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Há uns dias compartilhei alguns
poemas da lavra de Silvino Olavo, poeta cuja Cadeira de número 35 devo ocupar
na próxima semana (17/11), perante a Academia de Letras de Campina Grande.
Não tenho como descrever a alegria de
vê-los comentados, num grupo social, com toda a sua técnica, pelo Professor
José Mário da Silva Branco, que confessou: “Poeta que estudei na Universidade
Federal de Campina Grande, há alguns semestres, quando ministrei a disciplina
Literatura Paraibana”.
Escritor, crítico literário e imortal
da Academia Paraibana de Letras, e já eleito para a Academia Campinense, o Dr.
José Mário da Silva Branco é na atualidade o maior nome das letras em nosso
Estado, com projeção nacional. Não bastassem esses predicados, é um homem de
Deus, evangelizador que tem convertido muitas almas do pecado da morte.
“Levei-o para a sala de aula e li
vários poemas de autoria dele [Silvino], todos muito bem apreciados pelos
alunos”, escreveu o Acadêmico.
Foi então que lhe apresentei o
inédito “O inseto que leva o veneno das pestes ao cálice das rosas puras”,
cujos versos debito a seguir:
Minhas amigas! Há uns tantos
Que veem um sentido mal nos versos lindos
Que eu vos desfolho como os Gregos desfolham acantos
Sobre as cabeças das suas virgens
Esses que dizem que o meu verso empuna
Voss’alma de cristal. Virgem Parahybana;
Virgens que eu coroo de rosas e de versos!
Esses que veem em chamas sempre acesas,
No vosso altar de Vesta o meu culto pagão,
Certo já vos levaram ao ouvido
Que há nos meus versos outro sentido
Que não seja o de tapizar-vos o chão
Que pisardes, de rosas, como se fôreis princesas...
Ora! Mas esses são criaturas
Tão abjetas como aqueles insetos
Que levam o veneno das pestes
Ao cálice das rosas puras...
A crítica do Professor José Mário foi
bem pontual:
“Lindo poema. Metalinguístico em sua
estrutura composicional básica, o eu-lírico estabelece com a alteridade um
contraponto dialógico, no qual reafirma-se a força do poema, ainda quando
ancorada no porto da dissonância. Acentue-se, de igual modo, a elevada
tonalidade textual, típica de uma retórica mais afinada com o espírito
clássico.
Em seu clássico livro: ABC da
Literatura, o poeta e teórico da literatura Ezra Pound afirmou que poesia é um
signo complexo, que reúne em sua estrutura profunda a logopeia (ideia), a
melopeia (ritmo) e a fanopeia (imagem), dimensões textuais que, a despeito da
predominância de uma ou de outra em determinada construção poética, convivem
simultânea e dialeticamente.
Em Silvino Olavo, sem embargo da
presença dos aspectos imagéticos e sonoros que percorrem as camadas materiais
dos seus poemas, vê-se a ostensiva predominância de uma lírica que se pretende,
fundamentalmente, ser um constante pensar sobre a vida, seus fascínios, mistérios
e complexidades.
Leiam os versos de “Postal...”,
publicados em seu “Cysnes”, que veio à lume em 1924, pela Brasil Editora:
Tenham-te inveja as rosas do jardim,
para que os homens, invejando a mim,
reputem-me feliz entre os mortais;
e possa então o amor que me incendeia,
travez o incendio da retina alheia,
crescer dentro de mim cada vez mais...
Versos decassilábicos perfeitos,
cartografia exata de um poeta que exibia pleno domínio do seu ofício”.
Professor da Universidade Federal de
Campina Grande - Unidade Acadêmica de Letras. Vice-presidente do Clube
Pensamento/Estudo/Nacionalidade - Primeira Seccional PEN da Paraíba, José Mário
também é Presbítero da Igreja Presbiteriana de Campina Grande, e tem escrito os
seguintes livros: Mínimas Leituras - Múltiplos Interlúdios - 2002;
Reconciliação - 2006; Os abismos do ser-2009.
Silvino Olavo passeou pela estética
livre, parnasiana e simbolista. Poeta, jornalista e advogado, era uma
inteligência multiforme. Atacado de um mal súbito, feneceu por vinte anos em
uma casa de alienados, até que seu cunhado Waldemar lhe trouxe para o convívio
familiar. O fatídico destino do vate, foi tal qual os seus poemas mais
trágicos: um misto de dor e esperança. Ele mesmo vaticina em uma de suas estrofes:
Quando Jesus veio à Vida
com a túnica do Mar...
O olhar do céu na luz da Vida
Não me ensinou a chorar
O poeta classificava duas categorias
opostas de homens: Um que se extasia diante de uma flor, descobrindo nela o
símbolo de um mundo, e outro que não alcança lobrigar uma flor em todo o
universo.
José Mário se insere neste primeiro
grupo, pela sua sensibilidade tão natural quanto o ar que respira, que exala
conhecimento e sabedoria em tudo o que escreve, e nos orgulha por ser tão
maravilhoso como a criação divina, em toda a sua exuberância, ao tempo que é do
nosso convívio o mais simples. Gratidão, é tudo que tenho para lhe oferecer.
Rau Ferreira
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