Na literatura cordelista, a mulher sempre foi mostrada com muita
paixão, daí os veros de Alberto Porfírio em exaltação à figura feminina:
Quem
é forte não se abala
Não
se altera, não se agita
Mais
qualquer homem se acaba
Por
uma mulher bonita.
Também decantada por Zé Ramalho e Otacílio Batista na famosa canção,
que nos diz:
Mulher
nova, bonita e carinhosa
Faz
o homem gemer sem sentir dor
Este foi sempre um universo masculino, até que nomes como Chica
Barrosa, Minervina Ferreira, Chiquinha Ribeiro e Terezinha Tietre ousaram topar
este desafio, conquistando o seu lugar de destaque no repente.
Teresa Dantas de Lima ficou mais conhecida pela alcunha de
“Terezinha Tietre”. Nasceu no primeiro quarto do Século XX e, segundo dizem,
residia “num sítio próximo a Esperança”,
que acreditamos ser o Sítio Cajueiro, já que alguns membros desta família
Dantas foram proprietários do lugar.
Tornou-se uma das poucas violeiras a desafiar o gênero
masculino. Jovem solteira, apresentava-se em companhia de sua genitora, uma mulher
de idade avançada.
Naquela época era incomum os homens cantarem com as mulheres, muitos
se mostravam temerosos pois não queriam passar o vexame de perderem para elas.
A “Antologia Ilustrada dos Cantadores”, escrita por
Francisco Linhares e Otacílio Batista, nos informa que tem sido rara a figura
feminina no cordel, colocando o nome de Terezinha como uma das boas
improvisadores deste gênero.
Em nossa pesquisa, não foi localizado nenhum cordel
assinado pela poetisa. Com efeito, é sabido que na sociedade patriarcal da
época elas produziam cordel, mas não podiam assinar ou vender tendo-se por
tradição mnemônica apenas alguns versos. Há notícias que as cantadoras
publicavam seus trabalhos com pseudônimos masculinos.
F. Coutinho Filho nos dá conta de um memorável desafio de Terezinha
com Manoel Ferreira. O repentista cearense havia sido advertido pela mãe da
violeira para se dirigir a ela como “Terezinha”, no entanto contrariando a
velha o cantador saiu com a seguinte sextilha:
-
Eu chamo dona Teresa,
E
sei que ela não se zanga;
E
se zangar-se eu não corro;
Pois,
correndo, o povo manga,
Dizendo
que o galo é velho
Correu
com medo da franga!
Dias depois, foi cantar com
José Soares – o poeta repórter – na Fazenda Cipó, no Cariry parahybano, desta
feita deixando-o de sobreaviso:
-
Colega, José Soares,
Entre
afoito na contenda;
Cante
tudo que souber,
Mas,
por favor, não me ofenda;
Não
quero vê-lo acanhado
Por
estar nesta fazenda!
Acompanhada da seguinte
resposta, para demonstrar que homens e mulheres cantavam
em pé de igualdade:
-
Teresinha, não entenda
Que
estou cantando assombrado;
Se
vou lhe tratando bem
É
porque sou delicado;
Mas
eu posso dar-lhe arrocho
Que
só cobra de viado!
O “Chá Dançante” de seu Dogival Costa funcionava no
primeiro piso de sua “Loja Brasil”, na Rua Manoel Rodrigues esquina com a Solon
de Lucena, onde também se apresentava uma “Jazz Band” formada por músicos esperancenses.
Ele foi palco de uma das apresentações de Terezinha, no
ano de 1942, numa peleja contra José Alves Sobrinho que rendeu 200 mil réis a
dupla. O cantador confessa em suas memórias que ambos ficaram bons amigos.
A maioria das
repentistas não eram alfabetizadas, contudo acreditamos que Terezinha sabia ler
e escrever, já que seu Dogival registrou em carta endereçada a Zé Alves, quando
do seu convite para cantar nesta cidade, que ela era “muito repentista e preparada nas letras”.
Josué Alves da Cruz, o afamado cantador nordestino, também
cantou com Terezinha no recinto de seu Dogival.
F. Coutinho em sua relação onomástica dos poetas e
cantadores dos quais pesquisou, informa que Terezinha Tietre ainda era viva quando
este publicou o livro “Violas e Repentes” no ano de 1953.
Nesta obra o escritor chega a afirmar que a cantadora era
natural de S. João do Cariri/PB. Todavia a listagem de Coutinho traz algumas
imperfeições, a exemplo de José Alves Sobrinho que ele indica ser natural de
Picuí/PB, quando na verdade o repentista nasceu em Pedra Lavrada/PB.
Embora não se possa afirmar que Terezinha fosse natural
destas paragens, é certo que residiu aqui por algum tempo, após a chamada
“Revolução de 30”, fazendo parte da nossa sociedade, sendo este um orgulho para
nós esperancenses.
Rau Ferreira
Referências:
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- MEDEIROS, Irani (org). Josué da Cruz: o cantador de Serraria. Ed. Ideia. João Pessoa/PB.
2006.
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ALMEIDA, ÁTILA Augusto F. (de). SOBRINHO, José
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de repentistas e poetas de bancada, Volumes 1-2. Ed. universitária:
1978, p. 158;
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BATISTA, Otacílio; LINHARES, Francisco. Antologia
ilustrada dos cantadores. Edição da Universidade Federal do Ceará: 1982.
-
CADERNOS DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – TCC.
Faculdade São Luiz de França. Coordenação do Curso de Letras. Semestre Letivo
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-
FILHO, F. Coutinho. Violas e repentes: repentes
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LIMA, Egídio de Oliveira. Os Folhetos de Cordel. Ed. Universitária/UFPb: 1978.
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MOMENTO FEMININO, Revista. Ano IX, N. 118. Edição
de Junho. Rio de Janeiro/RJ: 1956.
-
SANTOS,
Francisca Pereira dos. Novas
cartografias no cordel e na cantoria: Desterritorialização de gênero nas
poéticas das vozes. Programa de pós-graduação. Doutorado em Literatura
e Cultura. Prof. Orientadora Beliza Áurea de Arruda Mello. UFPB: 2009.
-
SOBRINHO, José Alves. Cantadores com quem cantei.
Ed. Bagagem. Campina Grande/PB: 2009.
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