Antigamente
não havia bancos e as pessoas escondiam as suas riquezas com medo dos
bandoleiros que assolavam a região. O costume era encher uma botija – espécie
de moringa – com moedas de ouro e de prata e enterrá-las em um lugar a salvo
dos inimigos do alheio. A prática era seguida por fazendeiros e também pequeno
comerciante ocorre que passado algum tempo o proprietário morria e a família
muitas vezes desconhecia da existência daquele tesouro.
Lendas
e crendices populares giram em torno das riquezas enterradas na terra. Estórias
de almas, mal assombros e aparições fazem parte desta cultura. Todavia, existem
certas regras a serem seguidas: a pessoa que vai desenterrar deve ir sozinha e
não deve dizer nada a ninguém; aconselha-se traçar a estrela de Salomão sobre o
lugar para afastar os maus espíritos.
Lembro
com satisfação que minha avó materna falava de uma alma que lhe havia dado uma
botija. A indicação era uma casa antiga que pertenceu a uma fazendeira no Sítio
Cabeço. Ali, com exceção do telhado, portas e janelas, tudo era de pedra. Os
batentes eram enormes e havia um sótão onde os escravos dormiam. A “visagem”
teria dito que antes da botija encontraria um garfo e uma faca cruzados.
Ao
acordar do sonho ela contou tudo para o meu avô que decidiram se aventurar
juntos. No dia seguinte, por volta da meia noite, os dois se dirigiram ao local
e começara a cavar; vultos, sons estridentes e coisas do tipo foram ouvidas;
meu avô encontrou o primeiro sinal, mas ao retirarem o pote de barro tudo se
transformou em palha de milho bem verdinho.
José
Soares – o poeta repórter – chegou a fazer um cordel sobre este tema. Este
poeta popular relembra um fato semelhante ocorrido em Campina, onde um seu
vizinho sonhou com uma alma que lhe fez recomendação para desenterrar o
tesouro. Contudo, o homem contou a sua mulher e foram os dois juntos até o
lugar prescrito; ao iniciar as escavações, ouviu-se uma voz distante chamando o
seu nome e, ao virar-se para ver quem era o buraco logo se fechou e encontraram
apenas carvão e pedras. O assunto foi matéria do Jornal do Comércio em
22/05/1977.
Em
Esperança há notícias de botijas que foram retiradas de casas velhas e lojas
comerciais. Segundo a tradição, um homem estava fazendo uma reforma na sua
residência quando os pedreiros toparam com uma parece fofa; a marreta logo
descobriu uma superfície arredondada. Percebendo aquele inusitado objeto, o
proprietário haveria dispensado os trabalhadores no meio do dia e sozinho
retirado a panela com algumas moedas.
Há
o relato ainda que, onde funciona atualmente uma farmácia de manipulação, por
trás da igreja matriz, fora encontrada uma pequena peça de barro com algumas
moedas.
Rau
Ferreira
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