Há muito não recebíamos uma missiva tão agradável. Esta que
nos reportamos, é assinada pelo pseudônimo de ÍNDIO BANABUYÉ. Preferimos assim,
pois o notável autor além de escolher uma das figuras do nosso folclore e
prestar uma homenagem ao gentio bravo reserva-nos grandes surpresas com o seu
intelecto e conhecimento maravilhoso.
Escreve o tal silvícola que na época dos tropeiros a antiga
vila resumia-se a poucas casas na atual rua Manoel Rodrigues – “à época rua da
Matriz” – que era freqüentada por boiadeiros e caixeiros viajantes. As poucas
casas de ferragens, a exemplo da CASA SOUTO e CASA DELGADO misturavam secos e
molhados, sem distinguir-lhes a freguesia. A feira tinha lugar naquele centro,
que também sediava umas poucas casas de hospedaria. Pois bem.
Havia o costume naquele tempo das famílias fazerem suas
refeições sobre um couro de boi curtido. Não existia mesa, este móvel era um
artigo de luxo que a pequena povoação carecia já que aqui não havia engenhos ou
pessoas de maior posse.
O couro era estendido na sala e as pessoas almoçavam e
jantavam ali mesmo, depois era só “bater” e por para secar caso algum alimento
caísse por sobre o velho tapete.
Na rua do Sertão residia uma família que sempre fazia suas
refeições com fartura. Na mesma artéria, havia uma vizinha que “cubava” a hora
da refeição, sempre chegando no momento em que se punha o couro. Farta, saia
sem dar a menor satisfação.
Certa feita a senhora dona da casa inverteu os papeis. Pôs
todos os seus para se alimentarem e no final “bateu o couro”. Ouvindo aquele
barulho a matreira resolveu logo bater à porta dizendo:
- Boa tarde, comadre!
- Entre... fique à vontade, infelizmente já almoçamos mas
fiz questão de bater o couro pois tem muita panela para lavar e sei que a amiga
não fará a desfeita de nos acompanhar, já que tantas vezes conosco ceiou...
As pessoas ouvem o que lhe convém. Dito isto, a esperta
vizinha deu no pé e nunca mais voltou a dar o ar da graça, mesmo ouvindo tantas
vezes o som do couro batendo no chão de terra.
Coisas que o povo conta!
O Índio Banabuyé
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