Em 1985, residíamos na rua Antenor Navarro
praticamente em frente ao Bar da Fava de seu Joca Pimenta. E um pouco antes há
uma rua do qual não recordo o nome, sei apenas que a casa da esquina pertencia
a um senhor chamado Domingos.
Pois bem, nesta época essa rua não tinha
calçamento e somente existia, após a casa do senhor Domingos, outras 4 ou 5
casas. Daí para frente existia um grande charco que gradativamente foi sendo
aterrado para a construção de casas. Este charco tinha uma pequena lagoa e uma
extensa plantação de junco, usado na época para fazer colchões.
Quando não estava na escola ou na rua, estava
na lagoa pescando, roubando manga ou graviola, ou se divertindo num jogo de
bola na areia branca que contornava alguns trechos da margem do charco.
Mas, o que era motivo de alegria para a
garotada era na verdade motivo de preocupação para as mães, pois o charco tinha
uma quantidade impressionante de cobras. Era algo realmente incomum, ao ponto
de as vermos atravessarem o campo enquanto jogávamos. Lembro-me de uns três
casos de crianças levadas às pressas ao hospital para tomar sono contra picada
de cobra.
Porém, embora o risco fosse grande e as
surras constantes, não havia melhor lugar para se divertir do que a lagoa. O
local tinha uma biodiversidade alta de animais, garças, galinhas D’água,
Cobras, Rã, preás e peixes coloridos. Recordo-me de ver meu padrinho
acompanhado do padrinho do meu irmão, usando arma para caçar galinha d’água,
eles também usavam linhas de naylon para pescar rãs e “arapucas” para pegar
preás e às vezes ficavam com os “bizacos” cheios de caça.
Foi na lagoa que “comi corda” de um colega
metido a escoteiro e entendido de “serpentes” que e acabei “tirando onda” com
uma cascavel ao disputar com ela o resgate de uma rã. Fui salvo graças a um
caçador que passava por perto e me alertou sobre os riscos do animal evitando
que eu sofresse uma picada letal.
Um fato curioso daquela lagoa era quando
batia chuva forte, ela transbordava por uma rede de canos nas proximidades e a
água acabava saindo pelo sistema fluvial da rua Antenor Navarro. Quando isto
acontecia era uma festa para a garotada, pois havia uma quantidade grande de
peixes que escapava pela rua. Os “guarus” eram coloridos, uns azuis, outros
amarelos com vermelho, alguns pintados de preto outros eram totalmente pretos e
tinha ainda os “chupa-pedras” e raramente se topava até com filhotes de
tartaruguinhas d’água.
Gradualmente a área foi sendo depredada para
a construção civil, houve aterros e corte de arvores, muitas fruteiras foram
destruídas. O que mais me comoveu foi à derrubada do único pé de Araticum que
tinha por perto. Atualmente a velha lagoa se rendeu ao progresso e a depredação
e não passa de um esgoto sem vida e sem a rica fauna que um dia teve.
Por
Júlio César (*)
(*)
Cartunista e pesquisador, atualmente desenvolve um projeto que finalizará em
2014 com a publicação de um livro sobre o futebol paraibano.
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