Quero falar agora de dois Silvinos que tiveram uma grande presença
em nosso torrão – Esperança.
O primeiro é poeta, ajudou-nos na emancipação e segundo os
críticos é o maior representante do Simbolysmo parahybano. O segundo mitificado
pelo ícone de Robim Hood compareceu várias vezes nestas plagas para “arrecadar”
dinheiro.
O que os une não é só a Esperança, mas a esperança de dias
venturosos. Há também um elo próprio denominado SILVINO.
Silvino Olavo da Costa dispensa qualquer apresentação. Seu nome é
constante em nossas publicações e conhecido dos nossos leitores. Manoel Batista
de Morais – cujo epíteto era Antônio Silvino – foi objeto de estudo quando da
plaqueta “A passagem de Antônio Silvino por Esperança” e que está ancorada no
IHGP (http://www.ihgp.net/rau_ferreira).
Não bastassem aquelas notas sobre hoje se nos abre mais uma página da história
esperancense.
Pois bem. Certa feita, SOL foi encarregado por seu pai – Manoel
Joaquim, um próspero Fazendeiro de Banabuyé – de entregar uma determinada
quantia “a fim de livrar das ameaças do
famigerado cangaceiro” que vociferava invadir a casa grande. Separou uma
pequena soma, fruto da venda de algumas cabeças de gado, e entregou ao garoto
mediante recomendação de ir correndo a tal lugar.
O menino atendeu prontamente a solicitação do seu genitor, tomando
rumo por entre os algodoeiros. Caminhou meia légua até se deparar com o
“Capitão” e seu bando: um homem alto, montado num cavalo e cercado de outros
igualmente armados; vestidos de couro e “rifle
pendente do arção”. O poeta fitou-lhe nos olhos e era um misto de espanto e
entusiasmo; aquele momento ficou gravado na sua retina enquanto o cangaceiro
estendia a mão para receber do pequenino um maço de réis.
Como é de nossa ciência, o Antônio respeitava moças e crianças e
não tolerava quem os fizesse algum mal. A figura daquele jovem franzino, alvo
como a areia representava a própria inocência.
Quantas lições o poeta não tirou daquele encontro, que ele próprio
considerou uma aventura? Talvez não por acaso escrevesse em SOLILÓQUIO DE UM
SUICÍDA: “Que tenebroso mal, é o da
existência! E os pobres homens estão sós no mundo!!!”.
Sujeitas as têmperas sazonais, a agricultura e os agricultores
sofrem alegremente a sua condição de homens e de seres. E se harmonizam. O
poema deslumbramento (in: Sombra Iluminada) retrata um pouco desse quadro
tenebroso que as secas provocam, mas também o amor do vate pela sua terra
natal.
Fora ao tempo do surgimento de Cysnes (1924), quando tomado de
tamanha nostalgia, em conversa com Pádua de Almeida, confessou Silvino (o
Olavo) aquela passagem de sua vida, concluindo que apesar de tudo estremecia de
felicidade, se ficasse eternamente ali, no seu sertão coroado de sol e algodão.
Com a voz embargada de saudade, recordava os parentes e a “solidão ingenuamente vigorosa das matarias”,
evocando “o panorama calmo do vilarejo em
que nasceu”. Naquela oportunidade, declarou acerca de sua tristeza:
“Ah! Meu amigo: foi a cidade
com sua irradiação perversa, os seus deslumbramentos venenosos, que m e fez a
alma tão desiludida das coisas” (Fon-Fon, Ano XVII, N° 29).
Quanto ao outro Silvino (o Antônio), rendido anos depois cumpriu
pena no Recife e veio residir em Campina. Faleceu na Campina Grande em 1944.
Rau Ferreira
Arção:
Peça de madeira que estrutura a sela em formato de T, e que serve para fixar a
montaria ou as cangalhas dos animais.
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