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Mostrando postagens de junho, 2017

Mortandade: História que não se contou!

Em se tratando de história de cunho macabro a exemplo de cemitério, velórios, caixões de defuntos e mortuárias, há inúmeros episódios a serem narrados por pessoas que viveram presentemente essas façanhas. Vivi numa época em que na cidade ou na zona rural muitos morriam e a família não podia comprar um ataúde. O esquife era uma surrada rede pendurada num caibro roliço apoiada em ombros de carregadores que se revezavam ao longo do trajeto fúnebre. Mas, havia para esses casos uma solução: No cemitério mantinha-se guardado um pequeno estoque de três ou quatro caixões rústicos, de madeira pesada, que eram emprestados para as famílias conduzirem os seus mortos. Chegando ao cemitério, à beira da cova, tiravam do caixão o cadáver o qual vinha envolto num surrado lençol e desciam o corpo à sepultura. Fatídico cenário! Em meio à sequência desta descrição, relato que na minha infância de menino pobre, depois de desistir como ajudante de sapateiro, viví a experiência de trabalhar também com

Visita Pastoral (1926)

Dom Adauto de Miranda Henriques Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques visitou a nossa paróquia de 07 à 11 de novembro de 1926. A caravana chegou pela manhã. Acompanhavam o presbítero: Monsenhor José Paulino Duarte, Frei Fabiano OFM, Cônego Manuel Cristiano, Padre Emiliano de Christo, filho de Esperança, Theodomiro Guimarães e Gentil de Barros. Aguardavam na entrada da cidade o vigário José Borges de Carvalho e os seminaristas Francisco Lima, José Mesquita e Pedro Serrão, além das associações da paróquia, uniformizadas e com seus estandartes. Acorriam ainda as classes sociais, famílias e grande número de pessoas acolhendo a todos com demonstração de carinho, respeito e amor filial. Após a recepção, foram conduzidas a uma residência para se abrigarem, antes de iniciar a procissão até a igreja matriz onde foi celebrada a santa missa. O oficiante se dirigiu ao povo declarando aberta a visita e pregando aos fiéis sobre a sua importância e seus fins; determinou-se o horário do

Antiga fábrica de caixões

Antiga Fábrica de Caixões Houve um tempo que não existiam planos pós-morte e que o povo carente se enterrava com a própria rede. Ser conduzido em um ataúde para a morada eterna era um luxo para poucos. Os falecidos eram velados nas próprias residências de um dia para o outro. Servia-se café na cozinha, enquanto que os homens ficavam na sala contando histórias de “trancoso”. O município passou então a dar o artefato, mas dia sim e dia não tinha uma viúva batendo a porta da prefeitura, foi então que alguém resolveu instalar uma fábrica de caixões na rua Theotônio Tertuliano, por trás da Secretaria de Educação. O caixão fúnebre era construído dessas madeiras de caixa de batata, com alguns caibros para dar sustentação. Forrava-se com um plástico fino, de cor azul para homem ou roxo e rosa para mulheres. Na tampa se colocava um vidro para ver o ente querido. Era pequeno e, a depender do defunto, precisava fazer alguns ajustes. A prefeitura também dava a mortalha, que era um c

Desagravo (1923)

A Comunidade Católica em nosso município ainda engatinhava. A Paróquia recém-criada por ato de Dom Aurélio Miranda (1908), lutava para adornar o seu templo, adquirindo imagens dos santos venerados. Há muito custo havia construído a Casa Paroquial (1916), mas em 1923 encomendara uma réplica do “Senhor Morto”. A relíquia lembra o corpo de Jesus pós-crucificação, mencionada nos evangelhos. O Padre José Borges de Carvalho, vigário paroquial de 1922 à 1929, convidou os esperancenses a irem até Campina Grande, para receberem a imagem, trazendo-a em procissão para Esperança. O povo logo acorreu a solicitação, somando-se cerca de três mil católicos. Padre Zé Borges era forte opositor da doutrina protestante, para quem dirigia fortes críticas. Ao tomarem conhecimento da recente aquisição para a igreja, dois evangélicos campinenses afrontaram aquela multidão, insultando o vigário e pretendendo falar à porta da Igreja de N. S. da Conceição. Populares, indignados com aquela situação, vi

