Lembro-me quando criança que
esperávamos o ano inteiro a chegada deste momento. Nossas economias eram
destinadas a uma roupa nova que inaugurávamos na Matriz, pois era assim que as
famílias faziam naquele tempo.
A toda hora chegavam visitantes
na cidade. Esperancenses que residiam fora e aproveitavam a festa para rever a
sua terra natal. O comércio se aquecia e não faltava trabalho.
Na igreja matriz o que já era
lindo ficava agora deslumbrante. Todos os pilares eram enfeitados, os santos
ganhavam uma pintura nova, além de adereços e flores.
Nas missas os cânticos entoavam
com mais alegria e vigor; dona Júlia se esforçava na Serafina para tirar as
notas enquanto que o coral, no alto do primeiro piso, ressoava sons angelicais.
Havia uma áurea de encantamento no ar durante a celebração e os ouvidos se
faziam atentos para a homilia.
As noites eram dedicadas às
famílias, aos motoristas, comerciantes, casais etc. e contava com a
participação popular. As comunidades rurais registravam a sua presença,
trazendo cada uma a sua oferenda. O encerramento de cada noitário se dava sob a
invocação da senhora mater
boni consilli.
Terminada a missa as famílias se
dirigiam ao pavilhão paroquial. Comidas eram preparadas pelas senhoras da
sociedade, bolos, tortas e pastéis. Mas a disputa se dava pelo prato principal,
que era arrematado por uma boa quantia em prol dos trabalhos da igreja.
O pavilhão ficava na Manuel
Rodrigues e tomava quase toda a rua. As garçonetes eram as mais lindas da
cidade e serviam com dedicação. Músicas eram oferecidas em clima de paquera. E
nas laterais, as pessoas se acotovelavam para realizarem o seu passeio na
calçada.
O pastoril era um acontecimento a
parte. As lindas jovens defendiam os seus cordões, cantando e encantando a
platéia que alfinetava nas bandeirolas encarnada ou azul as suas contribuições.
Uma multidão se aglomerava nas
ruas iluminadas pelos parques de diversão. Os namorados preferiam a
roda-gigante, enquanto que as crianças passeavam no carrossel. Homens apostavam
na roleta, moços jogavam argolas na esperança de ganharem um bicho de pelúcia
para suas amadas. Os mais afoitos, procuravam acertar a marca com espingardas
de setas.
O lanche era o saboroso
cachorro-quente de seu Olívio Damião, com o refrigerante crush. Mas para quem não
dispunha de recursos havia o famoso “pão com graxa” e ki-suco próximo a
balaustrada.
Um tempo lúdico de alegria e
contentamento que pode ser revivido todo ano na festa de nossa padroeira. Mudam
os costumes, o jeito de se vestir... “Canoas” são substituídas por “barcas” e
podem até oferecer outros desafios. Mas o amor da Virgem do Bom Conselho
permanece o mesmo, e acolhe a todos os visitantes com seu amor maternal.
Rau Ferreira
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