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Sol: às voltas com um doido

O texto do jornal do Comércio do Recife – Às voltas com um doido – de autoria de João Dantas e, publicado em 07 de julho de 1930, a meu ver, não faz só referências ao antigo Presidente da Parahyba, Dr. João Pessoa Calvancanti, como também ao seu ilustre Chefe de Gabinete, o poeta Silvino Olavo. Com efeito, acometido de surtos esquizofrênicos, o vate foi internado algumas vezes durante a campanha que antecedeu a Revolução de ’30.
Silvino foi o grande defensor dos ideais pessoenses. Combateu em longos discursos o nefasto imposto sobre o comércio que tanto prejudicou a Parahyba, contextualizando “A questão dos impostos parahybanos” no jornal A Província, de Pernambuco (junho de 1929).
Como também nos discursos que fez no Teatro Santa Roza, citado pela imprensa local (A União: 04/09/1929), e nos comícios de Santa Rita e Barreiras, aclamando as candidaturas de Getúlio Vargas e João Pessoa, candidatos pela Aliança Liberal à Presidência da República (A União: 15/09/1929).
Na carta do bacharel sertanista, há um trecho que diz “meu palhaço”. Coincidência ou não, este é o título da célebre poesia de SOL publicada em seu primeiro livro (Cysnes: 1924).
Não obstante, a presença do vate nos sarais literários, em companhia de Anayde Beiris, luzia em sua mente atormentada conflitos nunca antes imaginados. Não fosse isso, a amizade de João Suassuna, que por essa época politicamente era inimigo de João Pessoa, colocava Olavo em situação deveras incômoda, diante dos rompantes emocionais do governante da Parahyba. É que Silvino dedicara um de seus poemas a Suassuna, e nos veraneios na Praia Formosa, declamava-o em homenagem ao anfitrião, a quem chamava de “meu proeminente amigo”.
Ainda que não estivesse envolvido diretamente com os fatos que deram causa aquele momento conturbado da nossa história, não podemos dizer que fosse do seu inteiro desconhecimento. Com razão, escrevera “As razões do nego parahybano”, que foram publicadas pela imprensa carioca, e que podemos dizer, foi a primeira menção que se faz ao NEGO da Parahyba, com exceção daquele grito que foi proclamado pelo próprio João Pessoa.
Essas são as nossas conclusões, salvo melhor juízo.


Rau Ferreira

Comentários

  1. É, originalmente, um ilustrativo e belo texto, meu caro Rau! Parebéns!

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