A grandeza dos versos não
está em sua complexidade, com palavras de dicionário. Em minha opinião, a
genialidade se mostra em versos simples que dizem tudo em poucas palavras.
Assim é a poesia de João
Benedito. Senão vejamos:
“Menino,
nunca achei
Forte
que não destruísse
Peso
que não erguesse
Perigo
que não investisse
Cantador
nunca encontrei
Que
uma hora me resistisse”.
Nos versos atribuídos ao
repentista encontramos os temas: passado/presente (tempo); cantador/cantoria;
trabalho/natureza etc. que estão presentes em outras poesias.
A evocação “Menino” nos chama
a atenção para o fato de que o ouvinte ainda é NOVO, em contraposição ao
cantador que já seria um ANCIÃO. Na segunda estrofe temos o vocábulo FORTE, e
adiante QUE NÃO DESTRUISSE. Denota a capacidade para o labor, diga-se de
passagem, um trabalho braçal. Mas também a sua coragem, enfatizada na frase
PERIGO QUE NÃO INVESTISSE.
Quando o autor exclama
CANTADOR NUNCA ENCONTREI, explicita que já andou meio-mundo e que no repente
conheceu outros igualmente valorosos. Todavia, consoante confessa, nenhum fora
capaz de lhe resistir uma hora. É certo que no desafio não há vencedor nem
vencido, a arte é superior a essa condição. Apenas o ouvinte, por razões
meramente particulares, prefere um e não o outro cantador, porém gosto não se
discute.
João Benedito foi um dos
precursores da cantoria e deixou-nos um importante legado, que preservamos em
um livro cuja segunda edição está para vir a lime com uma série de versos
inéditos.
Rau Ferreira
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