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Esperança: Discurso feminista nos anos 50

Recorte d'O Rebate
Por ocasião da formatura dos cursos de Datilografia e Corte, promovido pela Sociedade Beneficente dos Artistas, cuja direção competia ao Professor Luiz Gil de Figueiredo, em nossa cidade, a Senhorita Elizabete Silva Santos – eleita oradora das turmas – pronunciou um empolgante discurso em defesa do feminismo.
Este movimento liberal das mulheres durante sua história obteve grandes conquistas, mas até os anos 40, para se ter uma ideia, era proibido às mulheres a prática de esportes como futebol, polo aquático, halterofilismo e beisebol (Decreto nº 3.199). O voto das mulheres somente foi alcançado no Estado Novo, com a promulgação do Código Eleitoral (1932). A igualdade entre homens e mulheres somente veio a ser reconhecida em 1945, após a edição da Carta das Nações Unidas (S. Francisco, CA: 26/06/1945).
Em sua oratória, ressaltou a diplomanda, os desafios enfrentados pelas mulheres, o preconceito de sua época, mas não deixou de lado suas expectativas futuras de que elas alcançariam um lugar merecido no ambiente de trabalho. Para ela a mulher não deveria viver à sorte de conseguir um bom casamento, aguardando a imprevisão de um príncipe em cavalo branco. Mas deveria antes, sair à luta garantindo o seu espaço na sociedade que lhe era direito.
A seguir apresentamos uma síntese do seu discurso, em material coletado n’O Rebate – jornal campinense dirigido por Luiz Gil – que nos foi fornecido pelo pesquisador Jônatas Pereira Rodrigues:

“É tarefa muito árdua dizer sobre a finalidade e alcance da profissão que iniciamos enfrentando muitos preconceitos advindos do passado, e que ainda hoje procuravamos adequar a marcha do progresso e o da vitória na luta pela existência.
Quanto no trato do homem, tudo corre muito bem e vai às mil maravilhas. Mas, quando no cenário das atividades humanas aparece a mulher que logo se levanta as vozes da incompreensão para censurar-lhe, como se a ela não assistisse o direito de viver e ser útil à sociedade e ao bem comum.
Felizmente, meus Snrs., já temos conseguido bastante, sem alardes, fora de fachadas e exibicionismos, graças a grande civilização dos tempos modernos, temos tido vitórias brilhantes, conseguindo nossos ideiais que cada dia se concretiza na realidade.
E a datilografia, meus Snrs., esse novo ramo do saber humano na conquista pela subsistência e pela consolidação do progresso, representa um papel importante e de elevada proeminência.
O empregado público ficou hoje dependente desta disciplina, especialmente em  nosso Estado depois da administração João Pessoa, o grande reformador da Paraíba, o animador de todas as nossas atividades e o pulso forte e inteligência fulgurante que nos deu o verdadeiro sentido de vidas dentro das finalidades públicas.
Devemos o invento da Datilografia, como bem o sabeis, ao imortal padre João Azevedo.
É verdade que o meio e a época em que ele viveu orientaram-lhe uma situação de embaraço e  impossibilidade a executar por ferramenta o plano do seu admirável e benéfico invento. A geração atual porém, a qual felizmente pertencemos folga da cartela que lhe guiou a sorte e graças ao Departamento de Ensino de Caio Prait, dirigido por esse brilhante espírito que é o senhor Patrício de Almeida, temos no Brasil um curso perfeito de tão importante ramo do saber.
Snrs., não basta a mulher apenas o seu ideal e fazer depender o seu destino, certamente esperando um casamento, ou aguardando sofrer imprevistos  como sonho e castelos lhe povoarem a cabeça.
É preciso também que ela saiba lutar pela vida, ser senhora de si própria, confiando em Deus, e dentro dos limites da prudência humana. E ai fato se diz da mulher, e nem é mais necessário dizer o que representa para o homem a datilografia, e especialmente àqueles que necessitam obrigatoriamente de uma profissão.
E agora querida mestra a vós, no concluir este curso todo o reconhecimento de nossas almas, toda a gratidão de nossos corações, reconhecer o nosso afeto, e este  mimo que será o perpetuar da nossa gratidão e da nossa estima.
E a vós queridos paraninfos, às famílias, as autoridades aqui presentes as nossas saudações efusivas e calorosas.
E a vós querido Diretor, professor Luiz Gil, o preito de afeição generosa e grata de todos quanto vivem cruzada benfazeja, graças aos vossos esforços e carinho pelos pequenos e humildes no caminho da luz e do saber”.

A sessão solene, realizada em 13 de agosto de 1952, foi presidida pelo Dr. Ademar Lafayete, Juiz da Comarca de Esperança, estando à mesa dos trabalhos de conclusão do curso o “diretor, professor Luiz Gil, professor Eliomar Barreto Rocha, representando o prefeito Sebastião Duarte, paraninfo da Turma, professora Guiomar Gil e Lídia Neves, datilógrafa Josina Borges, convidada especial, Severino de Branco Ribeiro e Joaquim Virgolino, homenageados e professora Cornélia Diniz, secretária”.
Os formandos prestaram compromisso de fiel e exercerem os seus conhecimentos em prol da sociedade, após o que falaram o paraninfo Luiz Gil e o Dr. Floriano Mendes. Ao final, seguiu-se um animado sarau, ao som do Jazz Esperancense.
Naquela ocasião, foram diplomados datilógrafos: Elizabete Silva Santos (oradora), Francisco Pinheiro, Tomires Costa Maia, João Gomes da Silva e José Janduí Lima. E costureiras: Marina Medeiros, Alvina Gracindo, Zena Silva, Severina Lima e Josefa Sobral.
A Escola Profissional de Esperança estava ligada ao Departamento de Ensino da Sociedade Beneficente dos Artistas, e funcionava sob a direção da Professora Lídia Neves.

Rau Ferreira


Referências:
- O REBATE, Jornal. Edição de 04 de outubro. Campina Grande/PB: 1952.

- WIKIPÉDIA: Feminismo e Cronologia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org, acesso em 14/12/2016.

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