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Getúlio...

Getúlio Vargas (1930)
Silvino Olavo sentia-se atraído pela política. Antes, já praticava o seu belo discurso louvando a gênese do amigo João Suassuna, que se elegeu Presidente da Parahyba (1924/1928); depois passou a apoiar o candidato Epitacista: João Pessoa, que igualmente logrou êxito nas urnas eleitorais de seu Estado (1928/1930). E quando este resolveu ovacionar o seu “Nego!”, o poeta esperancense foi o primeiro a dizer-lhe as razões na imprensa carioca, e de forma resoluta passou a defendê-lo nas praças de Santa Rita e Barreiras.
Getúlio deliberou contrariar a política do “café com leite”, candidatando-se ao cargo máximo da nação. Contra si o governo de Washington Luiz e dois dos maiores Estados brasileiros: São Paulo e Minas Gerais. A seu favor a pequenina Parahyba, terra de Epitácio Pessoa cujo sobrinho deveria lhe suceder na política.
Epitácio governara o Brasil de 1919 à 1922. A sua carreira inclui dois ministérios (da Justiça e do STF), Procurador da República, Senador por três legislaturas, chefia da delegação brasileira da Conferência de Versales e Juiz Corte Internacional de Haia. Este mesmo indicara João Pessoa para o cargo de Ministro do Superior Tribunal Militar.
Silvino Olavo era poeta consagrado, bastante conhecido no Rio, e muito querido pela imprensa e a intelectualidade da época. Lá cantara o seu “Cysne”, tendo freqüentado ainda as noites cariocas. O galante poeta era sempre visto em companhia das damas da sociedade. Havendo retornado à Parahyba após a conclusão de seu bacharelado, ajudou a emancipar o seu torrão natal contribuindo com o seu efusivo discurso “Esperança – Lyrio Verde da Borborema”.
Concursado fiscal do consumo, promotor da capital parahybana, e membro do conselho penitenciário estadual foi convidado para chefiar o gabinete do recém eleito João Pessoa, cujos destinos entrelaçados iam além de seu mister.
Mas algo parecia estar errado. Por aqui os enlaces de dois jovens – advogado e professora – as questões de Princesa, dos coronéis e dos Pereiras ganhavam proporções, sendo combatidas com rigor pelo presidente estadual. Essa efusão de acontecimentos, ligados a morte de alguns chegados em meio a uma produção literária intensa (e outras conjecturas) levaram Silvino a um breve afastamento, “atacado de um ligeiro incômodo”, em 14 de julho de 1929, indo abrigar-se no Pilar na fazenda de sua noiva Carmélia.
Deflagrada a “guerra” João e Getúlio precisavam se encontrar. O local escolhido foi a capital federal – Rio de Janeiro. Assim embarcava no dia 26 de dezembro de 1929 no “Flândia”, em companhia de alguns familiares, seu chefe de gabinete Silvino Olavo e do comandante militar Elysio Sobreira onde iria fazer a leitura de sua plataforma política em vistas da sucessão presidencial.
Cinco dias após desembarcara no Rio. O comércio fechou as portas, muitas pessoas foram ao cais do porto para ver o político parahybano. Lançada a escada, de repente aparece o poeta com a mala na cabeça causando certa estranheza. Eram os primeiros sinais de sua “esquizofrenia”.
Em matéria para os “Diários Associados”, o companheiro Raul de Góis chegou a comentar: "Foi, portanto, com verdadeira estupefação e doloroso pesar que os seus íntimos e a sociedade paraibana tomaram conhecimento de que aquele cérebro privilegiado dera sinais de profundo desequilíbrio num dos momentos culminantes da campanha da Aliança Liberal, na viagem de navio em que acompanhava o presidente paraibano quando este ia encontrar, no Rio de Janeiro, pela primeira vez, o seu companheiro de chapa, o presidente gaúcho Getúlio Vargas" (in: "Mestre de uma geração").
Getúlio admirava o formalismo militar. Retraído, evitava os problemas. “Deixa como está para ver como é que fica”, dizia. Escondia-se por detrás de um sorriso enigmático. Taciturno e bonachão ao passo que popularesco como uma celebridade, foram as marcas que lhe fizeram conhecido em nosso país. Aquela visita rendeu bem mais que uma aliança política, foi o início da grande virada da Parahyba. O resto da história todos conhecem...
Silvino sempre ao lado de João Pessoa teve oportunidade de lhe observar, captando todos esses traços. O seu biografado dominava a arte da fuga. Quem sabe não foi o suicídio a sua última escapada?
Pois bem. Anos mais tarde na casa de Silvino estavam o Dr. Artur (juiz campinense), em companhia do magistrado local, debatendo com acerca da vida e dos estudos do poeta, quando num repente, tornando-se enfadonha aquela conversa, o vate levantou-se e disse para os visitantes: “um momento, vou falar com Getúlio”.
O fato registrado por João de Deus Maurício (A vida dramática de Silvino Olavo), traduz essa fuga bem ao estilo getulista. Quem sabe a doença que lhe abatera anos antes também não foi uma fuga mental?


Rau Ferreira

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