Tarefa nada fácil esta de apresentar. Mas aceitei o desafio, embora não
me julgue merecedor. Fiquei algum tempo pensando, e meio que fora do ar; até
que as nuvens se dissiparam, os fantasmas se foram e pude refletir melhor sobre
esta obra. E com muita honra traga para vocês O SER EM A, do amigo Evaldo
Brasil!
Neste trabalho o poeta passeia por diversos temas de seu existencialismo
laico. Para melhor compreensão, iniciemos com Evaldo Pedro da Costa.
Este “galo-12-anista e
simpatizante petista” nasceu em plena ditadura, e vem realizando uma revolução
com sua arte. Desde menino coleciona gibis, moedas, embalagens de cigarros; e
tem por hobbie editar vídeos, sons e imagens. É politicamente correto em suas ideias,
e multifuncional em suas atividades. Poesia, desenho, fotografia, xilogravura
etc... passeia por todas elas com grande galhardia. Apesar de ser o
nosso grande ícone, prefere a solidão do anonimato
aos holofotes ofuscantes da glória. Lançou livros, plantou árvores e fez
despontar uma centena de artistas, crias suas ou não, que hoje se apresentam
nos palcos improvisados das praças de nossa cidade.
O SER EM A – como revela o próprio autor –
vincula-se a ideia do Carpem Diem, ou
seja, viver cada minuto o seu momento. É também uma viagem no tempo, não só
porque mostra a evolução poética de sua obra, a medida que este se despede da
poesia erudita para abraçar uma vertente mais popular.
São vinte poemas que se encerram com o Soneto
XX, por óbvio. De Mandela ao desalinho, passando por Di-amante e o Soneto de
Esperança. Alguns conhecidos nossos, publicados em redes sociais ou mesmo em
contato com o gestor desta obra. Por que não? Já que toda trabalho artístico é
para nós um filho predileto.
O primeiro é um soneto pela liberdade, que fala
do sincretismo religioso, da África e seu libertador. Em seguida, nos propõe o
poeta uma LUZ objetivada pela vida de PABLO MILANEZ. Dá-nos o autor a
importância da DIVINA MÚSICA, que embala nossas vidas. E ressoa um dilema
pessoal que está no PERIGO OCULTO: doido? Que nada! Perigoso mesmo é fechar os
olhos para a realidade dos “sem-nada”... que o diga o acampamento Maniçoba.
O SER AGORA EM A curiosamente vem depois da
canção divinal. E nos propõe uma reflexão ressonante: D, Q, H e V. Não é nenhum
alfabeto, mas grafias que rimam o dia, a questão, a hora e o vencer. Isso me
lembra que lá no meu sertão, o caboclo aprende o ABC e tudo rima com Ê.
Soneto sem pudores explicita a alma poética do
Brasil, tudo no preto e no branco – como tem que ser – “mula com cavalo manco”, ao nosso bel prazer.
Já a SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS é o ufanismo
realista do que assistimos na TV. Talvez um sonho moderno, uma criação
estapafúrdia com desejo de um grito que só os intelectuais entendem, assim como
se fosse a roupagem de um novo imperador.
Observe que TUdo neste livro é DINÂMICO. A roda
gira e geme, passa aboiar o cantador o seu forró eletrizado, enigmático e cheio
de conceitos...
Mas o Evaldo – que é jóia rara – não olvidou
falar de si pura e simplesmente. Esse DI-AMANTE bruto [hoje lapidado pelas
agruras da vida] se dá como presente, como um amante e ousa deixar de ser pedra
aquele que também é Pedro.
Em sua ANACONDA traça um diálogo com si próprio;
ou com a obesidade que manda, e faz e soergue prédios. Quiçá a sua militância política
tenha aqui uma projeção maior, ou seria mera coincidência? Devaneios de minha
parte, que soy calejado pelo desdém
do poder. Recortes a parte, voltemos para a análise em si.
DESTRONAI é uma afirmativa, uma ordem... que
pode ser vista de vários ângulos, mas que acentua a nossa ociosidade mórbida
diante de uma visão telecinética.
O seu domingo, como um CÉU DE DOMINGO, não tem
maiores imprecauções. É todo racional de uma fé inabalável que inicia bem cedo,
num acordar precoce neste dia que se inicia depois do sabat.
E se o adágio é verdadeiro, DEPOIS DE UMA TAÇA DE
VINHO a verdade vem à tona: a brincadeira, a graça, o menino e a flor. Os
amores também! Mas será que foi tudo um sonho, duvido muito.
Façamos agora uma viagem astral com O HOME DA
BICICLETA que procura um amor. A rondar pela cidade em seu veículo despoluidor,
nos ensina que a solidão assombra menos quando a enfrentamos cara-cara.
E por falar em desejo, O MEU DESEJO não é menos
natural que aquele do ser-Evaldo. Afinal não somos todos humanos? Não temos os
mesmos anseios? Tudo que vem da natureza é natural, meu caro.
Não poderia faltar um canto de ESPERANÇA, ou um
SONETO como queiram. Não poderia faltar uma homenagem ou uma menção apenas.
Deslumbrante. Cópia de si mesmo. Um poderoso encontro de Cysnes! Quisera eu
“patinho feio” participar, pari pasu,
desta confraria de gênios.
E prossegue em SONOLÊNCIA e DESARRUMO
praticamente na mesma ótica, em busca de um sonho compartilhado que se torna
real.
Mas deixem-me falar, finalmente, no SONETO XX
ainda inédito na plataforma que ancora esta obra evaldística.
Este poema que encerra não só o livro como
também a carreira erudita do autor bem que poderia ser um prólogo, mas preferiu
encerrar-se para cerrar este momento.
Deixando a forma para seguir uma nova norma,
abraça a lírica popularesca e encontra no cordel a sua essência, agora O SER EM
A-TITUDE!
Enfim, esta apresentação é a prova de como
podem os amigos e os poetas!
Este réquiem poético está para nós disponível
em http://pt.calameo.com/read/0025746111e9810fd7d3b,
para leitura e download.
Bon apetite.
Rau Ferreira
Comentários
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.