Pousada Banabuyé

Pousada Banabuyé A Pousada Banabuyé – na rua Dr. Silvino Olavo – é uma boa opção de estadia em nossa cidade. Não fosse o requinte desta hospedaria cinco estrelas, esta vem promovendo o embelezamento da cidade. Enquanto muitos destroem a três por quatro, a pousada reconstrói em linhas clássicas coloniais uma fachada que dá gosto de ver. O solar possui uma varanda em armação de ferro artisticamente desenhada, uma porta central de entrada e cinco janelões. No térreo há também uma garagem com portão de madeira. Uma foto do interior do estabelecimento, coletada em sua rede social, mostra também esse estilo rústico com decoração regional muito apreciado por aqueles que preferem um ambiente diferenciado. Pousada Banabuyé (interior) Nele podemos ver um pilão antigo, mesa e cadeiras em madeira pura, e prateleira em ferro desenhado, que sustentam vasilhas de barro. O moderno também se faz presente, conforme se observa na fotografia. Ao proprietário externo a minha satisfação

Círculo Operário São José (COSJ)

Círculo Operário São José, Sociedade Operária Beneficente, foi fundada em nossa Paróquia no dia 25 de maio de 1922. Como o próprio nome diz, era uma entidade formada por operários e artistas (artesões) de nossa comunidade, que se reuniram com o objetivo comum de empreender uma atividade missionária e social. Fundado pelo Padre José Borges de Carvalho, que exercia a sua presidência e era legítimo depositário, mantinha arquivos e documentos de receita e despesa, fichados com o selo da entidade e guardados no arquivo paroquial. Os seus membros eram chamados de “circulistas” e muitos deles trabalhavam no serviço da igreja, colaborando com a liturgia. Participavam como sócios: Severiano Rufino de Araújo, Claudino Rogério de Souza, Francisco Protásio de Oliveira (orador), Antônio Bastos (adjunto), João Celestino, Manuel Luis Pereira e José Gonçalves de Farias (1º Secretário) A sua arrecadação garantiu certo patrimônio, adquirindo para as suas reuniões 10 bancos, uma mesa grande e 15 c

Paróquia do Bom Conselho: Primeiras cartas pastorais

Os Bispos da Igreja costumam enviar comunicados para o clero e os leigos de sua diocese, exortando os fiéis e traçando o direcionamento de seus paroquianos. A esses comunicados chamamos de “Carta Pastoral”, que devem ser lidas para a assembleia por ocasião da Santa Missa. A Paróquia de N. S. do Bom Conselho foi criada no dia 20 de maio de 1908, desmembrada da Paróquia de Alagoa Nova, por ato de Dom Adauto de Aurélio de Miranda Henriques. O primeiro padre a assumir essa freguesia foi Francisco Gonçalves de Almeida. Apesar de jovem, nos dois primeiros decênios de sua existência, já contava com algumas cartas pastorais que ficaram assim registradas na história de nossa igreja. A primeira delas data de 1908 e foi escrita pelos Arcebispos e Bispos das Províncias Eclesiais da Bahia e Belém do Pará, comunicando ao clero e aos fiéis de suas dioceses a “Angelica Pascendi Dominici Gregis”, de sua Santidade o Papa Pio X. Na sequência, constam as seguintes cartas recebidas pela Paróquia d

De ouvi falar (histórias de feira)

A feira semanal em Esperança não é apenas o centro de negócios populares, que deu início a sua povoação nos idos de 1860. É também o encontro dos sitiantes, das pessoas e dos amigos, das conversas de bar, das estórias de “trancoso” e das memórias de nossa gente. Aos sábados costumo sempre passar no mercadinho de Janilson Andrade, este amigo de infância que me põe a par de tudo o que acontece na feira livre e, de suas lembranças sobre o pitoresco de nosso município. Hoje quero tratar de alguns assuntos que me foram reportados por Janilson, sobre os forrós e sobre alguns fatos acontecidos. Primeiramente, disse-me ele que hoje, onde é uma loja de móveis, antigamente era um terreno baldio de propriedade de seu Otávio da Movelaria. Certa feita, Luziete de Arruda Câmara, marchante da cidade, alugou o terreno a seu Otávio para fazer ali um forró. Tratou logo de fazer um palhoção, fazer a entrada e convidar um trio pé de serra. Estava organizada a festa e, por três anos seguidos, aconte