maria Das Graças Duarte Meira
Em 11 de abril de 2018

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